O álbum “Rust in Peace” completa 3 décadas nesta quinta-feira, 24 de setembro de 2020. Lançado num ano repleto de ótimos discos de rock pesado, o álbum é considerado a obra-prima do Megadeth e um dos melhores da história do heavy metal.

“Rust in Peace” também marca a consolidação definitiva do Megadeth como banda grande do thrash metal ao lado de Metallica, Slayer e Anthrax, além de representar o primeiro álbum com a formação clássica da banda.

A partir do disco, que é o quarto da carreira do Megadeth, o guitarrista Marty Friedman e o saudoso baterista Nick Menza, que morreu em 2016, juntaram-se ao líder, vocalista e guitarrista Dave Mustaine e a seu fiel escudeiro, o baixista David Ellefson.

Tal formação foi fundamental para que o Megadeth atingisse seu ponto máximo na carreira até então e ampliasse como nunca seu sucesso. Ela ainda gravaria mais três grande álbuns: “Countdown to Extinction” (1992), “Youthanasia” (1994) e “Cryptic Writings” (1997), mas “Rust in Peace” jamais foi superado em importância.

Contexto

A despeito de marcar seu território no thrash metal com três bons álbuns (“Killing Is My Business… and Business Is Good!”, “Peace Sells… but Who’s Buying?” e “So Far, So Good… So What!”), o Megadeth ainda não tinha aquele disco completo e regular até “Rust in Peace”. Os álbuns anteriores foram importantes, mas não tinham o tamanho de um “Master of Puppets”, do Metallica, ou de um “Reign in Blood”, do Slayer. Nem mesmo o clássico “Among the Living”, do Anthrax, possuía um rival à altura feito pelo Megadeth.

Algumas das justificativas dadas na época pela cena do thrash metal era a inconstância na formação do Megadeth desde que foi criado e a personalidade complicada do líder Dave Mustaine. Esta mesma personalidade e alguns excessos com o álcool já haviam sido fundamentais para ele ter sido chutado do Metallica anos antes.

Esse detalhe também era importante, já que, por mais que os três primeiros discos do Megadeth fossem considerados bons, eles ainda não haviam sido uma “resposta” ou uma “vingança” em relação ao Metallica. Com “Rust in Peace”, o grupo de Mustaine finalmente peitou a banda precursora do thrash metal.

Vale dizer que as entradas de Friedman e Menza não foram algo planejado imediatamente, já que o primeiro não era a primeira opção para substituir o guitarrista do disco anterior, Jeff Young. Para a substituição, fizeram testes, por exemplo, nada menos que Jeff Waters, mago das guitarras do Annihilator, e Dimebag Darrell, do Pantera, que era o preferido de Mustaine, mas que não integrou o Megadeth porque não queria se separar musicalmente do irmão, o baterista Vinnie Paul.

Enquanto Nick Menza foi uma escolha vinda de dentro do Megadeth (já que ele era roadie de Chuck Behler, o baterista do disco anterior), Friedman foi escolhido após Mustaine esgotar as opções anteriores. O vocalista tinha uma ideia inicial negativa do guitarrista por causa de seu visual, mas mudou completamente de ideia quando ouviu seu material.

Competição importante

Outro detalhe da época que traz um tempero importante para o sucesso do “Rust in Peace” é o nível elevado daquele período em qualidade entre as bandas de thrash metal.  Após o Metallica lançar, ainda em 1988, o complexo e excelente “…And Justice For All”, as bandas de thrash seguiram a tendência que trazia canções mais longas do que o habitual do estilo, variações de andamento, viradas repentinas e inesperadas de ritmo, além de riffs diversos e distintos dentro de uma mesma faixa.

Depois do sucesso de vendas do “…Justice”, o início dos Anos 1990 trouxe o Death Angel com o ótimo e complexo “Act III” e as bandas do aclamado Big Four (que traz, além do Metallica, o Slayer, o Megadeth e o Anthrax) numa linha parecida.

O fã de thrash metal se esbaldou em 1990 com uma série de grandes discos a partir do segundo semestre daquele ano. O Anthrax lançou o “Persistence of Time” em agosto, o Megadeth trouxe o “Rust in Peace” em setembro e o Slayer lançaria ainda o indispensável álbum “Seasons in the Abyss” em outubro.

Como este Roque Reverso já destacou nas resenhas dos discos da época, parecia existir uma espécie de competição entre os grupos com discos cada vez mais elaborados. No final, ela foi muito saudável para o estilo e gerou pérolas do heavy metal.

Capa

A capa de “Rust in Peace” chama demais a atenção, num momento em que capas de álbuns eram fundamentais para despertar o interesse do público nas diversas lojas do ramo. Feita por Ed Repka, ela traz o mascote do Megadeth, Vic Rattlehead, sobre um cápsula com um extraterrestre dentro, sendo observado por grandes líderes mundiais da época, quando o mundo ainda enfrentava a Guerra Fria e temia um ataque nuclear promovido por Estados Unidos ou pela então União Soviética.

Na mesma capa, observam Vic Rattlehead, da esquerda para a direita, o primeiro-ministro britânico John Major; o primeiro-ministro japonês Toshiki Kaifu; o presidente da então Alemanha Ocidental, Richard von Weizsäcker; o presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev; e o presidente dos Estados Unidos, George Bush, pai de George W. Bush, que também seria presidente norte-americano anos depois.

Abertura ultra pesada

Qualquer mortal que abriu em 1990 o vinil, a fita cassete ou o CD de “Rust in Peace” para escutar a faixa de abertura, sem a menor dúvida, não conseguiu ficar indiferente. Num dos maiores petardos da história do heavy metal, “Holy Wars… The Punishment Due” é aquele arrasa-quarteirão que gera reação ao mais frio dos fãs.

Pesadíssima, com variações diversas e riffs sensacionais, além de uma letra que coloca o dedo na ferida das guerras religiosas, ela é, para muitos, a melhor e mais importante música da história do Megadeth. Não por acaso, foi escolhida como single e ganhou clipe dos mais clássicos da história da música pesada.

É impossível já nesta faixa não notar um Megadeth mais maduro, coeso e musicalmente melhor do que os três álbuns anteriores. A constatação era de que a banda definitivamente entrava para a lista das maiores do thrash metal e, principalmente, pelo menos para Mustaine, peitava o Metallica.

A segunda faixa mantém a qualidade, mas traz também o detalhe da melodia ainda mais elaborada. “Hangar 18”, que virou single e também ganhou clipe bem feito, traz um Marty Friedman inspirado na guitarra, num dueto magistral com Mustaine. A letra toca num ponto polêmico dos Estados Unidos: as clássicas teorias sobre extraterrestres da famosa Área 51.

Eis que, na terceira faixa, o Megadeth consegue aumentar o peso com a abertura avassaladora de “Take No Prisoners”. É daquelas faixas que o fã, se não tomar cuidado, pode deslocar o pescoço de tanto bater cabeça. E, convenhamos, é inevitável. Quem já foi a um show do Megadeth e ouviu essa música ao vivo sabe muito bem disso.

“Five Magics” fecha o então Lado A. Traz um pouco menos de peso, mais melodia que a faixa anterior e um belo entrosamento entre David Ellefson e Nick Menza, completados pelas guitarras trabalhadíssimas de Mustaine e Friedman.

Lado B

O Lado B começa com duas faixas não tão gigantes quanto às do Lado A, mas que não atrapalham de jeito algum o álbum. “Poison Was the Cure” e “Lucretia” trazem jeitões diferentes, a primeira numa velocidade clássica do thrash e a segunda com uma variação bastante interessante e bem construída, além de certa dose de melodia.

Mas aí vem nada menos que “Tornado Of Souls”, que é uma obra-prima do thrash metal. Com a banda toda inspiradíssima, com destaque especial para Marty Friedman e seu solo fenomenal, ela é uma das preferidas dos fãs do Megadeth e raramente não marca presença nos shows – por sinal, parece ficar ainda melhor ao vivo.

“Dawn Patrol” tem como marca o baixo de Ellefson, mas é a menos impactante do disco, mais parecendo apropriada para vinhetas ou aberturas durante os shows de tão curta.

“Rust In Peace….Polaris” fecha o brilhante disco e volta a elevar o nível. Completa, ela traz entrosamento, qualidade dos músicos e letra marcante sobre a guerra nuclear.

No caso do Brasil, o álbum “Rust in Peace” ainda traz um capítulo à parte, já que foi na turnê dele que o Megadeth pisou no País pela primeira vez, no histórico Rock in Rio de 1991.

Desde que veio nessa primeira vez, o grupo liderado por Mustaine voltou ao solo nacional nada menos que 15 vezes.

Retornou em 1994, quando fez turnê própria; em 1995, quando tocou no segundo Monsters of Rock; em 1997, quando se apresentou no Estádio do Palmeiras, no Aniversário da 89FM; em 1998, quando tocou no quarto Monsters of Rock; e, em 2005 e 2008, quando voltou novamente em turnê própria.

Depois disso, o Megadeth passou pelo País em 2010, justamente para o  show de comemoração de 20 anos  álbum “Rust in Peace”. Também retornou em 2011, quando se apresentou no SWU Festival Music & Artsem abril de 2012, quando esteve no lamentável Metal Open Air e fez um show curto por causa da série de problemas do festival no Maranhão; e, em setembro do mesmo ano, quando trouxe a São Paulo o show de comemoração de 20 anos do álbum “Countdown To Extinction”.

Em 2013, a banda abriu as apresentações inesquecíveis do Black Sabbath no País. Em São Paulo, fez um show competente e na medida certa no Campo de Marte. Em 2014, tocou no Espaço das Américas, numa apresentação recheada de clássicos.

As mais recentes passagens do Megadeth pelo Brasil foram em 2016, quando o grupo trouxe a turnê do ótimo álbum “Dystopia” , e, em 2017, em mais uma passagem com show da mesma turnê.

Nota-se, portanto, que além de fazer um bem para todo o heavy metal, o álbum “Rust in Peace” foi importantíssimo para colocar o Megadeth na rota do Brasil.

Clássico álbum, o quarto do Megadeth é indispensável para qualquer fã de heavy metal.

Para homenagear os 30 anos do grande disco de thrash metal, o Roque Reverso descolou clipes e vídeos no YouTube. Fique inicialmente com os clássicos clipes de “Holy Wars… The Punishment Due” e de “Hangar 18”. Na sequência, fique com vídeos ao vivo do grupo executando “Take No Prisoners” em 1990, em Michigan; “Tornado Of Souls”, em Londres, em 1992; e “Lucretia”, em 1992, na Itália. Se quiser ouvir o disco na íntegra, siga para o último vídeo.

30 anos do ‘Rust in Peace’, obra-prima do Megadeth e primeiro álbum com a formação clássica