A trajetória do Alice In Chains é indissociável da tragédia pessoal de Layne Staley. Nascida das cinzas de um projeto metal farofa iniciado por Staley com amigos de adolescência, aos poucos a banda foi se despindo dos grooves e da jovialidade de suas influências hard rock (Aerosmith, Guns, Van Halen) para se tornar naquilo que ouvimos claramente nos dois últimos álbuns gravados com Staley nos vocais (“Dirt” e “Alice In Chains”, o disco do cão perneta) — um poço de negatividade, lentamente se rastejando ao som das assombrosas melodias de Staley, do lamento de tempero sulista de Jerry Cantrell e das sempre punitivas e graves marcações de Sean Kinney.
A escalada de drogas, tensão interna e aversão ao estrelato reverberaria na produção criativa da banda. Também seria decisiva na gradual paralisação das atividades do Alice In Chains como banda.
Após terem alcançado por duas vezes o topo da Billboard com o EP “Jar Of Flies” e o álbum homônimo, o grupo aos poucos ganhava ares de dinossauros do rock. Gravaram o inevitável acústico para a MTV em 1996, enquanto pelos próximos seis anos o nome da banda só apareceria no noticiário por conta de coletâneas, ou pior ainda, por tabela, com esparsos projetos paralelos e rumores sobre o estado de saúde do vocalista. O fim parecia apenas questão de tempo.
O mesmo pode ser dito sobre a vida de Layne Staley. Um homem que escolheu a morte. É o que se pode dizer de alguém que consumiu heroína e crack continuamente por dez anos.
O Alice in Chains fez grande show em São Paulo no dia 26 de setembro no Espaço das Américas. Para um público que não lotou, mas tomou boa parte da casa em plena noite de quinta-feira, a banda norte-americana de Seattle fez uma apresentação impecável, superando a que havia realizado na semana anterior no Rock in Rio.
O fato de o grupo ter um palco só para ele, sem as imposições e limitações de horários de um festival, foi decisivo para que o show de São Paulo fosse melhor e bem mais longo do que o do Rio. Enquanto, na capital fluminense, o Alice in Chains tocou durante cerca de 1 hora, na capital paulista, a apresentação teve meia hora a mais.
Destaque, além da tradicional qualidade da banda, para o excelente som que podia ser ouvido no Espaço das Américas. Se, no passado, a casa sofria uma série de críticas por ser um galpão que se transformou num espaço para shows, agora, o local tem uma disposição de palco bem interessante e o som pode ser escutado nitidamente em praticamente todos os locais da casa.
O público paulistano torcia há tempos para um retorno da banda à cidade, fato que não acontecia desde o Hollywood Rock de 1993, quando o então vocalista Layne Staley ainda estava vivo. O grupo até chegou a tocar no Estado de São Paulo, em 2011, em Paulinia, no SWU Festival, mas não era a mesma coisa de estar na capital, local recheado de fãs do Alice in Chains.
Pontualmente às 21h30, a banda subiu ao palco para delírio dos presentes e até surpresa de alguns, como este jornalista, que estava na fila da cerveja. Correria à parte para ver a entrada do grupo, o show começou com a dobradinha tradicional nas apresentações recentes do Alice in Chains: “Them Bones” e “Dam That River”, ambas pertencentes ao álbum “Dirt”, de 1992, e tocadas tanto na abertura dos shows do SWU como do Rock in Rio.
As seis primeiras músicas em São Paulo, por sinal, seguiram sequência idêntica à verificada no festival carioca. “Hollow”, do álbum novo “The Devil Put Dinosaurs Here”, lançado no fim de maio deste ano, mostrou que o público estava antenado com o lançamento, já que várias pessoas cantaram com se já conhecessem a faixa há um bom tempo.
O mesmo pôde ser visto em “Check My Brain”, do álbum “Black Gives Way to Blue”, de 2009, quando o vocalista atual William DuVall, estreou na volta da banda após o período de ostracismo. Com todos esses anos de estrada, não resta mais dúvida que ele possui as qualidades necessárias para assumir o posto do finado Layne Staley.
Com estilo próprio e grande personalidade DuVall é tudo aquilo que o Alice in Chains precisava para se reerguer e continuar na ativa por muito tempo. O guitarrista Jerry Cantrell continua sendo o coração e a mente da banda e, relembrando os bons tempos com Staley, faz a dupla de vocais com DuVall com extrema maestria, uma marca do grupo que continua intacta, para alegria dos fãs de carteirinha.
Após a execução de “Check My Brain”, o vocalista saudou o público, comemorou o fato de estar em São Paulo e emendou dois grandes sucessos do Alice in Chains: “Again”, do álbum “Alice in Chains”, de 1995, e o megaclássico “Man in the Box”, do primeiro álbum “Facelift”, de 1990.
Nesta última especialmente, é claro que o show teve seu maior momento de êxtase, com o Espaço das Américas tremendo e o público pulando e cantando a plenos pulmões. Na bateria, Sean Kinney prestava sua homenagem não apenas a Staley como também ao antigo baixista Mike Starr, que morreu em 2011. Nos bumbos, as iniciais LSMS lembravam esses dois ex-componentes do grupo.
Na sequência, mais duas músicas do “Black Gives Way to Blue”: “Your Decision” e “Last of My Kind”, que mantiveram o público vidrado. “Stone”, do novo álbum, e “No Excuses”, do EP “Jar of Flies”, de 1994, vieram na sequência, mostrando que o set list seria bem mais extenso do que o do Rock in Rio e alimentando esperanças de que mais coisas boas estavam por vir.
A sensação foi confirmada quando o Alice in Chains trouxe nada menos que “It Ain’t Like That”, uma das faixas mais pesadas do grupo e que também não havia sido executada no Rock in Rio. Quem é fã das antigas da banda, sabe a importância desta canção do primeiro disco e vibrou muito com mais aquele momento espetacular do grande show, que teria ainda outro clássico (“We Die Young”) para manter a nostalgia em alta.
Para surpresa de muitos, duas músicas que não haviam sido tocadas tanto no SWU como no Rock in Rio levaram os fãs mais dedicados ao êxtase: “Sludge Factory” e “Grind”, do disco “Alice in Chains”, mostraram o quanto quem estava no Espaço das Américas era um privilegiado.
A última música da primeira parte do set list foi simplesmente “Nutshell”, do EP “Jar of Flies”. Foi, mantendo já uma tradição, a música de homenagem a Layne Staley e Mike Starr, com a banda colocando camisas da Seleção Brasileira, com o nome dos dois nas costas, penduradas nos cantos do palco.
Ovacionado, o grupo deixou o palco e fez com que o público gritasse seu nome até que o retorno fosse confirmado. Em mais um momento de grande simpatia, o Alice in Chains voltou trajando a camisa canarinho. Com exceção do baixista Mike Inez, todos os outros três integrantes vestiram o símbolo nacional e foram bastante aplaudidos pelo gesto.
Na sequência, o bis continuou com duas grandes músicas do álbum “Dirt”: “Would?” e “Rooster”, em linha com o que aconteceu no Rock in Rio. Acabava assim um dos maiores shows de 2013 em São Paulo.
Os músicos saudaram o público, distribuíram uma penca de palhetas para quem estava na Pista Vip e mostraram que estavam satisfeitos com a receptividade paulistana.
Os fãs ainda tentaram pedir mais uma, mas, sem sucesso, foram embora cientes que haviam visto uma grande apresentação. Com uma postura extremamente profissional e esbanjando competência, o Alice in Chains finalmente voltou a São Paulo para mostrar que ainda tem anos de estrada a oferecer, sem parecer uma banda caça-níquel.
Para relembrar o excelente show do Alice in Chains no Espaço das Américas, o Roque Reverso descolou vídeos no YouTube. Fique inicialmente com “Them Bones” e “Check my Brain”. Depois, assista aos vídeos de “Man in the Box” e “It Ain’t Like That”. Para fechar, no mesmo vídeo, “Would?” e “Rooster”.
Set list
Them Bones
Dam That River
Hollow
Check My Brain
Again
Man in the Box
Your Decision
Last of My Kind
Stone
No Excuses
It Ain’t Like That
We Die Young
Sludge Factory
Grind
Nutshell
Era um dos momentos mais esperados no SWU 2011 e o resultado final foi dos mais animadores. Depois de quase 20 anos, o Alice in Chains voltou ao Brasil para se apresentar no festival de Paulínia e realizou simplesmente um dos maiores shows do ano no País. Sob o comando do excelente guitarrista, Jerry Cantrell, e do vocalista atual, William DuVall, o grupo de Seattle emocionou fãs da antiga numa apresentação de peso e qualidade, recheada de grandes sucessos que fincaram o nome da banda entre as maiores dos anos 90.
Personagem irritante do SWU em 2011, a chuva não deu trégua ao show do Alice in Chains. Talvez, ao lado da apresentação do Stone Temple Pilots, foi o momento em que o público mais sofreu com a água, que insistia em cair na cidade do interior paulista. Para a banda, entretanto, nada mais familiar, já que Seattle tem a fama de ser uma das cidades mais chuvosas dos Estados Unidos.
Além da própria ansiedade em relação ao retorno do Alice in Chains ao País, havia muita expectativa em torno da performance de William DuVall. A despeito das críticas positivas vindas da imprensa internacional, o público brasileiro queria ver a prova de que ele seria capaz de, ao vivo, substituir à altura o talentoso Layne Staley, morto em 2002. Com um timbre de voz não idêntico, mas até parecido em algumas passagens com o de Staley, DuVall recebeu aprovação dos brasileiros, que puderam ver novamente os vocais dobrados (com Cantrell), uma das marcas mais valiosas da banda norte-americana.
O grupo começou arrepiando com um dos seus maiores sucessos, “Them Bones”, seguida por “Dam That River” e “Rain When I Die”, ambas também, assim como a primeira música tocada, pertencentes ao álbum “Dirt”, de 1992. Vidrado no show, o público era um delírio só e não foram poucas as pessoas que se emocionaram demais de ver a banda novamente. De meninas a marmanjos barbados, não foi uma, mas várias vezes que este jornalista presenciou gente chorando de alegria.
Aos gritos do público de “Alice in Chains”, DuVall cumprimentou os fãs em simpático português. “Tudo bem?”, disse, para depois complementar: “Estamos muito felizes de estar aqui! Finalmente!”
A plateia delirou e, na sequência, pulou demais quando a banda começou a tocar “Again”, do álbum “Alice in Chains”, de 1995. Com um riff pesado e um som forte, a música chegava com imensa qualidade aos ouvidos de quem estava na pista. Importante ressaltar que, além de DuVall e Cantrell, os outros membros do grupo, Mike Inez (baixo) e Sean Kinney (bateria), garantiam, sem reparações, o bom show.
Os vocais dobrados de DuVall e Cantrell eram um show à parte. Depois de quatro músicas antigas, era a vez da fase mais recente, que marca o novo vocalista como titular. E nada melhor que o maior hit dela para animar a festa. Com DuVall agora também na guitarra, o grupo trouxe, com perfeição, “Check My Brain”, do álbum “Black Gives Way to Blue”, de 2009.
Com a plateia ganha, o Alice in Chains emendou “It Ain’t Like That” do primeiro álbum “Facelift”, de 1990. Aí foi a vez deste jornalista que vos escreve vibrar muito e realizar um sonho, pois foi com esta música que ele conheceu o grupo, na era pré-internet, nos tempos de “Som Pop”, da TV Cultura, quando o grande Kid Vinil trazia as novidades de fora para a galera assistir e ouvir.
Ao final do grande som, Jerry Cantrell foi ao microfone, agradeceu ao público pela presença e apresentou os integrantes da banda. O público aplaudiu em todas as vezes, mas, quando o guitarrista se apresentou, teve uma recepção muito mais calorosa, numa demonstração de que os fãs reconhecem sua importância para a história do Alice in Chains e os percalços que ele foi obrigado a enfrentar para o grupo estar ainda na ativa.
O mesmo Cantrell continuou no comando do microfone com a lenta “Your Decision”, do álbum mais recente da banda. Depois, emendou outra mais tranquila: “Got me Wrong”, do EP “Sap”, de 1992. DuVall, por sua vez, fazia não somente um backing vocal de primeira como também dava até maior peso às músicas com a sua guitarra. Vale destacar os ótimos efeitos do telão que ficava atrás da banda, que, nesta música, trazia imagens de nuvens no céu em ritmo acelerado.
O público ameaçou dar uma esfriada neste momento do show, mas o Alice in Chains tinha um antídoto para isso: mais hits. E foi com seu primeiro clássico que continuou a apresentação. Com DuVall agora somente nos vocais, a banda trouxe “We Die Young”, do álbum de estreia, que fez a galera novamente pular.
Depois de executar “Last of My Kind”, também do álbum mais recente, foi a vez do grupo emocionar de vez os fãs. Agora com DuVall no violão, a triste “Down in a Hole”, do “Dirt”, fez muita gente chorar e lembrar muito de Layne Staley.
Não bastasse toda emoção e os gritos de “Alice in Chains”, Cantrell começou os primeiros acordes da música seguinte dizendo que “aquele era um novo dia”, mas que não se esqueceriam de onde vieram. “Esta é para o Layne e para o Mike”, disse, apresentando “Nutshell”, do EP “Jar of Flies”, de 1994, e lembrando, além do antigo vocalista, do baixista original do grupo Mike Starr, morto em 2011. Após um grande solo, o guitarrista afirmou ao final da canção que o grupo voltaria muito em breve para o Brasil!
Após a sequência de momentos emocionantes, a banda trouxe mais uma do álbum recente “Black Gives Way to Blue”. “Acid Bubble”, na verdade, serviu para o público se preparar para o que viria logo em seguida: uma avalanche de grandes hits dos anos 90.
A lista começou com a ótima “Angry Chair”, do “Dirt”. Depois de DuVall perguntar se o público estava cansado e, claro, receber a resposta negativa, o grupo executou a música com maestria. E um dos destaques, mais uma vez, foi o efeito bem bacana do telão.
Nem bem terminou “Angry Chair” e o Alice in Chains aproveitou as batidas finais da música para emendar seu maior sucesso: “Man in The Box”, do “Facelift”. Foi então que o SWU presenciou um dos maiores envolvimentos do público dentre todos os shows apresentados. A galera presente cantou letra por letra da canção, pulou e se emocionou mais uma vez por estar assistindo a um grande momento do rock aqui no Brasil.
Visivelmente empolgado, DuVall interagiu com a plateia e, novamente em português, disse: “Alice in Chains ama o Brasil.”
Na sequência, o grupo trouxe “Rooster”, do “Dirt”, com mais efeitos no telão, letra forte sobre as experiências vividas pelo pai de Cantrell na Guerra do Vietnã e a palavra “Paz”, em inglês, ao fundo do palco.
O guitarrista disse que havia mais músicas para tocar e emendou “No Excuses”, do “Jar of Flies”. Depois, após DuVall agradecer o público por ficar na chuva, o grupo fechou o show com nada menos que “Would?”, novamente do “Dirt”, que foi o álbum mais prestigiado da noite. Com show particular da cozinha formada por Mike Inez e Sean Kinney, os fãs ficaram novamente muito empolgados e satisfeitos com grande apresentação dos norte-americanos.
Após 1h30 de show, o público tinha uma certeza: que havia valido cada gota d’ água da chuva tomada naquele show para assistir ao Alice in Chains. É espantoso que o grupo não tenha sido convidado para vir ao Brasil antes em outras oportunidades após sua retomada.
Resta agora a torcida para que as empresas promotoras se toquem que é bastante viável a realização de mais apresentações da banda por aqui. Seria muito interessante ver o Alice in Chains tocando, por exemplo, numa casa de shows de São Paulo. Com o baita som que foi visto ao ar livre no SWU, dificilmente o grupo não faria uma apresentação memorável num local fechado.
Para relembrar os grandes momentos do Alice in Chains, o Roque Reverso descolou vídeos no YouTube. Começamos com “Again”. Na sequência, fique com um vídeo que traz “Check My Brain” e outro filmado do telão com “It Ain’t Like That”. Depois temos um vídeo que junta “Angry Chair” e “Man in The Box”. Na sequência, há outro com a música “Would?”. Se preferir ver o show na íntegra e sem cortes, siga para o último vídeo selecionado.
Set list
Them Bones
Dam That River
Rain When I Die
Again
Check My Brain
It Ain’t Like That
Your Decision
Got me Wrong
We Die Young
Last of my Kind
Down in a Hole
Nutshell
Acid Bubble
Angry Chair
Man in the Box
Rooster
No Excuses
Would?