Megadeth em SP - Foto: Reprodução do YouTubeNa sua 15ª vinda ao Brasil, o Megadeth fez uma grande apresentação na terça-feira, 31 de outubro, na capital paulista. Com um set list escolhido a dedo para o fã do bom e velho thrash metal, a banda norte-americana trouxe faixas de boa parte da carreira e esbanjou categoria no Espaço das Américas.

Pouco mais de um ano após ter tocado exatamente no mesmo local no inicio da turnê do ótimo álbum “Dystopia”, o Megadeth trouxe mais um show da mesma turnê.

Desta vez, optou pela execução de menos músicas do disco de 2016 e trouxe um set list recheado de clássicos.

No ano anterior, quando o Espaço das Américas ficou completamente lotado para ver a primeira vez do guitarrista brasileiro Kiko Loureiro, em sua terra natal e numa das maiores bandas de thrash metal da história, o Roque Reverso considerou que aquela apresentação só perdeu em solo nacional para as da fase que contou com a formação clássica da banda (Dave Mustaine-David Ellefson-Marty Friedman-Nick Menza) e para o show de comemoração de 20 anos do “Rust in Peace” no Credicard Hall, com a formação Mustaine-Ellefson-Chris Broderick-Shawn Drover.

Em 2017, no 13º show do Megadeth em terras paulistas (o 12º na capital), a percepção foi também de algo marcante para os fãs. A apresentação contou com 5 músicas a menos que a do ano anterior, quando foram tocadas 21. Entre as canções retiradas do set list, a maioria foi de faixas do novo disco, o que pode ter deixado quem queria ouvir coisas do “Dystopia” ao vivo um pouco frustrado. Este mesmo fã, contudo, teve à disposição praticamente tudo de melhor que a banda já produziu em mais de 3 décadas de existência.

A abertura da apresentação do Megadeth foi feita pela banda norte-americana Vimic. O grupo do ex-baterista do Slipknot Joey Jordison conseguiu empolgar alguns, mas também chegou a provocar reações contrárias, já que a reportagem viu muito fã do conjunto musical principal da noite implorando pelo fim da apresentação do grupo do ex-mascarado de Iowa. Gostos musicais à parte, serviu, no mínimo, como um bom aperitivo para a banda de thrash metal californiana.

O show

A apresentação do Megadeth começou praticamente no horário marcado das 22 horas. Com o cenário idêntico ao das mais recentes vindas à capital paulista, a banda subiu ao palco com grande energia e disposta a tirar o fôlego dos fãs.

A primeira da noite foi a tradicionalíssima “Hangar 18”, do clássico e melhor disco do grupo, “Rust in Peace”, de 1990. Liderados pelo eterno líder, vocalista e guitarrista Dave Mustaine, os músicos trouxeram uma sequência incrível para quem gosta de toda a carreira da banda.

“The Threat Is Real” veio na sequência e representou o álbum mais recente, com o público já bem familiarizado com o novo som. Pelo lado da banda, além de Mustaine e Loureiro, o fiel baixista escudeiro David Ellefson e o ótimo baterista Dirk Verbeuren mostravam um entrosamento cada vez mais claro, dando a certeza aos fãs de que a formação atual é capaz de fornecer muita coisa de qualidade nos próximo anos.

Após a música do disco da turnê, o Megadeth engatou uma sequência inacreditavelmente empolgante. O bate cabeça foi inevitável em “Wake Up Dead”, uma das músicas mais com cara de thrash metal da história desta vertente pesada do rock, assim como a nostalgia foi imediata na sempre ótima “In My Darkest Hour”, que fez o Espaço das Américas inteiro cantar junto.

“Trust” veio em seguida e manteve a empolgação, que continuou na arrasa-quarteirão “Take No Prisoners”, que não era tocada em solo paulista desde 2010, quando o grupo executou o “Rust in Peace” na íntegra. Também um dos maiores petardos do Megadeth na carreira, a faixa gerou uma combinação incrível de rodas e cabeças em movimento.

“Sweating Bullets” e “She-Wolf”, que haviam sido tocadas em 2016, mantiveram a empolgação do público. Na primeira, o tradicional acompanhamento verso a verso da plateia voltou a aparecer. Na segunda, os riffs matadores de Mustaine e Loureiro voltaram a exigir que as cabeças se movimentassem inevitavelmente.

O fã do bom e velho thrash metal tinha motivos de sobra para vibrar. Depois de ver o Metallica demolidor no Lollapalooza e o Slayer arrasador no Maximus Festival, ele tinha ali à disposição mais um integrante do Big Four completamente em forma, sabendo que em poucos dias ainda terá o Anthrax para fechar incrivelmente a quadra dos sonhos do estilo na capital paulista.

Na segunda metade dos Anos 80, quando estas mesmas bandas faziam álbuns arrasadores e o público frequentador da frente da Woodstock Discos e da Galeria do Rock era apresentado a tudo aquilo, era inimaginável a possibilidade de ver estes patrimônios do thrash metal num mesmo ano em São Paulo. Agora, com a onda incrível de shows que já virou rotina na cidade mais rock n’ roll do Brasil, é gratificante ver gerações distintas tendo à disposição este tipo de som.

Megadeth em SP - Foto: Reprodução do YouTubeMegadeth em SP - Foto: Reprodução do YouTubeMegadeth em SP - Foto: Reprodução do YouTubeMegadeth em SP - Foto: Reprodução do YouTube

Só depois de todas estas músicas tocadas que Mustaine falou com a plateia. Saudou o público paulistano rapidamente e logo emendou “Skin o’ My Teeth”, que não era tocada na capital paulista desde o show de 2012, de comemoração de 20 anos do disco “Countdown To Extinction”, que, naquela ocasião, foi executado na íntegra no saudoso Via Funchal.

Depois de tanto agito no Espaço da Américas, foi a vez finalmente de algo mais calmo. A sempre belíssima “A Tout Le Monde” serviu para o público poder descansar um pouco, sem, é claro, deixar de cantar a música do início ao fim. Tudo isso com direito ao lindo solo final da dupla Mustaine-Loureiro, num dos grandes momentos do show.

Kiko, por sinal, era um caso de empolgação à parte com a plateia, que, desde o ano passado, já via com imenso orgulho um brasileiro numa das maiores bandas de heavy metal de todos os tempos. A sensação deste jornalista é de que, depois do Sepultura e toda a sua importância na história do estilo, o guitarrista vem logo na sequência como “orgulho nacional”.

“Tornado of Souls” veio na sequência do show no Espaço das Américas e, como sempre, comoveu os fãs, já que é uma das músicas melhores construídas pelo Megadeth. Pesada, com riff marcante e, ao mesmo tempo melodiosa, é uma das obras-primas da banda.

Depois dela, Mustaine voltou a falar com o público, elogiando aquela bela noite em São Paulo e lembrando que a música a seguir representava o trabalho ganhador do inédito Grammy pela banda este ano. “Dystopia” foi a segunda e última faixa da noite representante do álbum recente. Ela foi tocada com exatidão pelo grupo, com imagens do clipe no telão central e com a presença do mascote Vic Rattlehead no palco.

Quem viu a apresentação de 2016, automaticamente fez a comparação com 2017. Do álbum mais recente, ficaram de fora as ótimas “Poisonous Shadows” e “Post American World”, além de “Conquer or Die!” e “Fatal Illusion”. Mas foi uma opção da banda, que compensou com os clássicos.

Falando em clássicos, a música seguinte foi nada menos que “Symphony of Destruction”. Como sempre, teve até os riffs cantados e marcados com os gritos de “Megadeth!”.

Depois dela, nada menos que a raríssima “Mechanix”, que tinha sido executada pela primeira vez no Brasil no show de 2016 e voltou novamente ao repertório. Tal qual a cena do ano passado, a faixa do primeiro álbum do Megadeth, também conhecida por ser a versão original da música “The Four Horsemen”, do Metallica, nos tempos em que Mustaine ainda era do grupo de James Hetfield e Lars Ulrich, gerou uma nostalgia imensa entre os fãs antigos do bom e velho thrash metal.

Quando o público foi notar, a banda já estava executando “Peace Sells”, com direito a retorno de Vic Rattlehead ao palco. E isso era um indicativo de que o show estava já no fim. O sentimento geral foi de susto, pois a apresentação foi feita numa pancada só e poucos ali haviam percebido que quase 1 hora e meia de apresentação já havia sido feita.

Esse tempo de duração vem sendo a média do Megadeth em espaços fechados em shows pelo Brasil, com exceção de uma ou outra apresentação, como as comemorativas. Quem achou que o show de 2017 foi curto deve ter esquecido como foram a apresentação no SWU e a abertura de luxo para o Black Sabbath.

Após a brevíssima pausa, a banda voltou para o pequeno bis com o ultraclássico “Holy Wars… The Punishment Due”. Antes de a banda tocá-lo, Mustaine voltou a falar com o público, lembrando da proximidade do fim da turnê e citando Kiko Loureiro. Gritando “Kiko, Kiko, rarará”, a plateia fez Mustaine sentar em frente à bateria, numa reação de surpresa e bom humor.

Após o arrasa-quarteirão de “Holy Wars…”, Mustaine agradeceu a todos os presentes e prometeu um retorno ao Brasil, no que deve fazer a banda se consolidar ainda mais como o conjunto gringo de rock que mais vezes veio ao País.

O saldo final do show de 2017 no Espaço das Américas foi amplamente positivo e até surpreendente para quem imaginava uma repetição do que viu em 2016. Entrosado e modernizado, o Megadeth mostrou que a entrada de Kiko Loureiro e de Dirk Verbeuren foi extremamente benéfica, fazendo com que o grupo, mais uma vez, encontrasse uma formação digna para manter o legado da banda.

Apesar da negativa de credenciamento de imprensa que o Roque Reverso teve dos organizadores, não havia como não trazer mais uma resenha aos leitores. Para relembrar mais este grande show da banda, fique com vídeos descolados no YouTube. Veja inicialmente a abertura com “Hangar 18”. Na sequência, fique com os vídeos de “Take No Prisoners”, “Skin o’ My Teeth”. Para fechar, fique com “A Tout Le Monde”, “Mechanix”, “Peace Sells” e “Holy Wars… The Punishment Due”.

Set list

Hangar 18
The Threat Is Real
Wake Up Dead
In My Darkest Hour
Trust
Take No Prisoners
Sweating Bullets
She-Wolf
Skin o’ My Teeth
A Tout Le Monde
Tornado of Souls
Dystopia
Symphony of Destruction
Mechanix
Peace Sells

Holy Wars… The Punishment Due