
Por Anne Warth
Existem experiências tão marcantes na vida que são simplesmente impossíveis de descrever. Amores, para os românticos, viagens, para os errantes, e, claro, shows de rock, para quem é fã. Somente um verdadeiro aficionado sabe o privilégio que é ganhar uma baqueta, uma palheta, uma bandana ou um set list do ídolo durante o concerto de sua banda favorita.
Para as pessoas que sabem apreciar o valor histórico, cultural ou mesmo afetivo de um objeto, foram criados os museus.
E, felizmente, até mesmo para os amantes do rock existe um lugar onde é possível sentir o coração bater mais forte. Longe de todo o circuito turístico dos Estados Unidos, o Rock and Roll Hall of Fame and Museum fica em Cleveland, Ohio, às margens do Lago Erie, no Meio Oeste. Eu, que lá estive, recomendo que todos os fãs de rock passem ao menos um dia de suas vidas lá.
E por que o museu está em Cleveland, e não Nova York, San Francisco, Seattle, Detroit, Memphis, cidades norte-americanas muito mais associadas ao rock na memória da maioria das pessoas?
Inacreditável, mas foi um DJ que trabalhava numa rádio de Cleveland que criou o termo Rock ´n´ Roll. Nos Estados Unidos da década de 1950, pré-Martin Luther King, Alan Freed foi o primeiro a tocar rhythm and blues, música até então feita apenas por negros, em uma rádio de brancos. Ele também foi pioneiro ao promover shows de rock e unir, em um mesmo ambiente, brancos e negros para dançar. Foi pela importância histórica de Freed – e, claro, por um grande incentivo financeiro da Prefeitura de Cleveland – que o museu do rock se instalou nesta cidade de Ohio em 1995.
Com apenas 16 anos de história, o museu conta com um acervo que emociona até os roqueiros mais durões. Em uma área de 55 mil metros quadrados formada por uma pirâmide estruturada de aço e vidro, o museu conta com diversos monitores e som de primeira para você relembrar músicas e momentos históricos do rock. Alice Cooper, por exemplo, é um dos mais recentes membros do Hall of Fame – e você pode conferir a emoção do Mr. Nice Guy na cerimônia em que foi nomeado, com a voz embargada, os olhos borrados, uma camisa branca manchada de sangue e uma cobra albina enrolada no pescoço.
Na parte subterrânea do museu, devidamente climatizada para conservar verdadeiras relíquias, estão as roupas militares usadas pelos Beatles na foto do álbum “Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band” e os figurinos históricos de Michael Jackson – a famosa luva de Billie Jean, além da máscara e a jaqueta vermelha usados no clipe “Thriller”.
Para os amantes de David Bowie, o museu conta com o traje de seu famoso personagem Ziggy Stardust. Também está lá o primeiro figurino de Bono Vox como “The Fly”, visual que usa até hoje, inaugurado na turnê Zoo TV Tour do U2. E, numa prova de que todos têm no passado algo a ser escondido, também há uma camisa de Jim Morrison na época em que o vocalista do The Doors era escoteiro.
Como não poderia deixar de ser, o museu tem muitas, muitas guitarras e violões, de todos os artistas que fizeram a história do rock. Entre eles, um violão de Johnny Cash, da década de 1950, e uma guitarra de John Lennon, com um desenho dele e de Yoko Ono. Para quem gosta de rock e carros, é possível conferir o Porsche piscodélico de Janis Joplin e um Lincoln Coupe de Elvis Presley – que, no dia que o comprou, deu outro igual para uma senhora que estava na concessionária e achou por bem elogiar a mais nova aquisição do rei. Para os mais sentimentais, estão lá rascunhos de músicas de Chuck Berry e da famosa “Purple Haze”, de Jimi Hendrix, com um papel devidamente amassado e rabiscado.
Citar poucos itens e deixar tantos de fora é uma grande injustiça com os artistas que fizeram do rock o que ele é hoje. Mas, para quem quer conferir parte do que o museu tem a oferecer, o site da famosa galeria do rock, http://rockhall.com, possui textos, fotos e vídeos para que o roqueiro sinta ao menos um pouco do que é o museu e, quem sabe, se anime a visitá-lo quando estiver nos Estados Unidos.
Para quem ainda não está convencido, um golpe final. O museu possui simplesmente a melhor loja de artigos de rock que eu já conheci. LPs e CDs épicos a preços módicos, DVDs com shows inesquecíveis, camisetas, posters e souvenirs para todos os gostos. Um exemplo: eu comprei o “David Bowie – The Platinum Collection” por US$ 30 na loja do museu. Para quem quiser comprar um igual no Brasil, o site da Livraria Cultura cobra R$ 115.