Pela décima vez em São Paulo, de um total de 13 vindas ao Brasil, o Megadeth fez um bom show no dia 4 de maio no Espaço das Américas. Para um público que encheu a casa numa noite agradável de domingo, a banda norte-americana de thrash metal trouxe uma chuva de clássicos para compensar um mal-entendido que havia frustrado alguns fãs dias antes: a confirmação de que o álbum “Youthanasia” não seria executado na íntegra.

Com os mesmos efeitos de telão e de luzes que haviam sido adotados quando abriu o show do Black Sabbath em 2013, além da repetição de todas as 10 músicas daquela apresentação, acrescidas de outras oito, o grupo tocou durante 1h30 e manteve a tradição histórica de boas performances ao vivo em terras brasileiras.

Comandado pelo eterno líder, o vocalista Dave Mustaine, o Megadeth levou o público diversas vezes ao delírio. Tanto para aqueles que viam a banda pela décima vez em São Paulo como para os estreantes, era visível que a satisfação estava presente em todos os cantos do Espaço das Américas.

A polêmica 

Apesar de, desde dezembro do ano passado, o show do Espaço das Américas ter sido anunciado como o de comemoração de 20 anos do disco “Youthanasia”, o público ficou sabendo claramente somente no dia 25 de abril que ele não seria tocado do começo ao fim. Tudo porque o vocalista Dave Mustaine explicou nas redes sociais que foi pego de surpresa com os anúncios que foram feitos nas cidades da América do Sul que receberiam as apresentações.

Segundo ele, em momento algum a  banda prometeu o disco na íntegra e não faria sentido celebrar um disco que completará as duas décadas somente em outubro. Mustaine e o Megadeth são considerados ultraprofissionais e os produtores e a assessoria de imprensa responsável têm um ótimo histórico de serviços prestados com profissionalismo e correção. Justamente por isso, não ficou claro sobre quem era exatamente o culpado pelo problema.

Também, mesmo que não tivesse existido de maneira alguma a citação da palavra “íntegra”, o mesmo estilo de divulgação dos shows comemorativos anteriores levaria o público a interpretar que o que foi visto nas turnês comemorativas de 20 anos dos discos “Rust in Peace” e “Countdown to Extinction” se repetiria naturalmente.

Ninguém aqui está para apontar o dedo da acusação a nenhuma das partes, mas o fato é que o show foi amplamente divulgado no Brasil como comemorativo de 20 anos e muita gente comprou ingresso para ver isso. Ficou, no mínimo, uma história mal contada e qualquer crítica jornalística feita não pode deixar de mencionar o ocorrido.

O show

Fã de heavy metal é, muitas vezes, tão dedicado aos grupos como torcedores fiéis de clubes de futebol. Não importa a fase da equipe ou da banda e até algumas desilusões que este tipo de público sempre estará ali para o que der e vier. Não por acaso, mesmo com toda a polêmica, o Espaço das Américas estava praticamente lotado, com todos aguardando mais um bom show do Megadeth.

A banda subiu ao palco com meia hora de atraso. Logo de cara, trouxe o petardo “Hangar 18”, do “Rust in Peace”, que já levou a plateia a uma grande empolgação. Na sequência, tocou a primeira do “Youthanasia”: “Reckoning Day”, que manteve a temperatura e deixou o público com água na boca, já que ainda havia uma esperança de alguma surpresa.

Esta expectativa se desfez quando a banda emendou dois ultraclássicos da carreira: as indispensáveis “Wake Up Dead”, do disco “Peace Sells… but Who’s Buying?” (1986), e “In My Darkest Hour”, do álbum “So Far, So Good … So What!”, de 1988.

Vale dizer que, a despeito dos relatos muito positivos de quem estava na Pista Vip, o som em alguns pontos da Pista Comum estava abaixo do ideal. Não chegava a comprometer o show, mas chegou a causar algumas reclamações de quem pagou um ingresso nada barato para ficar no setor. O Roque Reverso esteve no mesmo local na apresentação que o Alice in Chains fez no ano passado e, só para efeito de comparação, a sensação era de que o som do show da banda de Seattle estava muito mais alto e definido.

Se não houve surpresa com uma eventual execução na íntegra do “Youthanasia”, a plateia foi presenteada com uma música raramente tocada em shows do Megadeth na fase recente: “Set The World Afire”, também do “So Far, So Good … So What!”, chegou a deixar muita gente de boca aberta, já que não era esperada por muitos que haviam visto o set list das apresentações anteriores da turnê pela América do Sul.

Tal qual o show que havia sido visto no ano passado no Campo de Marte, o Megadeth usou muitos recursos visuais no telão, como figuras, luzes, desenhos, trechos de clipes e até de filmes. Foi assim que o grupo fez antes de executar “Sweating Bullets”, que sempre faz todo o público cantar junto.

Até então, Dave Mustaine e a banda não haviam dirigido uma só palavra à plateia e, ao fim de “Sweating Bullets”, o vocalista finalmente cumprimentou os presentes. Aproveitou para dizer que leu reportagens que o Megadeth, dentre os grupos de heavy metal, era o que mais havia vindo ao Brasil: 13 vezes, sendo este um número sugestivo.

Na sequencia, a banda executou a ótima “She-Wolf”, do “Cryptic Writings”, de 1997, e as antigas “Dawn Patrol” e “Poison Was the Cure”, do “Rust in Peace”. Impossível não deixar de destacar a presença de palco do baixista Dave Ellefson, que já tem um crédito enorme com os fãs e que sempre se destaca nas vindas do Megadeth ao Brasil.

A faixa-título do disco “Youthanasia” foi então tocada para satisfazer os que queriam mais músicas do álbum que completa 20 anos em 2014. Depois dela, a sempre boa “Trust”, do “Cryptic Writings”, fez o Espaço das Américas inteiro pular.

Ao fim desta faixa, Mustaine recebeu a bandeira do Brasil e a colocou amarrada no pedestal do microfone. Aproveitando o momento, disse que havia escolhido uma música especialmente para o show em São Paulo e executou a maravilhosa “Tornado of Souls”, que é venerada por aqui 9 entre 10 fãs do Megadeth e gerou várias rodas de mosh na pista.

Depois deste petardo do “Rust in Peace”, foi a vez de uma calma e também obrigatória do “Youthanasia”: “A Tout Le Monde”. Ela foi cantada por todos, de maneira emocionante, e foi seguida por “Kingmaker”, a única da noite do fraco disco recente “Super Collider”.

O show caminhava para sua parte final quando a banda trouxe mais uma do “Youthanasia”: a ótima e pesada “The Killing Road”, que não era tocada há um bom tempo no Brasil e que, na apresentação do Espaço das Américas, foi uma das melhores da noite.

Em seguida, o hit “Symphony of Destruction”, do “Countdown To Extinction”, fez o público inteiro cantar junto até o riff da música. Para fechar, a indispensável “Peace Sells”, que trouxe novamente Dave Ellefson novamente em grande forma e gerou novas rodas de mosh por todo o local.

Depois de uma breve pausa para o descanso, o bis foi representado pelo clássico dos clássicos “Holy Wars… The Punishment Due”, que nunca decepciona e sempre leva o público ao delírio. Ironicamente, foi a quinta faixa do “Rust in Peace” da noite e fez o álbum ter mais músicas tocadas que o “Youthanasia”, que apareceu em quatro canções.

O balanço do show do Megadeth em São Paulo é positivo. É claro que não superou apresentações anteriores da década de 90 e algumas recentes da década atual, mas foi, mais uma vez, um bom show que onde o grupo cumpriu seu papel. Agora, é esperar pela décima quarta passagem pelo Brasil e torcer para que o “Youthanasia” seja tocado na íntegra no ano que vem.

Para relembrar o bom show do Megadeth no Espaço das Américas, o Roque Reverso descolou vídeos no YouTube. Fique inicialmente com a filmagem de “Reckoning Day”. Na sequencia, veja os vídeos de “Tornado of Souls”, “A Tout Le Monde” e  “The Killing Road”.

Set list

Hangar 18
Reckoning Day
Wake Up Dead
In My Darkest Hour
Set The World Afire
Sweating Bullets
She-Wolf
Dawn Patrol
Poison Was the Cure
Youthanasia
Trust
Tornado of Souls
A Tout Le Monde
Kingmaker
The Killing Road
Peace Sells
Symphony of Destruction

Holy Wars… The Punishment Due