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Efeitos da idade ficam nítidos, Stones dosam show em SP, mas festa do rock prevalece e emociona

The Rolling Stones em SP - Foto: Divulgação Time For Fun/Marcos de Paula/Staff ImagesOs Rolling Stones finalmente retornaram a São Paulo e fizeram uma grande apresentação no Estádio do Morumbi para 65 mil pessoas na quarta-feira, 24 de fevereiro. Após 18 anos sem tocar em solo paulistano, os efeitos da idade avançada dos membros da banda ficaram nítidos, bem como a dosagem na primeira metade do show para algo mais leve que as passagens anteriores de 1995 e de 1998, com o intuito de preservar o gás para o final.

Nem por isso, a festa do rock n’ roll deixou de
prevalecer, emocionar e representar mais
um momento histórico para os fãs.

Com a maioria dos seus integrantes com idade acima de 70 anos, o que mais impressionou foi o simples fato de eles estarem ali com vitalidade no palco, provando que não é preciso se tornar num velho ranzinza para viver a parte final da vida, mas, sobretudo, transformar o que poderia ser, para alguns, doloroso em momento de descontração, alegria e celebração de um estilo musical.

Show dos Stones é sinônimo de alegria e festa. Na primeira de duas apresentações na capital paulista pertencentes à turnê latino-americana Olé (a segunda foi agendada para o dia 27 de fevereiro), o script foi bastante parecido com o adotado dias antes no show realizado no Estádio do Maracanã em 20 de fevereiro no Rio de Janeiro e deve se repetir na apresentação prevista para o dia 2 de março em Porto Alegre.

Com mudanças pontuais no set list em relação ao show da capital fluminense, os Stones entregaram ao público paulistano um show honesto, de qualidade e até com algumas raridades bem escolhidas. Sem vergonha alguma de se poupar no começo da apresentação com uma toada mais leve, mas longe de ser desanimada, a banda britânica transformou a segunda metade do show num festival de hits históricos e inigualáveis do rock n’ roBanner Stonesll.

Caos para chegar

Extremamente criticado pela distância em relação à zona central da cidade, pela falta de opções de transportes suficientes e pela inexistência de estacionamentos oficiais, o Estádio do Morumbi provou que, no atual cenário do cada vez mais complexo trânsito paulistano, é um lugar ruim para shows em dias úteis. Com a chuva insistente que caiu sobre a capital paulista durante a quarta-feira, o que se viu nas redondezas do estádio foi um verdadeiro caos para os fãs chegarem ao local.

Quem optou pela vinda por meio de ônibus, mesmo com a longa caminhada da Avenida Francisco Morato até a porta do estádio, teve melhor sorte do que o fã que escolheu o automóvel como opção. Não foram poucas as pessoas que conseguiram chegar apenas quando a apresentação dos Stones estava prestes a começar, perdendo, por exemplo, o show de abertura dos Titãs.

Na saída do estádio, quem preferiu se descolar a pé até a Francisco Morato para arriscar os ônibus especiais que levavam o público até o centro da cidade voltou a se dar bem. Quem estava de carro demorou demais para chegar em casa e quem tentou o táxi precisou de uma boa dose de paciência para encontrar algum motorista que não quisesse faturar um a mais, aproveitando-se da demanda alta por transporte num momento de oferta escassa.

The Rolling Stones em SP - Foto: Divulgação Time For Fun/Marcos de Paula/Staff ImagesThe Rolling Stones em SP - Foto: Divulgação Time For Fun/Marcos de Paula/Staff ImagesThe Rolling Stones em SP - Foto: Divulgação Time For Fun/Marcos de Paula/Staff ImagesThe Rolling Stones em SP - Foto: Divulgação Time For Fun/Marcos de Paula/Staff Images

O show

O show dos Stones começou por volta das 21h15, quando a chuva havia dado uma parada. Diferente do temporal visto em 2014 em São Paulo no show de outro ícone do rock, o ex-Beatle Paul McCartney, no Allianz Parque, ou da chuva insistente e chata observada no mesmo ano na apresentação do Metallica no mesmo Morumbi, São Pedro decidiu dar uma trégua ao rock n’ roll. Tirando um ou outro momento de garoa fina, a maior parte da apresentação de Mick Jagger & Cia seguiu sem maiores doses de água.

A lembrança do Metallica é válida também, mas de maneira positiva, em relação aos telões adotados na apresentação dos Stones. Desde o show do grupo norte-americano de thrash metal, o Morumbi não via telões condizentes com a importância de quem estava ali tocando. No show do Pearl Jam, por exemplo, os telões haviam sido bem modestos em relação ao tamanho da banda e do estádio. Na apresentação dos Stones, prevaleceu o bom senso e, mesmo quem estava longe, nas arquibancadas, conseguiu ter uma boa visão do grupo.

Com a dobradinha “Start Me Up” e “It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like It)”, os Rolling Stones já começaram a apresentação com o jogo totalmente ganho (tudo isso depois de uma introdução inicial de efeitos no telão de dar inveja a qualquer outro grupo). Mick Jagger elétrico e disposto a agitar o público. Keith Richards tirando acordes da guitarra no estilo cool que só ele é capaz de proporcionar. Ron Wood dando o suporte ao companheiro também com acordes marcantes e certeiros. Charlie Watts há tempos é o que parece fisicamente ser o que mais acusa a idade avançada. Nem por isso deixou um minuto sequer de impor o ritmo tradicional dos Stones na bateria.

No público, havia um misto de contemplação, por estar de frente para uma das maiores bandas da história do rock (para muitos, a maior); empolgação, natural depois de tantos anos sem os músicos tocarem em São Paulo; e espanto, já que muitos não conseguiam acreditar no fato de aqueles velhinhos, que já viram e passaram de tudo na vida, ainda estarem tocando rock n’ roll de qualidade.

Antes de emendar a música “Tumbling Dice”, do badalado disco “Exile on Main St”, de 1972, Jagger conversou com a plateia e animou ainda mais o ambiente, num bom português: “Olá, paulistas! E aí moçada!”

Durante a música, o vocalista atravessou a passarela que dividia a Pista Vip e puxou palmas do público, ainda meio que paralisado com o momento. Em “Out of Control”, do disco “Bridges to Babylon”, a banda teve uma execução impecável, com direito a Jagger detonando na gaita

Vale salientar que, como em muitos dos shows badalados que acontecem no País, havia muita gente que conhecia, por incrível que possa parecer, muito pouco de Stones. Mais precisamente na Pista Vip, alguns estavam ali pelos manjados hits de sempre. Outros, por uma “Satisfaction” da vida. Outros estavam pelo evento, pela badalação. Havia, sim, também muita gente antenada com toda a carreira do grupo, mas não foram poucas as vezes que este jornalista viu pessoas conversando ou mexendo no celular, enquanto uma lenda da música estava à sua frente.

Os Stones davam sequência ao seu show light e com músicas menos intensas que os hits consagrados. Depois de “Out of Control”, foi a vez da ótima “Bitch”, do disco “Sticky Fingers”, de 1971. Ela foi eleita pelo público em votação de internet promovida pela banda. Concorria com “All Down The Line” e “Rocks Off” (ambas do “Exile on Main St.”) e com “Shattered” (do álbum “Some Girls”, de 1978).

“Shattered” não foi a eleita, mas o disco “Some Girls” foi representado pela primeira vez no show com a faixa “Beast of Burden”, que trouxe momentos bacanas das guitarras de Keith Richards e Ron Wood. Apesar da tendência mais light da apresentação, os Stones improvisavam bastante nos acordes e isso só elevava ainda mais a nota do show, já que isso também faz parte de um grande concerto de rock.

The Rolling Stones em SP - Foto: Divulgação Time For Fun/Marcos de Paula/Staff ImagesThe Rolling Stones em SP - Foto: Divulgação Time For Fun/Marcos de Paula/Staff ImagesThe Rolling Stones em SP - Foto: Divulgação Time For Fun/Marcos de Paula/Staff ImagesThe Rolling Stones em SP - Foto: Divulgação Time For Fun/Marcos de Paula/Staff Images

Não bastasse a surpresa com a execução de “Beast of Burden”, outro momento inesperado aconteceu com “Worried About You” (do disco “Tattoo You”, de 1981), que trouxe Jagger tocando teclado e foi precedida de uma frase na qual o vocalista mandou um “Beijinho no ombro” pra galera.

Passada a sequência de músicas não tão tocadas nos repertórios tradicionais dos Stones, foi a vez de uma chacoalhada no público com dois clássicos “Paint It Black” e “Honky Tonk Women”. Ambas foram executadas na toada light que o grupo vinha impondo, mas empolgaram. A segunda não teve a catarse de 1995, quando os telões do Pacaembu mostravam garotas lindas presentes no estádio e até tirando camisetas para um público bem mais vibrante, mas a reação da plateia foi de festa, como manda a tradição.

Ainda sob o efeito do fim empolgante da música, Jagger aproveitou para a apresentar os músicos. Quando o nome de Keith Richards foi mencionado, o Morumbi veio abaixo e o guitarrista até se surpreendeu com os gritos da plateia, tamanho o carinho dispensado.

Ele mesmo lembrou que tinha um show para continuar e assumiu os vocais para tocar “You Got the Silver”, do disco “Let It Bleed” (de 1969) e “Happy”, do “Exile on Main St.”. Na volta de Mick Jagger ao comando, foi a vez da execução de “Midnight Rambler”, também do “Let It Bleed”.

Esta canção trouxe uma verdadeira aula de música, capaz de deixar os apreciadores do rock de boca aberta, num dos melhores momentos da apresentação. Tudo isso com direito a uma performance mais do que elétrica e dançante de Jagger, que chuta seus mais de 70 anos para longe e simplesmente humilha muitos jovens em empolgação.

Foi a partir daí que a máquina de clássicos dos Stones passou a funcionar a todo vapor, com o grupo já numa toada bem menos light do que a da primeira parte da apresentação. Tal qual aquele time de futebol experiente que se poupa para dar fisicamente conta do jogo inteiro e usa os atalhos da sabedoria para isso, o lendário grupo inglês simplesmente usou anos de história para promover a festa definitiva no Morumbi.

Quem é que consegue resistir a uma sequência que traz nada menos que “Miss You”, “Gimme Shelter”, “Brown Sugar”, “Sympathy for the Devil” e “Jumpin’ Jack Flash”?

O coro do público em “Miss You” fica na memória de quem foi ao show, assim como o dueto espetacular de Jagger com a cantora de apoio Sasha Allen na ultraclássica e indispensável “Gimme Shelter”. “Brown Sugar” serviu para fazer todos da plateia pularem a cada ordem de Jagger, da Pista Vip à arquibancada. “Sympathy for the Devil” trouxe o telão com efeitos maravilhosos e, novamente, outro coro do público que será fixado na cabeça por semanas. “Jumpin’ Jack Flash” é o rock n’ roll na mais pura definição do estilo.

Passada a espetacular sequência, os Stones deixaram o palco para o merecido e breve descanso antes do bis. Para fechar definitivamente a apresentação, as escolhidas foram “You Can’t Always Get What You Want” e o clássico dos clássicos “(I Can’t Get No) Satisfaction”.

Na primeira, que gerou um dos momentos mais belos do show, a banda contou com o apoio do Coral Sampa na introdução. Em “Satisfaction”, o êxtase supremo tomou conta do Morumbi e transformou em crianças felizes os 65 mil presentes no Morumbi.

Pouco mais de 2 horas de apresentação e o saldo final foi mais um show grandioso dos Rolling Stones em terras paulistas. Sim, eles não são mais os mesmos das décadas de 60, 70, 80 e 90, como ninguém é com mais de 70 anos. Mas são a maior banda viva de rock da história.

Com tantos anos de estrada, esta passagem pelo Brasil fatalmente deverá ser a última. Felizardos, portanto, aqueles que estiveram presentes nas apresentações. Poderão contar um dia para filhos e netos que viram um dia uma lenda viva do rock n’ roll.

O sentimento final era de grande satisfação e de que aquilo ficaria e precisaria ficar guardado para sempre na memória ou eternizado de alguma maneira. Prova disso é que as camisetas oficiais, ao preço elevado de R$ 100,00, eram vendidas como água nas barraquinhas da Pista Vip e da Pista Comum do Morumbi. Quando elas faltavam, o público comprava um pôster e até sacolas da banda. Tudo para que aquele momento fosse representado em algo físico e permanente. E vai explicar para alguém de fora que aquilo era “apenas” um show do rock n’ roll…

Para relembrar a grande apresentação dos Stones no Morumbi, o Roque Reverso descolou vídeos no YouTube. Fique inicialmente com a abertura e “Start Me Up”. Depois, curta um vídeo que traz “Paint It Black” e “Honky Tonk Women”. Na sequência, acompanhe a aula em “Midnight Rambler”. Tem ainda os vídeos de “Gimme Shelter”, “Jumpin’ Jack Flash” e “(I Can’t Get No) Satisfaction”.

Set list

Start Me Up
It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like It)
Tumbling Dice
Out of Control
Bitch
Beast of Burden
Worried About You
Paint It Black
Honky Tonk Women
You Got the Silver
Happy
Midnight Rambler
Miss You
Gimme Shelter
Brown Sugar
Sympathy for the Devil
Jumpin’ Jack Flash

You Can’t Always Get What You Want
(I Can’t Get No) Satisfaction

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