Artistas Luiz Tim Ernani e Ennio Nascimento resgatam aura mística do blues na capa do CD "Rota 145", de Duca BelintaniO guitarrista Duca Belintani está com novo trabalho na praça. “Rota 145” é o quinto CD solo do artista paulistano. Mas não se trata apenas de um disco novo. A proposta de Duca é também inovadora e ousada.

Composto por cinco faixas – nas quais Duca destrincha novos e eletrizantes arranjos para tradicionais canções do blues -, “Rota 145” está mais para o que nós, os antigos, costumávamos chamar de EP.

Depois de mais de dez anos dedicando-se exclusivamente à música instrumental, Duca reassume os vocais nos clássicos “Hey Hey”, de Big Bill Broonzy, “How Long”, de Leroy Carr.

Também apresenta uma nova versão de “Na Trilha do Blues”, cuja versão original encontra-se em seu CD de estreia, “MPBlues”, lançado no ano 2000.

Perguntei a Duca por que voltar aos vocais depois de três discos exclusivamente instrumentais e com boa receptividade por público e crítica. E a resposta foi: “Na verdade, já estava fazendo isso nos shows recentes, pois queria voltar a cantar assim como no meu primeiro CD. Fiz isso em alguns shows e vi que a receptividade foi bacana. Quando fui para estúdio optei por fazer algumas instrumentais e outras cantadas tanto em português quanto em inglês.”

A este que vos escreve, porém, a faixa que mais chama a atenção é uma das duas instrumentais do CD – e que também dá nome ao novo trabalho: a inédita “Rota 145”. A outra faixa instrumental é a bela “Mean Old Frisco”, de Arthur Crudup.

Aos amantes da guitarra elétrica que porventura venham a se impressionar com os timbres obtidos por Duca, o som deriva exclusivamente de uma guitarra plugada em um drive desenvolvido em conjunto pelo guitarrista e pelo luthier de pedais Tom Tone ligado direto no amplificador, sem mais frufrus.

A inovação, por sua vez, consiste no fato de que, junto com o CD, Duca lança também um app que pode ser baixado em dispositivos móveis.

A proposta do app não se limita a informações organizadas nem à agenda de shows do guitarrista: o aplicativo dará aos assinantes acesso a futuros lançamentos de Duca, além de três músicas de “Rota 145”.

“Inicialmente foi uma ideia de marketing, mas assim que comecei a fazer e observei o mercado vi que isso poderia se tornar uma tendência, pois o artista estaria em contato diretamente com seu público sem intermediário”, declarou Duca. “Outra coisa bacana é que como uma boa parte do público não compra mais CD e escuta música no celular, achei que seria uma boa opção e assim está sendo”, prosseguiu ele.

Qualquer leitor um pouquinho mais interessado ou atento que venha a “dar um Google” por aí vai constatar que já escrevi antes sobre o trabalho de Duca, somos amigos pessoais e que, lado a lado, escrevemos recentemente a biografia de Kid Vinil, lançada em abril pela Edições Ideal. E nada disso desmerece esta resenha, pois não foram estes o fatores que me levaram a querer escrever sobre o CD. Este esforço deve-se principalmente ao diferencial da proposta de Duca.

Em tempos de rumos difusos e futuro incerto no cenário musical, o lançamento do app indica um caminho possível não só a outros artistas independentes, mas também a músicos já consagrados e com acesso à mídia tradicional mas que não conseguem levantar grandes somas em direitos autorais com suas músicas na internet.

Os atuais mecanismos de streaming pagam aos artistas migalhas em direitos autorais e fazem pouca coisa além de manter o status quo. Limitam-se a estabelecer novos atravessadores cujo único dom é vampirizar e “monetizar” os talentos artísticos alheios.

Já o desenvolvimento de aplicativos como o de Duca Belintani, com custo relativamente baixo, abre uma nova porta aos músicos capazes de mobilizar seu público na internet, ajudando-os a serem donos do próprio nariz e eliminando a figura de atravessadores.