Aerosmith no Rock in Rio - Foto: Divulgação/Rock in Rio-FacebookQuem passou de raspão pelo Anos 80 teve a infelicidade de ouvir exaustivamente nas ondas do rádio as versões de gosto pra lá de duvidoso do grupo brasileiro Yahoo para as baladas “Love Bites”, do Def Leppard, e “Angel”, do Aerosmith.

“Quando faz amor
Se olha no espelho
Será que você
Gosta mesmo de mim?…”

Ou

“Vem meu anjo
Na luz do luar
Vem meu anjo
Venha me salvar…”

Lembrou? Se não lembrou, sorte sua. Mas é altamente improvável que a pessoa responsável pela escalação da primeira noite de rock da edição de 2017 do Rock In Rio não tenha ligado os pontos. Se não foi de propósito, porém, tratou-se de uma feliz coincidência.

Mas há de se começar pelo começo. E não deu tempo de ver Scalene.

Eis que sobe ao palco – não ao principal, o que é lamentável – o imortal Alice Cooper. Do alto de seus 69 anos, Vincent Damon Furnier transmutou-se em seu famoso personagem para mostrar mais uma vez como se faz um show de rock.

Acompanhado de uma excelente banda de apoio, Alice Cooper desfilou seus clássicos com a competência e a teatralidade de sempre. Ao palco, convidou seu mestre, Arthur Brown. E também o aerosmithiano Joe Perry, que deu uma canja bacana na parte final do show.

Destaque para a excelente execução de “Poison”, provavelmente meu som favorito de Alice Cooper, e o encerramento apoteótico com “School’s Out”, com o público pirando no refrão e na inclusão incidental de “Another Brick in the Wall”, do Pink Floyd.

Termina então o show de Alice Cooper e sobe ao palco principal uma coisa. Não existe definição outra para esse tal Fall Out Boy.

A ignorância muitas vezes é uma bênção. E era bem melhor não saber da existência desse treco. Inserir essa farofa insossa entre Alice Cooper, Def Leppard e Aerosmith? Parece ser um método da organização do Rock In Rio colocar uma coisa nada a ver no meio de uma escalação de respeito. Não é um crime, mas também não é um charme. Pois a coisa tocou, seu público cativo gostou e vida que segue.

Aerosmith no Rock in Rio - Foto: Divulgação Rock in Rio/Instagram/I Hate Flash/Fernando SchlaepferDef Leppard no Rock in Rio - Foto: Divulgação Rock in Rio/Instagram/Felipe Correia VieiraAerosmith no Rock in Rio - Foto: Divulgação Rock in Rio/Instagram/I Hate Flash/Wesley AllenDef Leppard no Rock in Rio - Foto: Divulgação Rock in Rio/Instagram/I Hate Flash/Filipe MarquesAerosmith no Rock in Rio - Foto: Divulgação Rock in Rio/Instagram/I Hate Flash/Fernando SchlaepferAerosmith no Rock in Rio - Foto: Divulgação Rock in Rio/Instagram

Def Leppard

Hora então de voltar para o rock com o Def Leppard. Com 32 anos de atraso, é verdade. Era para a banda inglesa de hard rock ter tocado na primeira edição do Rock In Rio, em 1985. Mas a apresentação foi cancelada porque os músicos estavam em estúdio gravando “Hysteria”, que seria lançado somente em 1987 e viria a se tornar o grande álbum do Def Leppard.

Semanas antes do Rock In Rio, o baterista Rick Allen sofreu um acidente de carro que lhe custou a amputação do braço esquerdo, mas a apresentação já havia sido cancelada por causa da gravação do disco.

E assistindo ao show percebo que, apesar de o Def Leppard nunca ter sido uma de minhas bandas de cabeceira, eu conhecia praticamente todas as músicas do repertório, exceção feita a “Man Enough” – muito boa e que certamente eu nunca tinha ouvido antes.

Quando isso acontece, é um sinal da importância da banda na história do rock. Você nem reparava, mas ela estava lá fazendo parte da sua trilha sonora.

O show do Def Leppard foi um competente e divertido desfile de hits. Ver Rick Allen detonando na bateria é uma lição de vida por excelência. E também não é todo dia que se assiste aos guitarristas Phil Collen e Vivian Campbell desfilando técnica e bom gosto lado a lado como se estivessem num ensaio aberto.

Para quem é fã, certamente valeu a pena esperar tanto tempo para ver o Def Leppard no Rock In Rio.

Aerosmith

Chega então a hora da principal atração da noite. E de repente passa aquele pensamento. Será que o Aerosmith já não deu o que tinha que dar? Não, não deu, você responde pra si mesmo depois dos primeiros acordes. Mais de 40 anos de estrada e parece que ainda tem muito chão pela frente para o Aerosmith.

A banda esbanja energia. A voz de Steven Tyler segue exuberante. Joe Perry e Brad Whitford continuam dando um show de entrosamento e roquenrow, enquanto Tom Hamilton e Joey Kramer seguram a onda com uma precisão de fazer inveja a um metrônomo.

Do começo ao fim, a banda teve o público nas mãos. A impressão que fica é que, se um dia o Aerosmith decidisse tocar sua discografia na íntegra e em sequência, sem pausa nem para um café, o público não arredaria pé e a banda teria pique ainda para um generoso bis.

Quem assistiu ao show certamente foi dormir feliz e acordou renovado para um fim de semana repleto de roquenrow no Rock In Rio.

E a julgar pela quinta-feira, quem comprou ingresso para os shows de Def Leppard e Aerosmith no São Paulo Trip fez um excelente investimento.

Para relembrar alguns do momentos dos shows do Aerosmith e do Def Leppard, o Roque Reverso descolou vídeos no YouTube. Do Aerosmith, fique com “Cryin'”, “I Don’t Want to Miss a Thing” e “Dream On”. Do Def Leppard, fique com “Love Bites” e “Let’s Get Rocked”.

Set list Aerosmith

Let the Music Do the Talking
Love in an Elevator
Cryin’
Livin’ on the Edge
Rag Doll
Falling in Love (Is Hard on the Knees)
Stop Messin’ Around
Oh Well
Crazy
I Don’t Want to Miss a Thing
Eat the Rich
Come Together
Sweet Emotion
Dude (Looks Like a Lady)

Dream On
Mother Popcorn
Walk This Way

Set list Def Leppard

Let’s Go
Animal
Let It Go
Love Bites
Armageddon It
Man Enough
Rocket
Bringin’ on the Heartbreak
Switch 625
Hysteria
Let’s Get Rocked
Pour Some Sugar On Me
Rock of Ages
Photograph