E finalmente aconteceu! Uma das maiores bandas da história de todo o rock, o The Who, rompeu uma lacuna de mais de 50 anos e realizou grande show em São Paulo. Na sua primeira apresentação na América do Sul, a banda britânica desfilou clássicos incontestáveis da música e emocionou pais, filhos e netos.
O que se viu na quinta-feira, 21 de setembro, na pulsante Arena do Palmeiras foi um verdadeiro acontecimento da música.
Escalado para ser a atração principal do primeiro dia do novíssimo festival São Paulo Trip, o grupo de Roger Daltrey e Pete Townshend deixou como presente momentos que dificilmente vão sair da mente dos que estiveram no Allianz Parque.
Incrivelmente e diferente de outras noites do mesmo São Paulo Trip, os ingressos para o dia do The Who não ficaram nem perto de se esgotar. Na Arena do Palmeiras acostumada a lotações rotineiras tanto no futebol como na música, havia espaços grandes vazios nas cadeiras inferiores localizadas do lado completamente oposto ao palco.
Ingressos caríssimos? Banda antiga demais para a geração de roqueiros frequentadores de shows em São Paulo? Difícil acreditar que um nome como o The Who não tenha um apelo imediato para quem gosta de boa música ou que sabe da importância deste grupo na história do rock n’ roll.
O fato é que muita gente (mas muita gente mesmo) sabia da importância do evento e gostaria de estar ali. Mas, de maneira diferente do que se imagina no cenário de shows lotados que transforma São Paulo numa das cidades com maior número de apresentações do mundo, a crise econômica do País afeta e impede, sim, muitos de pensarem em ir neste tipo de evento.
A própria overdose de apresentações concentradas no último quadrimestre de 2017 pode ter feito alguns deixarem a apresentação do Who de lado. Muitos, para poderem ver bandas do coração, optaram pela perda do show de uma das maiores lendas do rock.
O show
A apresentação do Who começou dentro do horário esperado. O grupo inglês começou o show com nada menos que “I Can’t Explain” e era possível ver muito marmanjo com os olhos marejados, sabendo exatamente da importância daquele momento. Este jornalista chegou a ver em algumas oportunidades, juntos, avô, pai e neto curtindo tudo aquilo.
“The Seeker”, “Who Are You” e “The Kids Are Alright” vieram na sequência. E que bandas podem trazer uma trinca dessas?
Quem passou pela Pista Vip da Arena do Palmeiras podia ver figuras carimbadas da música e outras personalidades espalhadas naquele pedaço. Gente das bandas Cachorro Grande, Plebe Rude e Capital Inicial estava ali. O chef Alex Atala também foi. Era, sim, um acontecimento.
Depois da gigante “I Can See for Miles”, a banda trouxe “My Generation”, mais um ultramegaclássico do rock. Roger Daltrey chegou a errar no começo da música, mas erros fazem parte do ao vivo. Ele acusou o golpe inicialmente e ficou visivelmente envergonhado. Calejada e com anos de estrada, a banda se ajeitou rapidamente e tudo seguiu nos conformes.
“Bargain”, “Behind Blue Eyes” e “Join Together” antecederam “You Better You Bet”. Se “Behind Blue Eyes” gerou um coro que fez as estruturas do Allianz Parque vibrarem, “You Better You Bet” fez muita gente dançar em plena pista sem o menor constrangimento.
Vale salientar o restante da banda. Daltrey e Townshend são os membros históricos, mas os demais demonstraram entrosamento exemplar. Destaque para o baterista Zak Starkey, filho de Ringo Starr.
Se existe alguém para substituir o saudoso Keith Moon, o Who acertou em cheio com Starkey. Desde 1996 presente nos shows ao vivo do grupo, ele parece até incorporar alguns trejeitos de Moon. Uma câmera bem localizada bem acima da bateria conseguia trazer pelos telões de altíssima definição os detalhes da performance sensacional do músico, que foi bastante festejado pelos fãs.
Pete Townshend assumiu o momento mais técnico do show na sequência, ora cantando ora comandando a instrumental “The Rock”. Foi ali que o público conseguiu ter mais um pouco de noção de quem esta ali na frente, tocando guitarra com 72 anos de idade!
Vale um comentário à parte para um tipo de público que é ainda minoria, mas que precisa urgentemente ser eliminado de qualquer show de rock. Em vários momentos do show, havia poucos sujeitos sem noção conversando no meio da apresentação. Há um tempo, isso seria encarado como uma profunda falta de educação, mas hoje, em tempos nos quais o bom senso é raro, certos indivíduos devem achar que aquilo é um bar, onde você bebe e joga conversa para fora.
No caso do show do Who, este jornalista presenciou gente conversando sobre shows passados e ignorando o que a banda estava tocando, num verdadeiro sacrilégio. E não era gente jovem, mas cinquentões, o que deixa tudo mais grave, pois era daí que deveria sair o exemplo. O mesmo sujeito vai dizer: “Eu pago e faço o que eu quiser.” Aí, entra a máxima do “meu direito termina quando começa o seu”, tão pouco usada nos tempos atuais.
Após o momento de calmaria e contemplação comandado por Townshend, o público foi claramente ao delírio quando o grupo tocou o megaclássico “Pinball Wizard”. Além do envolvimento com cada verso da música, uma iniciativa dos fãs fez com que balões vermelhos fossem liberados, dando um colorido a mais aos show.
Na sequência, mais uma trinca espetacular: “See Me, Feel Me”, “Baba O’Riley” e “Won’t Get Fooled Again”! O que fazer quando você escuta isso na sequência? É a história do rock passando na sua frente!
Era impressionante notar as vozes do público cantando os clássicos. A acústica do Allianz Parque ajuda muito, mas era visível a empolgação do povo presente.
Fim do show e os gritos de “Who! Who! Who!” se espelharam pela arena verde como se fossem gerados por uma torcida de futebol naqueles jogos mais decisivos. Os músicos chegaram a sair do palco, mas brevemente retornaram e emendaram mais duas: “5:15” e “Substitute”.
Foram mais de 20 músicas tocadas em 2 horas que passaram como se o show durasse 2 minutos. Esteve ali no Allianz Parque uma das maiores bandas da história e uma das mais aguardadas em território nacional durante muito tempo.
Preenchida a lacuna, o The Who agora se junta a outros monstros do rock que passaram por aqui. Stones, AC/DC, KISS, Queen, Black Sabbath, Deep Purple, Ramones…Faltava o Who. Agora, não falta mais!
Você nunca verá os Beatles. Talvez, num milagre, pode ver algum dia a reunião do Led Zeppelin e até mesmo um Pink Floyd com a hoje improvável junção de David Gilmour com Roger Waters. Mas, quem viu o Who pela primeira vez depois de mais de 50 anos, sabe que esta também foi provavelmente a última em solo paulistano. A palavra que define é apenas uma: histórico.
Para relembrar o grande show, o Roque Reverso descolou vídeos no YouTube. Fique inicialmente com “I Can’t Explain”. Depois, veja “The Seeker”, “The Kids Are Alright” e “My Generation”. Na sequência, fique com “You Better You Bet”, “Pinball Wizard”, “See Me, Feel Me”, “Baba O’Riley” e “Won’t Get Fooled Again”.
Set list
I Can’t Explain
The Seeker
Who Are You
The Kids Are Alright
I Can See for Miles
My Generation + Cry If You Want
Bargain
Behind Blue Eyes
Join Together
You Better You Bet
I’m One
The Rock
Love, Reign O’er Me
Eminence Front
Amazing Journey
Sparks
Pinball Wizard
See Me, Feel Me
Baba O’Riley
Won’t Get Fooled Again
5:15
Substitute
0 Respostas to “Em show histórico, The Who rompe lacuna e desfila clássicos para pais, filhos e netos no São Paulo Trip”