Não tem jeito. O Flavio sempre se antecipa. Mas quem irá condená-lo? Enquanto passei o sábado pensando em algo para escrever sobre o dia em que John Lennon completaria 70 anos, ele já havia feito mais que sua parte, como de costume.

Já se aproximava da meia-noite e eu tentava me lembrar de algo que pudesse resumir não apenas a música de John, mas também seu pensamento, suas lutas – algo que representasse a alegria da vida, não a tristeza da morte.

Assistia a um documentário sobre ele em algum canal a cabo e, em meio à narrativa da perseguição empreendida pelo governo dos Estados Unidos para calá-lo, John Lennon nem tão de repente assim aparece ao lado de Yoko Ono quando o casal revelava ao mundo a fundação de Nutopia, provavelmente a mais criativa reivindicação de imunidade diplomática da história.

Aconteceu em 1 de abril de 1973. Na época, o governo da degringolândia, obviamente incomodado com o ativismo do ex-Beatle pela paz, fazia um esforço monumental e infrutífero para deportá-lo. Depois de idas e vindas ao Departamento de Imigração dos EUA, John e Yoko apresentaram os fundamentos de seu país conceitual:

“Nós anunciamos o surgimento de um país conceitual, chamado Nutopia. A cidadania deste país pode ser obtida pela (simples) declaração de sua consciência (quanto à existência) de Nutopia. Nutopia não possui território, não tem fronteiras, não emite passaportes; possui apenas gente. Nutopia não dispõe de nenhuma lei além das leis cósmicas. Todas as pessoas de Nutopia são embaixadoras do país”.

E concluíram: “Na condição de embaixadores de Nutopia, nós pedimos imunidade diplomática e reconhecimento, pela ONU, de nosso país e de seu povo”.

A bandeira do país, claro, é branca e aparece reproduzida acima.

Nada, em minha opinião, resume melhor o legado de John Lennon à humanidade e a seu tempo.

É possível tornar-se cidadão de Nutopia pela internet, no site www.joinnutopia.com. Basta declarar consciência.