Redação RЯ 

“Noite do Metal” ou “Dia do Metal”? Tanto faz para quem esteve na Cidade do Rock ou simplesmente acompanhou pela TV o quinto dia do Rock in Rio 2019. O fato é que o dia 4 de outubro foi uma verdadeira celebração do bom e velho rock n’ roll num festival que leva o seu nome.

Iron Maiden, Slayer e Scorpions, todos veteranos, capitanearam o dia voltado ao rock pesado com shows inesquecíveis.

Enquanto isso, a banda brasileira Nervosa, a única do dia formada somente por mulheres, simplesmente destruiu com uma apresentação poderosa e de dar orgulho aos amantes das vertentes mais pesadas do heavy metal.

Sepultura, Anthrax, Helloween, também já veteranos, também fizeram bonito, assim como as bandas brasileiras Claustrofobia e Torture Squad, que ainda receberam como convidado especial ninguém menos que Chuck Billy, vocalista da banda Testament, num momento também memorável.

Se muitos amantes do rock estavam reclamando de um dia completamente voltado ao estilo, foi do heavy metal, do thrash metal e do hard rock vistos na sexta-feira, na capital fluminense, que veio a verdadeira sensação de que havia no Rio de Janeiro um grande festival.

Shows com energia, boa música, público envolvido e participativo ao máximo. Tudo isso foi transmitido ao vivo e a cores para todo o Brasil, fazendo com que o País deixasse de lado, pelo menos temporariamente, aquelas aberrações da natureza musical, que dominam atualmente a música nacional.

É sempre interessante ver setores da mídia que tradicionalmente dão as costas para o rock pesado se renderem quando conseguem ver a empolgação dos shows. Isso vale tanto para a maior emissora de TV do País (e seus canais do grupo na TV paga – com exceção do ótimo BIS), que dão espaço sem fim para breganejos insuportáveis, quanto para alguns jornais e sites que simplesmente ignoram o metal, dando espaço somente para coisas ligadas ao rock indie.

Iron Maiden

No dia reservado ao heavy metal no Rock in Rio, o Iron Maiden, que é um símbolo histórico do festival, fez o show mais completo, unindo qualidade musical, cenários espetaculares e com recepção incrível do público. Para muitos, os efeitos e cenários trazidos à Cidade do Rock como parte da turnê Legacy of The Beast foram os mais impactantes já trazidos pelo grupo ao festival, com direito a uma réplica de uma avião da Segunda Guerra Mundial, o Spitfire.

O vocalista Bruce Dickinson manteve a tradição de liderar a apresentação com maestria. Assumindo vários personagens e usando várias vestimentas durante o show, ele fez o público vibrar demais em vários momentos.

No set list do Iron Maiden, destaque para inclusão de faixas que há tempos não eram executadas no País, como “Flight of Icarus”, que não era tocada desde o Rock in Rio de 1985, e “Revelations”, que foi ouvida por aqui pela última vez na turnê da banda trazida em 2008. Também houve espaço para a inclusão da aqui inédita “Where Eagles Dare”, que, como as duas anteriores, faz parte do clássico álbum “Piece of Mind”, de 1983.

No mais, o Iron Maiden entregou um show daqueles que dificilmente saem da mente de quem esteve na Cidade do Rock ou de quem viu pela TV. Se até então, neste Rock in Rio de 2019, o Foo Fighters havia feito a apresentação mais marcante, depois do Iron Maiden, fica quase impossível alguém tomar o posto de melhor show do festival.

Scorpions

Outra veterana banda a passar pelo Rock in Rio foi o Scorpions, que não tocava no festival desde a primeira edição em 1985. Numa referência justamente ao evento da década de 80, o grupo alemão trouxe dois fatos que relembraram aquele festival: a guitarra reformada, com uma pintura alusiva à bandeira do Brasil; e o vocalista Klaus Maine puxando um coro da plateia para a música “Cidade Maravilhosa”, mostrando o quanto a banda gosta da cidade.

O show manteve basicamente a mesma estrutura vista semanas antes no Rockfest, festival realizado em São Paulo no dia 21 de setembro e que contou com cobertura especial do Roque Reverso.

A despeito de muitos, erroneamente, encararem o Scorpions como uma banda de baladas, o grupo alemão tem uma carreira marcada pelo rock pesado e costuma fazer shows intensos, puxados pelas guitarras afiadas de Rudolf Schenker e Matthias Jabs. Com a entrada na bateria de Mikkey Dee (ex-Motörhead) em 2016, o peso simplesmente aumentou. E o show ficou ainda mais bacana.

Chamou claramente atenção nas redes sociais o exagero em torno do fato do Scorpions ter tocado por último, já que o Iron Maiden era o headliner. O fato é que o grupo britânico simplesmente pediu para o alemão fechar a noite, já que prefere tocar mais cedo do que o horário definido pelo Rock in Rio, após a meia-noite.

Slayer

As apresentações históricas da noite também tiveram o Slayer como grande representante. Naquele que deve ter sido último show do grupo norte-americano de thrash metal em solo nacional, houve emoção de sobra, por parte dos fãs e dos músicos.

Headliner do Palco Sunset (merecia ser uma das quatro atrações do Palco Principal), o Slayer trouxe um set list menor do que o visto dias antes no Espaço das Américas, em São Paulo, onde fez uma apresentação inesquecível para as 8 mil pessoas que lotaram aquele local.

A despeito deste detalhe, normal para show em festivais, o grupo concentrou no espaço menor de tempo os vários clássicos da carreira, numa aula de thrash metal.

Sepultura

Banda com um número alto de participações no Rock in Rio, o Sepultura, orgulho nacional, fez mais uma grande apresentação no festival no Palco Mundo. Mantendo o peso e a energia de sempre, o grupo brasileiro trouxe os vários hits consagrados da carreira.

Vale destacar que o público do Rock in Rio foi presenteado com a inclusão no set list da musica “Isolation”, que estará no álbum novo que está sendo gravado pela banda.

Também não faltou emoção quando o Sepultura tirou acordes da música “Carry On”, do Angra, numa homenagem ao músico Andre Matos, que faleceu em 2019. Nos telões as imagens de Matos fizeram muitos se emocionarem.

No mais, a garra de sempre do Sepultura foi mantida, com a entrega exemplar que a banda costuma dar aos fãs. Se há um grupo que merece participar de todas as edições do Rock in Rio, esta banda é o Sepultura. É o mínimo para o maior nome de todos os tempos do rock no Brasil.

Helloween

Outra atração do Palco Mundo foi o também veterano Helloween. O grupo alemão foi, ao lado do Iron Maiden, o representante do heavy metal, num dia dominado pelo thrash metal.

Com seu revezamento de vocalistas históricos, que já tinha sido visto no Rockfest em São Paulo, o Helloween trouxe mais um show digno e de alta qualidade, preparando o território para a apresentação seguinte, de ninguém menos que o Iron Maiden.

Anthrax

Outro representante clássico do thrash metal, o Anthrax, por incrível que possa parecer, fez seu primeiro show na história do Rock in Rio. Com um set list enxuto por causa do tempo de festival, o grupo norte-americano optou pelo desfile de clássicos no Palco Sunset.

O repertório foi bem mais curto, por exemplo, do que o visto na ótima apresentação que o grupo fez em São Paulo em 2017. Mas isso não impediu o Anthrax de deixar sua marca no festival.

No dia seguinte ao show, o grupo postou nas redes sociais fotos e mostrou a todos que havia acabado de realizar o sonho de tocar no Rock in Rio.

Claustrofobia, Torture Squad e Chuck Billy

Também no Palco Sunset, os grupos brasileiros Claustrofobia e Torture Squad se revezaram no Palco Sunset. As duas bandas empolgaram o público com shows dignos.

Pelo Claustrofobia, destaque especial para a execução da música “Pinu da Granada”, que trouxe um som com peso considerável, fazendo com que fosse impossível não bater cabeça.

Do lado do Torture Squad, chamou a atenção, além do bom show, a performance da vocalista Mayara Puertas, que deixa muito marmanjo que se considera “o machão do metal” no bolso.

Como convidado especial, ninguém menos que Chuck Billy, do Testament, dividiu o palco com as bandas brasileiras.

Num momento histórico e bacana demais, ele cantou músicas do Testament, com destaque para “Practice What You Preach” e “Electric Crown”, que ficou sensacional, tanto na questão do entrosamento como no visual de palco dos músicos tocando juntos, em especial os bateristas Amilcar Christófaro (Torture Squad) e Caio D’angelo (Claustrofobia), que ficaram de costas um para o outro, mas simplesmente detonaram.

Nervosa

Com tantas atrações veteranas brasileiras e internacionais, o espaço de revelação do rock pesado do Rock in Rio ficou inteiramente destinado ao grupo Nervosa, que o leitor do Roque Reverso já conhece há algum tempo.

Quem acompanha a seção Drops Rock Brazuca, viu que o grupo paulistano foi crescendo a cada lançamento.

A realidade atual do Nervosa passou de revelação do thrash metal para uma banda já respeitada internacionalmente. E foi isso que os fãs comprovaram no Rock in Rio, já que o grupo trouxe um som com peso absurdo e uma performance de dar orgulho.

Não faltou ainda uma referência, durante o show, à morte da vereadora Marielle Franco, mostrando para muitos que há, sim, bandas de rock que se posicionam politicamente em relação a causas importantes.

Óbvio que teve muito “machão do metal”, alguns conservadores ao extremo, que não gostou desta postura, ainda mais feita por mulheres, que muitos parecem não suportar ver fazendo sucesso. Uns se acham superiores e relegam o sexo feminino ao segundo tempo. Outros simplesmente não gostam de mulher. Outros ainda gostariam de ser mulher, mas não assumem, gerando esse clima de inveja. E ainda, por incrível que possa parecer, há mulheres que não aceitam um som pesado feito por garotas.

O fato é que o Nervosa é uma realidade, é respeitado no mundo inteiro, provou isso no Rock in Rio e essa galera vai ter que engolir. Quem tem dúvida, basta procurar a performance das minas, por exemplo, em “Into Moshpit”.

O Roque Reverso descolou vídeos no YouTube que mostram vários momentos dos shows da sexta-feira, 4 de outubro, no Rock in Rio.