O público brasileiro aguardou décadas para ver o Soundgarden e essa espera valeu a pena, já que a banda norte-americana de Seattle fez um grande show no dia 6 de abril no Lollapalooza 2014. Para uma plateia que lotou o espaço destinado ao Palco Onix do festival, a banda, que, entre as grandes do festival era única inédita no País, trouxe inúmeros sucessos da carreira, especialmente dos grandes álbuns “Badmotorfinger”, de 1991, e “Superunknown”, de 1994.
Ninguém sabe explicar o motivo (nem mesmo o próprio Soundgarden) da lacuna histórica do grupo em palcos brasileiros. Eles já haviam chamado a atenção do público do heavy metal bem antes do Nirvana estourar no início da década de 90.
Aproveitaram toda a onda grunge de Seattle, alcançaram grande sucesso, acabaram e retornaram anos depois, já no século XXI.
Para sorte dos brasileiros, surgiu a grande oportunidade no Lollapalooza. Pontualmente às 18h55, Chris Cornell (vocal e guitarra), Kim Thayil (guitarra), Ben Shepherd (baixo) e Matt Chamberlain (bateria) subiram ao palco e tocaram durante 1h30, sem efeitos pirotécnicos e apostando apenas no bom e velho rock n’ roll.
A primeira da noite foi “Searching With My Good Eye Closed”, do álbum “Badmotorfinger”. A despeito de não ser tão badalada como outros hits do disco, que é considerado por muitos o melhor do Soundgarden, ela foi recebida pelos fãs como se fosse um clássico, tamanha a vontade de ver o grupo.
O som inicialmente parecia um pouco embolado, mas logo foi resolvido na segunda canção tocada, “Spoonman”, do disco “Superunknown”. A empolgação era grande no Autódromo de Interlagos e o clima ameno e o céu sem chance de chuva ajudaram a construir o cenário perfeito para a multidão apreciar o show.
Antes de “Spoonman”, Chris Cornell já havia agradecido ao público por “esperar tanto tempo” para ver a banda e, logo depois da antiga “Flower”, do longínquo disco de estreia “Ultramega OK”, de 1988, ele voltou a citar a demora, dizendo que “nunca era tarde demais”.
Na sequência, o Soundgarden emendou três músicas das mais admiradas pelos fãs da carreira da banda: “Outshined”, “Black Hole Sun” e “Jesus Christ Pose”, todas com clipes de sucesso imenso na TV, numa época que o YouTube nem existia.
Houve quem, especialmente nas redes sociais e vendo pela TV, criticasse a voz de Chris Cornell durante boa parte do show. Para quem estava em Interlagos, porém, o vocalista não comprometeu o show e cantou sem maiores problemas a maioria das canções.
Vale lembrar que Cornell está prestes a completar 50 anos (em 20 de julho). Não dá para exigir, portanto, performance idêntica do período da juventude do vocalista, quando ele estava entre as maiores vozes de Seattle e alcançava agudos quase sobrenaturais.
Antes de “Jesus Christ Pose”, clássico do “Badmotorfinger”, ele fez uma média com o público brasileiro, pois disse que a música não estava prevista inicialmente no set list, mas foi inserida no último ensaio da banda antes do show. Chegou a fazer o símbolo da cruz com a guitarra e o pedestal do microfone e ganhou mais uma vez a multidão.
A apresentação seguiu com “Like Suicide”, do “Superunknown”, e “Been Away Too Long”, a única do álbum mais recente da banda, “King Animal”, de 2012. Nem era preciso, mas o vocalista explicou que o pano de fundo do palco trazia exatamente a figura da capa do disco.
Depois do sucesso mais fresco, nada como resgatar três canções consecutivas do álbum mais vendido “Superunknown”, que completa 20 anos em 2014. “The Day I Tried to Live”, a ótima “My Wave” e a faixa-título foram executadas com perfeição e mostrou que os norte-americanos ainda têm anos de qualidade a oferecer aos fãs.
Se, para alguns, a voz de Cornell não é a mesma dos áureos tempos, a dupla Kim Thayil e Ben Shepherd continua com tudo. O primeiro mantém facilmente, ao lado de Jerry Cantrell, do Alice in Chains, o posto de melhor guitarrista da safra do grunge. O segundo traz com o baixo o complemento de peso que o Soundgarden precisa. O baterista Matt Chamberlain está apenas substituindo Matt Cameron, que excursiona com o Pearl Jam, mas, também com anos de estrada, mandou muito bem no instrumento.
As três músicas seguintes mantiveram o clima de Anos 90 no ar: “Blow Up the Outside World”, “Fell on Black Days” e “Burden in My Hand”. Enquanto a primeira e a terceira representaram o disco “Down on the Upside”, de 1996, quando o grupo caminhava para um período ruim da carreira, “Fell on Black Days” foi tocada com enorme qualidade e deixou o público sem piscar.
Quando já havia uma sensação de que a apresentação chegava ao fim, Kim Thayil iniciou os acordes da frenética “Rusty Cage”, que elevou a energia da pista e gerou até pequenas rodas de mosh em lugares isolados. Esta talvez tenha sido a melhor do show e ainda contou com um bom jogo de luzes que a deixou ainda mais interessante.
Para fechar, o grupo tirou da manga ainda a música “Beyond the Wheel”, do primeiro disco. Durante a execução, Chris Cornell desceu do palco e foi literalmente para a galera, caminhando pelo corredor central que dividia a pista ao meio.
O saldo final do show foi bastante positivo, com elogios da crítica e do público presente. Com a apresentação no Lollapalooza, a banda preencheu uma lacuna histórica e saciou uma imensa vontade dos fãs. Resta agora saber se voltará ao País para uma performance exclusiva em alguma casa fechada, como fez o Alice in Chains recentemente em São Paulo.
Para relembrar o grande show do Soundgarden no Lollapalooza, o Roque Reverso descolou vídeos no YouTube. Fique inicialmente com “Black Hole Sun”. Depois veja “Jesus Christ Pose”, “My Wave” e “Fell on Black Days”, esta última filmada por nós direto do público. Para fechar, “Rusty Cage”.
Set list
Searching With My Good Eye Closed
Spoonman
Flower
Outshined
Black Hole Sun
Jesus Christ Pose
Like Suicide
Been Away Too Long
The Day I Tried to Live
My Wave
Superunknown
Blow Up the Outside World
Fell on Black Days
Burden in My Hand
Rusty Cage
Beyond the Wheel
Achei a voz dele meio abafada em relação à parte instrumental…
Mas o show foi bom e valeu por ter visto a banda pela primeira vez no Brasil!
Alguns reclamaram sobre isso, mas achei que não comprometeu.