mtv11Muito já foi dito sobre o encerramento das atividades da MTV Brasil. Depois de 23 anos de existência, o canal fez sua última transmissão no dia 30 de setembro de 2013, tendo como o clipe da música “Maracatu Atômico”, de Chico Science & Nação Zumbi, como o último de sua história. O sentimento predominante é, no mínimo, de tristeza, passando também pela indignação e pelo inconformismo, já que há a perda de um canal com foco na juventude e que ainda tinha a música, em TV aberta, como seu principal objetivo.

A detentora da marca MTV, a norte-americana Viacom, recuperou os direitos que estavam em posse do grupo Abril, que não tem o vigor financeiro de outros tempos e não vinha encontrando uma saída para ter lucros com um canal aberto com videoclipes musicais. Com isso, a MTV passou, desde o dia 1º de outubro a ser vista no Brasil apenas na TV paga.

A desculpa usada para justificar a situação financeira ruim da MTV Brasil e a dificuldade de ser ganhar dinheiro com clipes musicais na TV foi a de que a internet e o YouTube facilitavam a vida de uma geração mais jovem que, atualmente, encontra tudo o que deseja com simples procuras no próprio celular ou iPhone. O cenário, portanto, é bem diferente daquele do começo dos anos 90, na era pré-internet, na qual era simplesmente a realização de um sonho contar com um canal só de música e clipes.

O certo é que, se essa desculpa do YouTube e da internet fosse aceitável, canais como o Multishow e o Bis, também estariam mal das pernas. O que vimos, no entanto, é a audiência deles cada vez mais aumentando, especialmente com a transmissão de festivais ao vivo e a veiculação de bons documentários musicais.

Voltando um pouco atrás, é fácil identificar quando a MTV Brasil começou a entrar num caminho ruim. Foi exatamente nos anos 2000, quando ela começou a tentar captar um público dos outros canais com clipes mais populares, além de diminuir o conteúdo musical, apostando em programas de comportamento, em linha com o que era observado na própria MTV norte-americana.

Depois dessa decisão, muitos fãs de carteirinha que acompanhavam o canal brasileiro desde 1990 passaram a deixar de ver a emissora, frustrados com a nova programação, que passou a contar até com clipes de pagode, além de reality shows  toscos feitos pela MTV dos EUA.

Confirmado o tiro no pé, a MTV Brasil chegou a tentar, pouco depois, a diminuir a quantidade de reality shows e até encontrou no humor uma saída interessante para atrair o público mais jovem. Mas aquele fã de antigamente, de carteirinha dos anos 90, nunca mais se dedicou como antes.

O fato é que era perfeitamente possível que a emissora vivesse com a música, mesmo em tempos atuais de YouTube. Sabendo criar uma programação atraente, com documentários sobre bandas e estilos, fatalmente o canal poderia captar telespectadores ávidos por informação e conhecimento musical, como é feito cada vez mais, por exemplo, com o Bis. Qual o jovem que não gostaria de saber detalhes da história de um Rolling Stones ou do movimento punk?

A MTV Brasil sempre foi marcada pela inovação. Grande espaço para a criatividade, atraiu ideias novas que eram vistas em suas vinhetas ousadas e obrigou até o mercado publicitário a se adaptar melhor ao mundo jovem. Foi pioneira em vários casos, como, por exemplo, quando passou a contar com uma programação de 24 horas na TV aberta, sem interrupção, fato comum hoje, mas inimaginável antes.

A emissora também revelou uma série de talentos que acabaram saindo para outros canais. Zeca Camargo, Cazé, Marina Person, Gastão Moreira, Marcelo Adnet, Dani Calabresa, Tata Werneck e Astrid Fontenelle são só alguns exemplos que marcaram a MTV e depois continuaram a brilhar em outras emissoras.

“Lado B”, “Fúria Metal”, “Rockstória”, “Disk MTV”, “Comédia MTV” e “Rock Gol” são alguns dos programas que marcaram época e que vão deixar saudade, assim como os “Acústicos”, que tanto sucesso fizeram e que serviram para reerguer várias bandas nacionais.

O próprio rock, que é tema principal deste Roque Reverso, sempre teve espaço que nunca conseguiu alcançar em outras emissoras de TV aberta. Em qual canal, por exemplo, teríamos um programa, como o Disk MTV, no qual os clipes líderes de audiência chegaram a ser os do Guns N’ Roses, do Faith No More e até do Sepultura?

A MTV não morreu no Brasil, já que a Viacom agora levou o canal para a TV paga. Mas o fato de não termos mais facilmente a possibilidade de assistir música de boa qualidade quando quisermos na TV aberta é algo para se lamentar para sempre. Na própria nova MTV, as primeiras horas de programação já mostraram que a levada será bem mais comercial e pop, com figuras como Anitta, mais presentes do que no finado canal.

No local onde era a MTV Brasil, o grupo Abril passou a veicular uma programação voltada para o mercado de carreiras profissionais, um verdadeiro porre para quem viu aquele lugar como um sinônimo de inovação e modernidade.

Para relembrar grandes momentos da MTV Brasil, o Roque Reverso descolou vídeos no Youtube. Fique, por exemplo, com um “Fúria Metal Especial” que levou Gastão Moreira aos Estados Unidos para visitar os integrantes do Sepultura com a formação clássica. Depois, assista na íntegra o show do U2, em 1998, em São Paulo, que a emissora transmitiu ao vivo para todo o País. Para fechar, o Acústico Legião Urbana, também na íntegra.