Guns N' Roses no São Paulo Trip - Foto: Divulgação Mercury Concerts/Ricardo MatsukawaAlgo inimaginável na história recente aconteceu em São Paulo no dia 26 de setembro: o Guns N’ Roses, com boa parte de sua formação clássica retornou à capital paulista em menos de 1 ano, e justamente no mesmo local, para deleite dos fãs. Atração principal da última noite do novíssimo festival São Paulo Trip, a banda norte-americana de hard rock tocou durante 3 horas e 15 minutos.

Com o vocalista Axl Rose, o guitarrista Slash e o baixista Duff McKagan, o Guns N’ Roses desfilou uma penca de hits e covers.

Na Arena do Palmeiras, que recebeu 4 dias de festival, o show do Guns visualmente perdeu em quantidade de público apenas para a noite do Bon Jovi, que contou com a lotação esgotada. Superou, com isso, em quantidade de gente, as noites que tiveram como headliners o The Who e o Aerosmith.

Depois de críticas recebidas pela sua performance na apresentação do Rock in Rio dias antes, o vocalista Axl Rose se esforçou para entregar um show melhor na capital paulista e conseguiu, a despeito de sua voz mostrar ainda um claro desgaste em várias músicas.

Na guitarra, mantendo a tradição, Slash trouxe mais uma aula aos fãs, garantindo a audiência do extenso show até pouco depois da meia-noite, em plena virada de terça-feira para quarta-feira na capital paulista.

Quem viu os dois memoráveis shows no mesmo Allianz Parque e a apresentação do São Paulo Trip consegue constatar que, a despeito da boa performance de 2017, ela não superou as de 2016. Para chegar à conclusão, há 3 fatores determinantes: Axl estava melhor no ano anterior; o público estava mais animado e excitado em 2016 com o grande retorno; e o excesso de covers, detalhe decisivo para o show de mais de 3 horas.

A voz de Axl melhorou muito e surpreendeu muita gente no São Paulo Trip. Dias antes, chegou a ser constrangedora a performance do vocalista em algumas músicas tocadas no Rock in Rio. Em 2016, havia sido algo parecido entre a primeira e a segunda noite na Arena do Palmeiras, com o detalhe de que aquelas duas performances haviam sido mais convincentes.

Antes que a chuva de críticas apareça, não é que o público do festival tenha mostrado apatia, mas o do ano anterior estava bem mais animado. Talvez, pelo show de 2017 ter sido numa noite de terça-feira, em pleno meio de semana, a energia não tenha sido a mesma. No fim da apresentação, por sinal, quando já se aproximava da meia noite, muita gente deixou o Allianz Parque, especialmente por causa do transporte público.

Em relação às faixas covers, houve um claro excesso delas em 2017. A banda pode ter tido grande boa vontade para levar ao público à máxima diversão, mas muita coisa ali, como “Wichita Lineman”, de Jimmy Webb, e “I Got You (I Feel Good)”, de James Brown, poderia ficar de fora sem que o show fosse prejudicado e tão alongado.

Guns N' Roses no São Paulo Trip - Foto: Divulgação Mercury Concerts/Ricardo MatsukawaGuns N' Roses no São Paulo Trip - Foto: Divulgação Mercury Concerts/Ricardo Matsukawa Guns N' Roses no São Paulo Trip - Foto: Divulgação Mercury Concerts/Ricardo MatsukawaGuns N' Roses no São Paulo Trip - Foto: Divulgação Mercury Concerts/Ricardo MatsukawaGuns N' Roses no São Paulo Trip - Foto: Divulgação Mercury Concerts/Ricardo MatsukawaGuns N' Roses no São Paulo Trip - Foto: Divulgação Mercury Concerts/Ricardo Matsukawa

O show

A apresentação no São Paulo Trip começou com a sempre ótima “It’s So Easy”, trazendo a energia necessária na abertura. Como se imaginava, o público na Arena do Palmeiras entrou em êxtase e gerou um feedback dos mais animados para a banda.

Dali em diante, as 13 músicas iniciais, até a execução de “Civil War” seguiram um script que já havia sido adotado na passagem pela arena em 2016 e também no Rock in Rio. “Mr. Brownstone”, “Chinese Democracy”, “Welcome To The Jungle”, “Double Talkin’ Jive”, “Better”, “Estranged”, “Live and Let Die”, “Rocket Queen” e “You Could Be Mine” foram tocadas sem que Axl conversasse com o público.

Como em shows anteriores, as faixas do período clássico levantaram o público, enquanto as do álbum “Chinese Democracy” foram aquelas na qual o público aproveita para dar uma relaxada e até comprar uma cerveja.

Destas citadas, “Mr. Brownstone” foi a melhor executada pela banda como todo. “Double Talkin’ Jive” teve a melhor performance de Axl. E, claro, “Estranged” teve a aula tradicional de Slash na guitarra, com solos magníficos e tudo aquilo que vale cada centavo gasto no show.

Em todas as faixas, chamou a atenção os ótimos efeitos visuais nos telões. Em “You Could Be Mine”, desenhos e cenas que faziam referência ao clipe da faixa eram mostrados para os fãs com grande qualidade e definição. Em “Civil War”, também como uma das melhores execuções de todo o show, cenas de guerra, miséria humana e outras coisas ridículas geradas pelo homem foram passadas no telão central.

Antes, Duff assumiu os vocais para executar a cover “New Rose”, do The Damned, com trecho na introdução de You “Can’t Put Your Arms Around a Memory”, de “Johnny Thunders”. “This I Love”, que foi a música anterior a “Civil War” foi o momento mais fraco do show, com agudos de Axl Rose até perturbadores para os bons ouvidos.

Na sequência, vieram “Yesterdays” e “Coma”. A primeira, que não esteve nas apresentações feitas pela banda em 2016 na Arena do Palmeiras, poderia ter sido substituída por outra do mesmo disco “Use Your Illusion II”. “Pretty Tied Up” seria uma bela aposta para substituí-la, mas, infelizmente não foi o que aconteceu.

“Civil War” é uma das músicas mais completas do Guns N’ Roses. Com diversas mudanças no andamento, show à parte de Slash, variações vocais de Axl e inúmeros efeitos interessantes visuais nos telões, a faixa pode até ter cansado alguns pela longa duração superior a 10 minutos, mas, para verdadeiro fã do Guns, foi um prato cheio para a contemplação.

Depois dela, Axl finalmente conversou com o público, apresentando todos os músicos da banda. E, logo em seguida, Slash viveu mais um de seus grandes momentos com mais um de seus solos.

Inicialmente, o guitarrista executou um solo específico que contou com trechos de “Johnny B. Goode”, do grande Chuck Berry. Depois, brindou o público com a tradicionalíssima “Speak Softly Love”, que é o tema do filme “O Poderoso Chefão”.

No retorno da banda, foi a vez do ultra clássico “Sweet Child O’ Mine”, seguido pela dispensável cover “Wichita Lineman”.

Depois disso, o show do São Paulo Trip, talvez, tenha tido seu grande diferencial, do lado positivo, em relação às apresentações do ano anterior na mesma Arena do Palmeiras. Tudo porque foram executadas duas faixas com rara aparição em performances no Brasil: “Used To Love Her” e “My Michelle”. Elas agradaram demais e fizeram muita gente voltar ao fim da década de 80.

Guns N' Roses no São Paulo Trip - Foto: Flavio Leonel/Roque Reverso Guns N' Roses no São Paulo Trip - Foto: Flavio Leonel/Roque Reverso Guns N' Roses no São Paulo Trip - Foto: Flavio Leonel/Roque Reverso Guns N' Roses no São Paulo Trip - Foto: Flavio Leonel/Roque Reverso Guns N' Roses no São Paulo Trip - Foto: Flavio Leonel/Roque Reverso Guns N' Roses no São Paulo Trip - Foto: Flavio Leonel/Roque Reverso

Após o grande momento, a banda emendou “Wish Were Here”, do Pink Floyd, que serviu de deixa para o momento no qual Axl Rose assume o piano. De início, ele repetiu a boa performance já vista um ano antes quando trouxe um trecho de “Layla”, de Eric Clapton. Na sequência, executou a bela “November Rain”, que contou com vários fãs empunhando bexigas vermelhas iluminadas com celulares, num efeito bem bonito, que podia ser visto tanto em pontos na Pista e Pista Vip como nas arquibancadas.

Depois de “November Rain”, o Guns tocou nada menos que três covers seguidas: “Black Hole Sun”, do Soundgarden, “Knockin’ On Heaven’s Door”, de Bob Dylan, e “I Got You (I Feel Good)”, de James Brown. Das três, como já era óbvio a tradicional música de Dylan foi a que mais agradou.

Para fechar a primeira longa parte do show, a banda trouxe a sempre ótima “Nightrain”. O grande problema para quem adora esta música é que Axl, já cansado, sofre demais para cantar a parte aguda do fim da canção. Se, no disco, a junção da voz dele com o solo de guitarra de Slash é uma das coisas mais lindas já feitas no rock, no show, fica sempre aquela sensação de que poderia ser melhor. Talvez, se executada logo no início, o resultado poderia ser melhor.

Após a breve pausa para o descanso, o grupo voltou ao palco para tocar duas de suas maiores baladas. “Don’t Cry” e “Patience” vieram mais uma vez para gerar aquele sentimento de nostalgia a quem curtiu muito a fase clássica do Guns. Na segunda, foi muito interessante o trabalho de violões de Slash e Richard Fortus, que, se não é o grande Izzy Stradlin, também não compromete.

A última cover da noite foi “The Seeker”, do The Who, que, se fosse substituída por alguma outra canção do Guns, poderia render mais. Para fechar, nada menos que “Paradise City”, agitou o ambiente e chegou até a gerar algumas pequenas rodas de mosh no meio o público.

O saldo final da apresentação do Guns N’ Roses no São Paulo Trip foi positivo. Depois das críticas recebidas no Rock in Rio, Axl veio claramente melhor no festival paulistano. As mais de 3 horas de show, que já haviam virado recorde histórico no festival carioca, também viraram marca não somente no evento da capital paulista como na própria Arena do Palmeiras.

Sim, Axl não tem a mesma voz da juventude, enquanto Slash, por outro lado, parece cada dia melhor. O fã do Guns N’ Roses, contudo, torce para que a reunião dos dois e de Duff continue. Com o cenário atual fraco do rock n’ roll, uma banda clássica, como o Guns, ainda serve de antídoto para as decepções da música atualmente.

Para relembrar o bom show do Guns N’ Roses no São Paulo Trip, o Roque Reverso descolou vídeos no YouTube. Fique inicialmente com a abertura e a dobradinha “It’s So Easy”/”Mr. Brownstone”. Depois, veja a banda executando “Civil War”, “Sweet Child O’ Mine”, “Used To Love Her”, “My Michelle” e “November Rain”. Para fechar, veja o Guns com “Nightrain” e “Paradise City”.

Set list

It’s So Easy
Mr. Brownstone
Chinese Democracy
Welcome To The Jungle
Double Talkin’ Jive
Better
Estranged
Live and Let Die
Rocket Queen
You Could Be Mine
New Rose
This I Love
Civil War
Yesterdays
Coma
Speak Softly Love (Tema do filme ‘O Poderoso Chefão’)
Sweet Child O’ Mine
Wichita Lineman
Used To Love Her
My Michelle
Wish You Were Here
November Rain
Black Hole Sun
Knockin’ On Heaven’s Door
I Got You (I Feel Good)
Nightrain

Don’t Cry
Patience
The Seeker
Paradise City