Quis o destino que o então “comedor de morcegos” e “figura ameaçadora” da sociedade Ozzy Osbourne se transformasse, anos depois, em figura querida e tida como “engraçada” pelas famílias. Surfando nessa onda já há um bom tempo e amparado num repertório consolidado e clássico, o eterno vocalista do Black Sabbath continua arrastando multidões por onde passa. Em São Paulo, no Monsters of Rock, não foi diferente e o público que lotou a Arena Anhembi no dia 25 de abril saiu da festa regida pelo “Príncipe das Trevas” com a alma lavada por puro heavy metal.
O festival tinha atrações de peso e capazes de captar grande quantidades de fãs, como o Motörhead e o Judas Priest, mas era visível o apelo maior exercido por Ozzy na arena paulistana. Com essa atmosfera favorável, o vocalista já entrou com o jogo ganho desde a primeira música e só administrou com simpatia e brincadeiras o bom show que fechou a primeira noite do Monsters de 2015.
O clássico “Bark at the Moon” deu início à apresentação e, logo de cara, levou o público ao delírio. Com a boa qualidade do som que ecoava pelas caixas da arena, o heavy metal estava bem representado e o fãs se entregavam ao máximo.
“Mr. Crowley” é uma obra-prima do rock e tradicionalmente arrepia o mais frio dos mortais a cada apresentação de Ozzy Osbourne. Tente assistir a um show do vocalista com essa música e ficar sem a belíssima melodia na cabeça nos sete dias seguintes!
O guitarrista atual de Ozzy, Gus G, não é nenhum Zakk Wylde e muito menos um Randy Rhoads, mas está muito longe de comprometer as apresentações. Seguindo o caminho trilhado pelos músicos antecessores, G tirou de seu instrumento as notas mágicas da música e fez, junto com a voz inconfundível de Ozzy, muito marmanjo encher os olhos d’água, com direito a mãozinha coreografada para o ar no ritmo da canção.
Água, por sinal, é o que não faltou na apresentação do Mr. Madman. Se, no Estado de São Paulo, o momento é da maior crise hídrica da história e milhões enfrentam um racionamento negado de maneira bizarra e inacreditável pelo Governo do Estado, no Anhembi, Ozzy deixou o politicamente correto de lado e gastou água até não poder mais por meio de mangueiras que encharcavam fotógrafos e o público mais próximo do palco.
“I Don’t Know” foi a terceira da noite e deu sequência ao repertório parecido com o adotado por Ozzy nas recentes passagens em São Paulo no mesmo Anhembi, em 2011, e no antigo estádio do Palmeiras, em 2008. Na sequência “Fairies Wear Boots”, do Black Sabbath, trouxe a banda atual do vocalista muito bem entrosada, com destaque para o baterista Tommy Clufetos, que já tinha surpreendido muita gente em 2013 na histórica apresentação que o grupo original do “Príncipe das Trevas” (com Tony Iommi e Geezer Butler) realizou no Campo de Marte, também na capital paulista.
Após “Suicide Solution” e “Road to Nowhere”, foi a vez de “War Pigs” trazer mais um momento de Black Sabbath ao show. Um dos vocalistas mais marcantes do rock, Ozzy claramente não possui a mesma voz com seus 66 anos de idade. Desafinadas perdoáveis à parte, a execução da música foi bem recebida e não deixou a desejar.
Logo em seguida, “Shot in the Dark”, da carreira solo do vocalista, talvez tenha sido a mais pop da noite. Em contrapartida, a canção seguida “Rat Salad”, veio no caminho contrário do instrumental e fez Gus G e Tommy Clufetos darem um show à parte, enquanto Ozzy descansava um pouco.
Em “Iron Man”, a voz do Mr, Madman voltou a dar uma rateada no começo, mas Ozzy se recuperou na sequência. “I Don’t Want to Change the World” foi a penúltima da primeira parte do show e abriu caminho para a sempre ótima “Crazy Train”, que também faz parte das canções que grudam na cabeça durante dias.
Pausa para o descanso rápida e o retorno de Ozzy ao palco foi seguido da execução da obrigatória “Paranoid”, do Sabbath. Com o público rindo à toa e vibrando muito com a boa apresentação, o vocalista, mais uma vez, fez valer o (caro) ingresso pago para o quem quisesse assistir ao show.
Para relembrar mais uma boa apresentação de Ozzy Osbourne em São Paulo, o Roque Reverso descolou vídeos no YouTube. Fique inicialmente com a indispensável “Mr. Crowley”. Depois veja “Fairies Wear Boots” e “Iron Man”, ambas filmadas por nós. Para fechar, fique com “Crazy Train”.
Set list
Bark at the Moon
Mr. Crowley
I Don’t Know
Fairies Wear Boots
Suicide Solution
Road to Nowhere
War Pigs
Shot in the Dark
Rat Salad
Iron Man
I Don’t Want to Change the World
Crazy Train
Paranoid
Fórmula do Ozzy para chegar aos 66 anos dando muito show no palco:
-Muitos morcegos suculentos
-Muito água no povo
-E muito rock n’ roll na veia!
Nada mal para meu primeiro encontro com o Príncipe das Trevas!
Ozzy tá gagá, mas ainda canta muito!