Dezembro de 2013 marca o aniversário de 20 anos da estreia avassaladora do Pantera nos palcos brasileiros. A banda fez dois shows no saudoso Olympia em São Paulo, nos dias 7 e 8 de dezembro de 1993. Foram duas apresentações que entraram para a história da cena paulistana do heavy metal.

A apresentação do dia 7 foi coberta pela imprensa, como pode ser visto neste arquivo do jornal Folha de S. Paulo. O show do dia 8 teve a presença deste jornalista que vos escreve, na época um jovem fã.

Vale lembrar que havia outra data (6 de dezembro) agendada para capital paulista, mas não foi realizada apresentação neste dia por questões de logística, já que o grupo estava passando ainda pela Argentina.

O Pantera trazia para a América do Sul a turnê do excelente, brutal e perturbador álbum “Vulgar Display of Power”, que havia sido lançado em 1992. O disco sucedia o não menos ótimo disco “Cowboys from Hell”, de 1990.

Ambos os trabalhos representavam uma virada radical na carreira do grupo, já que os quatro discos anteriores traziam uma sonoridade ligada a um hard rock farofa dos Anos 80 – importante registrar que “Power Metal”, de 1988, é diferente dos três anteriores e já tem algo de heavy metal e thrash metal em algumas faixas. Com os dois álbuns de 1990 e 1992, o Pantera enterrava esta fase anterior e entrava de cabeça num thrash metal mais modernizado que atraiu uma legião de fãs.

Esta guinada fez com que o grupo saltasse rapidamente para o seleto grupo de melhores bandas do heavy metal na época e os shows de São Paulo traziam a banda exatamente no auge, algo raro para aquele momento, ainda de poucas apresentações internacionais de peso em função não somente da tradicional distância do País em relação à América do Norte e à Europa, mas principalmente por conta da péssima situação econômica brasileira.

Para quem não se lembra ou não viveu a época, dezembro de 1993 ainda trazia o Brasil na época da hiperinflação. Se tomarmos 1993 como base, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou no ano incríveis 2.477,15% de inflação. Com isso e com o dólar em níveis bem mais altos do que nos tempos atuais, ficava muito mais complicado trazer bandas de fora para cá.

O ingresso de Pista para o show do Pantera no Olympia custava Cr$ 4.ooo,oo. Só para comparar, o dólar comercial, no dia 8 de dezembro de 1993, fechou cotado a Cr$ 252,270. Assim, ficava fácil entender porque era difícil trazer bandas para cá com maior regularidade.

Ainda assim, São Paulo havia presenciado os shows do Metallica, pela turnê do “Black Album”, e do Anthrax, pela turnê do “Sound of White Noise”, em 1993. O Pantera era, portanto, a banda que fechava o ano com chave de ouro.

O clima era de ansiedade e o Olympia recebeu duas noites de casa cheia: 5 mil pessoas por dia! No dia 8, o calor era imenso e o ar condicionado da casa de shows simplesmente não deu conta.

A abertura do show foi do ótimo grupo brasileiro Dr. Sin. Na época, o hard rock da banda não era muito respeitado pela galera fã do Pantera, já que o público queria ali o maior peso possível. O que se viu, no entanto, foi uma apresentação extremamente competente da banda local, sem maiores complicações em relação à plateia.

Hora do show do Pantera e, daquele momento para frente, o Olympia se transformou num local de sobrevivência para quem estava ali. Para “complicar”, o grupo norte-americano iniciou a apresentação simplesmente com “New Level”, uma das mais pesadas do “Vulgar Display of Power”.

Este jornalista estava perto do palco, numa imaginária quinta ou sexta fileira. Com o imenso empurra-empurra e com as rodas de mosh formadas, foi rapidamente jogado para trás, para o meio da Pista. Foi exatamente nesse show que aprendeu a “conquistar território” nas apresentações e a voltar na marra para mais perto do palco.

O interessante é que foram várias as vezes em que se chegava perto do palco e o empurra-empurra fazia as pessoas voltarem para o meio da pista. Para complicar ainda mais, havia meia dúzia de skinheads bem no ponto central do Olympia. E eles estavam ali para tumultuar e dar porradas nos cabeludos.

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Quem viveu os Anos 80 e 90, sabe que skinheads, punks e headbangers viviam se estranhando, muito mais do que nos tempos atuais. Andar perto da Galeria do Rock, pela Rua 24 de Maio, por exemplo, nem sempre era seguro para quem gostava de heavy metal, já que encontros com gangues eram normais.

Por sorte, a intensidade do show do Pantera era tão grande que os skinheads acabaram não dando conta de acertar pra valer o restante do público. Este jornalista chegou a ser empurrado várias vezes para frente por um deles, de quase 2 metros de altura, mas não chegou a se machucar.

Logo em “Walk”, que foi tocada no comecinho do show, a sensação era de cansaço, mesmo para quem era bem jovem na época. A levada menos intensa da música ajudou muita gente a recarregar um pouco as baterias para o restante do show.

Obviamente, o setlist na ordem exata é impossível de lembrar, mas petardos do “Vulgar Display of Power” e do “Cowboys From Hell” formaram o repertório. Não faltaram, por exemplo, “Mouth For War”, “This Love” e “Fucking Hostile” do primeiro; e “Cowboys From Hell” e “Domination” do segundo disco citado.

Em “This Love”, um sujeito vindo surfando sobre a plateia subiu ao palco e cantou o refrão da música com o vocalista Phil Anselmo, realizando o sonho de muitos que estavam ali e proporcionando uma cena rara para a época, na qual as estrelas da música internacional era quase inalcançáveis.

Uma pena que não existam registros deste show no YouTube. Em 1993, o VHS ainda dominava e a internet era apenas um sonho. O fato é que o Pantera trouxe toda a energia possível para o palco e foi correspondido pelo público na mesma proporção.

No fim do show, a certeza de que aquele momento ficaria na mente de quem estava no Olympia por vários anos. Vinte anos depois, este jornalista ainda considera aquele show como o melhor em local fechado que assistiu em toda a vida.

 

 

 

 

20 anos da estreia avassaladora do Pantera em palcos brasileiros