Quem esteve no Anhembi no dia 30 de outubro saiu com a alma lavada por puro hard rock. Numa noite chuvosa, o Aerosmith se apresentou para 32 mil pessoas e fez um ótimo show. A banda liderada pelo vocalista Steven Tyler e pelo guitarrista Joe Perry trouxe uma penca de clássicos do rock, com um set list para ninguém botar defeito.
Para quem tinha visto o bom show que o grupo havia feito no ano passado no Estádio do Palmeiras, ficou a impressão de que a banda norte-americana fez uma apresentação ainda melhor no Anhembi. Justamente depois de alguns percalços vividos por Tyler alguns dias antes do show na capital paulista, que representou o Brasil na pequena turnê realizada na América do Sul em 2011.
No dia 25 de outubro, o Aerosmith chegou a cancelar um show que faria em Assunção, capital do Paraguai, depois de seu lendário vocalista sofrer um acidente no hotel em que estava hospedado.
Ele caiu no banheiro do hotel e foi encaminhado a um hospital, já que teve ferimentos no rosto, na boca e perdeu dentes. Antes da apresentação no Brasil, o grupo fez o show adiado em Assunção no dia 26 e depois se apresentou na Argentina no dia 28.
Com o acidente de Tyler, havia muita expectativa sobre o estado do vocalista. Alguns colocavam em dúvida a capacidade de recuperação do ícone do Aerosmith e acreditavam que a apresentação no Anhembi poderia ser prejudicada. Outros, cientes da garra e do profissionalismo do cara, apostavam que o acidente seria só um motivo a mais para ver a superação deste obstáculo e um show de qualidade. Quem apostou na segunda opção, se deu bem…
O show estava marcado para as 20 horas e, às 20h15, os primeiros sinais de que tudo iria começar foram dados. Se, em 2010, a banda escolheu uma música de Bob Dylan para anteceder a apresentação, em 2011, a escolha foi bem mais elaborada: nada menos que um dos maiores clássicos da música erudita, “Cavalgada das Valquírias”, que faz parte da ópera “Die Walküre” (“A Valquíria”), do grande compositor alemão Richard Wagner.
Após o término do clássico, as luzes se apagaram e os telões começaram a mostrar desenhos que relembravam os anúncios de cinema drive-in norte-americano de antigamente. Na sequência, o telão começou a trazer imagens dos componentes do Aerosmith e o logo da banda começou a ser traçado na tela central, como se estivesse sendo moldado por um maçarico. A sombra dos componentes do grupo apareceu bem no meio deste telão, numa imagem que lembrou bastante alguns inícios de shows do KISS. Foi quando Steven Tyler saudou o público apenas com sua voz pela primeira vez na noite, obtendo imediato retorno com muitos gritos por todo o Anhembi.
De uma vez, a banda apareceu no palco, com Tyler e Joe Perry já subindo na plataforma que ligava o palco ao público. A primeira música da noite foi a ótima “Draw the Line”, do álbum de mesmo nome gravado em 1977. Coincidentemente, assim que foram dados os primeiros acordes da canção, a chuva, que havia dado uma pequena trégua pouco antes do show, voltou a despencar sobre o Anhembi e acompanharia grande parte da apresentação do grupo.
“E aí, São Paulo”, disse Tyler à plateia, que viu o Aerosmith trazer a música “Same Old Song and Dance”, do segundo álbum do grupo, “Get Your Wings“, lançado em 1974! Já era possível perceber que seriam confirmadas as expectativas de uma avalanche de clássicos da banda. E a terceira música da noite também serviu para reforçar este sentimento: “Mama Kin”, do disco de estreia do grupo, para uma empolgação generalizada do público, que viu Tyler arremessar seus óculos escuros, revelando que o olho roxo gerado pelo tombo no Paraguai estava bem disfarçado pela maquiagem.
Por sinal, nem parecia que ele havia sofrido um acidente dias antes. Com sua tradicional performance com o microfone e cantando demais, o vocalista deu uma aula de como se faz um show de rock. Uma pena Axl Rose não estar no Brasil para testemunhar como um de seus ídolos respeita o público. Com a chuva apertando cada vez mais, estava lá em cima da plataforma sem cobertura um dos maiores ícones do hard rock, mostrando um profissionalismo incrível ante uma plateia que havia pago por ingressos salgados e merecia realmente uma apresentação digna – coisa que não foi feita pelo Guns N’ Roses no Rock in Rio.
Depois da sequência de músicas dos anos 70, o Aerosmith abriu espaço para hits dos anos 80 e 90. Tocou “Janie’s Got A Gun”, do álbum “Pump”, de 1989, e “Livin’ on the Edge”, do “Get a Grip”, de 1993. Importante ressaltar que o som estava com ótima qualidade na Pista Vip, mas que houve algumas reclamações de quem esteve na pista comum sobre o volume que chegava baixo ao local.
A banda deixou o palco momentaneamente para o baterista Joey Kramer executar seu tradicional e ótimo solo. De maneira idêntica à realizada no ano passado no Estádio do Palmeiras, ele usou e abusou de sua batera, não ficando restrito às baquetas, mas também tocando com as próprias mãos e simulando batidas de cabeça no tom-tom, quando, na verdade, usava o bumbo para brincar com a plateia. Vale lembrar que Steven Tyler também deu sua canja na performance de Kramer, mostrando que também entende um pouco do instrumento musical elementar do rock pesado.
Terminado o solo de bateria, a banda se manteve no território mais que seguro dos hits dos anos 80 e 90. Primeiro, foi a vez de “Rag Doll”, do álbum “Permanent Vacation”, de 1987, que contou no fim com Tyler brincando com uma boneca inflável vinda do público. Depois, “Amazing”, também do “Get a Grip”, para delírio da mulherada presente, que foi a loucura na sequência com “What It Takes”, também do disco “Pump”. Interessante que, nesta música, o vocalista incentivou o público a cantar. O que se viu foi um enorme coro desde o início até quase a metade da canção!
Foi quando o quietão Brad Whitford iniciou um pequeno solo de guitarra, que antecedeu a música “Last Child”, do álbum “Rocks”, de 1976. Depois disso, Joe Perry tomou conta do microfone e emendou “Combination”, do mesmo disco. Terminada mais essa dobradinha dos anos 70, o grupo trouxe dois hits dos anos 90 bem no estilo MTV: o single “I Don’t Want to Miss a Thing”, de 1998, e “Cryin’”, do álbum “Get a Grip”. Com os acordes de Tom Hamilton no baixo, o grupo deu início a uma de suas melhores músicas: “Sweet Emotion”, que é uma aula de hard rock e quase nunca fica fora dos shows.
Depois da pausa para o descanso, o bis foi iniciado com “Dream On”, que vinha sendo pedida por todos desde o começo de show, inclusive por meio de cartazes. Vale ressaltar que é impressionante como Tyler, mesmo com os seus 63 anos e após todos os problemas da semana, conseguiu emocionar a todos com mais uma excelente interpretação desta difícil música.
Hits não faltam ao Aerosmith e o grupo trouxe mais dois de seus maiores clássicos na sequência: “Love in a Elevator”, que contou com sensacional participação do público nos “oh, yeahs” e “Walk This Way, que fechou o set list original.
Original, sim, mas definitivo, não. Tudo porque, comovida com os pedidos feitos por cartazes, a banda surpreendeu a todos com a execução de “Angel”, algo raro nas turnês recentes. O próprio Tyler disse que não tocavam esta música “há 5 anos”, fato que minimizou alguns erros cometidos por ele na letra bem no início da canção. Depois da grande emoção com este sucesso do álbum “Permanent Vacation”, o Aerosmith finalizou o show com o bom e puro rock ‘n’ roll de “Train Kept A-Rollin’”, tudo em grande estilo! “São Paulo, you’re fucking beautiful”, agradeceu o sempre simpático vocalista.
Foi enfim um ótimo show do grupo, superando a apresentação do Palestra Itália no ano passado. Para quem foi aos dois shows, valeu muito a oportunidade de ver um grande número de músicas, com o Aerosmith mostrando que não fica preso a um set fixo, como muitas bandas grandes costumam fazer, desagradando aquele fã que sonha em ver coisas diferentes no repertório. Resta agora torcer para uma nova vinda dos norte-americanos por aqui. Depois de dois anos consecutivos em território brasileiro, o público já começa a ficar mal-acostumado… 🙂
Para relembrar o grande show do Aerosmith, o Roque Reverso descolou no YouTube vídeos de ótima qualidade gravados por fans. Para começar, fique com a abertura e com “Draw the Line”. Depois veja “Sweet Emotion” e o vídeo de “Dream On”. Para fechar, fique com um vídeo que traz “Angel” e “Train Kept A-Rollin’”.
Set list
Draw the Line
Same Old Song and Dance
Mama Kin
… Janie’s Got A Gun
Livin’ on the Edge
Rag Doll
Amazing
What It Takes
Last Child
Combination
I Don’t Want To Miss a Thing
Cryin’
Sweet Emotion
Dream On
Love in an Elevator
Walk This Way
Angel
Train Kept A-Rollin’
Que show!!!
Foi maravilhoso!
Também achei inevitável lembrar do “show” do Guns…. Steven Tyler mostrou para o menino como é que se faz!
Queria agradecer profundamente à fã que ficou o show inteiro com um cartaz escrito “Angel” logo na beira do palco. Foi um sonho ouvir essa música ao vivo. Espero que ela leia o blog…
Poderia reclamar que eles não tocaram Crazy, mas com tantas músicas boas e, como bem lembrou o Fla, com tanto tempo de estrada, imagino como é difícil escolher só algumas.
E eu li em alguma outra publicação que a menina não só trouxe o cartaz dela como distribuiu para um monte de gente. Por isso, tinha um monte deles em frente à banda!
Isso é que é ser fã de verdade!!!