Brutal, visceral, pesado e vibrante! Todas essas palavras poderiam ser usadas para resumir o que foi o show realizado pelo Death Angel no sábado, dia 23, em São Paulo, no Clash Club. A banda norte-americana da Bay Área de São Francisco, que é considerada uma das maiores da história do thrash metal, demorou mais de 25 anos para vir ao Brasil pela primeira vez. Foi recebida por um público muito aquém da sua importância, cerca de 500 pessoas. Mas estes poucos privilegiados acabaram sendo presenteados com uma apresentação que fez lembrar os bons tempos do thrash metal oitentista .

A abertura ficou por conta de duas bandas brazucas formadas por uma molecada da pesada que dá a todos alguma esperança de ver no País uma cena diferente da que estamos acostumados a ver neste final de década com as aberrações Cine e Restart. A primeira foi o Sakramento e a segunda foi o Fúria V8. Ambas também bebem na fonte do thrash metal da Bay Área e, se bem produzidas, podem fazer bonito no cenário underground internacional.

Terminados os shows de abertura, o Death Angel subiu ao palco para realizar o sonho de muitos fãs dos anos 80 que estavam ali. Interessante ver também que havia muito adolescente com camisas de bandas de thrash metal da época, como Nuclear Assault e Destruction, o que mostra que o estilo ainda sobrevive, apesar da cena de hoje ser bem diferente daquele período no qual as pessoas lotavam, aos sábados, a porta da Woodstock de Walcir Chalas para acompanhar o nascimento do estilo.

Depois de uma introdução bem calminha, a banda norte-americana iniciou o show com a música “I Chose The Sky”, que faz parte do álbum “Relentless Retribution”, o sexto de estúdio da banda e que foi lançado em setembro deste ano. Apesar de algumas críticas que o trabalho recebeu da imprensa especializada, a música e as demais do novo álbum parecem ter ficado melhores na versão ao vivo, empolgando o público.

Tanto os integrantes da formação original, Mark Osegueda (vocal) e Rob Cavestany (guitarra), como o baixista Ted Aguilar, que se juntou à banda no retorno do grupo às atividades, em 2001, e os integrantes mais recentes – o baixista Damien Sisson e o baterista Will Carroll –, mostraram um entrosamento perfeito durante todo o show.  Mais do que isso, pareciam realmente muito empolgados por estarem pela primeira vez diante do público paulistano, famoso mundialmente pela vibração nos shows de rock.

Não demorou muito para as primeiras rodas de mosh aparecerem. E, logo na segunda música, “Evil Priest”, do primeiro e elogiadíssimo álbum “The Ultra-Violence”, o primeiro stage diving da noite foi dado e seria seguido por vários outros até o final do show. Com o público pequeno, a ausência da famigerada pista vip e sem a existência de seguranças animais, o número de mergulhos do palco para a pista foi absurdamente incrível, fazendo com que, neste quesito, o show do Death Angel lembrasse muito a apresentação realizada pelo Biohazard em São Paulo em julho.

A grande diferença, além do som, é que, no show do Biohazard, as mulheres praticamente não deram stage diving. No show do Death Angel elas praticamente dominaram o palco e foram as que deram os pulos mais radicais!!! Mais para o final do show, uma das meninas chegou a pular das caixas de som que estavam na lateral do palco, num dos saltos mais radicais em shows paulistanos dos últimos tempos, como se, em vez do público, existisse realmente uma piscina para ela mergulhar. Simplesmente sensacional!

A banda trouxe músicas de todos os CDs de estúdio. A terceira da noite foi “Buried Alive”, do quinto álbum “Killing Season”. Na sequência, tivemos “”Voracious Souls”, do ‘The Ultra-Violence”, e “Claws in so Deep”, do novo álbum.

O público se dividia nos que pulavam do palco, nos que formavam as rodas e nos que batiam as cabeças a mil por hora. A banda viu que aquela galera realmente era diferente e, em retribuição, esbanjou energia. Em alguns momentos, os membros do Death Angel se olhavam meio que admirados, depois da sequência de saltos dados pela galera. Também cumprimentavam as pessoas da “fila do gargarejo” e jogavam palhetas para o público.

Um dos grandes momentos da apresentação foi quando o grupo trouxe seu maior sucesso: nada menos que “Seemingly Endless Time”, do sensacional álbum “Act III”, preferido deste jornalista. A galera foi à loucura e multiplicou a energia presente no Clash Club. Aproveitando, o caos instalado, a banda emendou logo de cara a segunda música do mesmo “Act III”: “Stop”, que tem um dos riffs com mais cara de thrash metal da história do estilo!!!

Sem deixar a adrenalina cair, o Death Angel mandou “3rd Floor”, do segundo álbum, “Frolic through the Park”. Depois, trouxe a ótima “”Thrown to the Wolves”, do não menos ótimo quarto álbum do grupo “The Art of Dying”. Na sequência, tocou “Lord of Hate”, do “Killing Season”, “Falling Asleep”, também do “Act III”, e “Truce”, do novo álbum.

Mark Osegueda, com sua velhíssima camisa do Metallica, mostrou que continua em forma e cantando muito bem. Rob Cavestany ainda é o melhor da banda e ainda é um dos maiores guitarristas do gênero. Ted Aguilar faz uma ótima base para o companheiro; e os membros novos completam bem a banda, com destaque para o baixista, que agita bastante e interage demais com o público.

Como o Clash Club ainda teria outro evento depois do show do Death Angel, a banda não teve um tempo maior para expandir a apresentação. O vocalista Mark Osegueda elogiou o público presente, disse que há tempos não via algo tão intenso e que aquela havia sido a melhor noite que eles haviam passado no palco em muitos anos.

Para fechar o show, o grupo trouxe mais megaclássicos: nada menos que “Thrashers”, a introdução de “The Ultra-Violence” e “Kill As One”. Quem queria thrash metal de verdade foi atendido com verdadeiros exemplos do gênero e, sem dúvida alguma, saiu do Clash Club realizado. Confirmando a empolgação da banda com o público, Osegueda ainda fechou a apresentação dando, para variar, um stage diving.

Terminado o show, a banda ainda demonstrou imensa simpatia com quem ficou na porta, do lado de fora do Clash Club, esperando os músicos saírem. Deram autógrafos, tiraram fotos e conversaram com os fãs. Ted Aguilar pegou sua filmadora e captou boa parte destes momentos, que devem ser colocados em breve no site da banda ou no My Space.

Uma presença ilustre entre os que assistiram ao show foi a do baixista Paulo Júnior, do Sepultura. Na saída do Clash Club, ele também trocou ideia com a galera, sobre música e futebol, já que seu Atlético Mineiro jogaria no dia seguinte o clássico contra o Cruzeiro.

Foi quando o pessoal da produção da banda deu a deixa que os caras do Death Angel estenderiam a noite no bar Blackmore. Este jornalista passou em casa para pegar a máquina fotográfica e calçar o estômago, já que se interessou pela ideia de tomar várias brejas com os caras durante a madrugada.

Chegando no Blackmore, viu os caras na parte superior do bar e subiu para tirar fotos e tomar algumas cervejas. Todos foram muito simpáticos, especialmente Mark Osegueda, que parece estar de bem com a vida sempre. Mesmo com o inglês deste repórter estando em fase bastante ruim, foi possível uma comunicação com os integrantes, que só não estavam curtindo ver o grupo cover do Manowar que se apresentava no local.

Depois do final do show da banda cover, os membros do Death Angel seguiram para o hotel. Algumas fãs que estavam junto parecem ter acompanhado a banda, mas o restante da história este jornalista não sabe contar, já que ainda ficou no Blackmore vendo os outros shows que aconteceram no local. No final das contas, foi uma noite memorável, daquelas para contar para os filhos e netos.

O Death Angel ainda iria tocar em Brasília, Recife e Catanduva e acabou cancelando os shows do Rio de Janeiro, por venda fraca de ingressos, e de São Luís, por problemas de conexão do avião. Para surpresa de muitos, a banda anunciou para segunda-feira, primeiro dia de novembro, uma nova apresentação em São Paulo, desta vez justamente no Blackmore.

Para quem foi ao show do Clash Club é mais uma oportunidade para ver uma das maiores bandas do thrash metal. Para quem não conseguiu ver o primeiro show e gosta do grupo, não pense em deixar de ir ao Blackmore, já que o ingresso está mais barato, a partir de R$ 50.

O Roque Reverso descolou o set list do show no Clash Club e alguns vídeos do YouTube. Para começar, um vídeo com as três primeiras músicas do set. Depois, “3rd Floor” e “Thrown to the Wolves”; “Seemingly Endless Time” e “Stop”; Thrashers; e a introdução de “The Ultra-Violence” juntamente com “Kill As One”.

Set list: 

Intro / I Chose The Sky
Evil Priest
Buried Alive
Voracious Souls
Relentless Revolution
Claws In So Deep
Seemingly Endless Time
Stop
3rd Floor
Thrown To The Wolves
Lord Of Hate
Falling Asleep
Truce
Thrashers
The Ultra-Violence / Kill As One