Julho chega ao fim e o Roque Reverso não poderia deixar de falar do show que marcou o mês em São Paulo e que já entrou para a história dos mais vibrantes que passaram por esta cidade. 10 de julho é o dia. O Biohazard é a banda, que, em sua formação original, era bastante aguardada pela legião de fãs do hardcore e do thrash metal presentes. O Carioca Club, uma modesta casa acostumada a receber eventos da música sertaneja, forró e pagode, é o local do evento que abriu as portas para uma matinê de sábado das mais pesadas que passaram por lá.

Para quem ainda não conhece a banda, são nova-iorquinos do distrito do Brooklyn, que despontaram para o sucesso nos anos 90 com a habilidade de conseguir misturar, como poucos, o hardcore, o metal pesado e elementos do rap num único som. Com um histórico de dificuldades pessoais, os caras sempre foram respeitados, não só pelo som, mas também pelas letras fortes, que retratavam a deterioração urbana, a corrupção, crimes e a ruína social das grandes cidades.

A passagem por São Paulo fez parte da extensa turnê de comemoração de 20 anos da banda, que tem como destaque o retorno do talentoso guitarrista Bobby Hambel ao grupo. Com ele, o vocalista e guitarrista Billy Graziadei, o vocalista e baixista Evan Seinfeld e o excelente baterista Danny Schuler conseguiram levar ao delírio os fãs que nunca conseguiram ver a formação original da banda passar pelo Brasil nas turnês anteriores.

Fazia frio na capital paulista, mas a noite era agradável e prometia. Antes do show do Biohazard começar, era possível encontrar na pista do Carioca Club ou no bar do local muitos fãs das antigas e gente conhecida do meio heavy metal e hardcore. Poucos aborrecentes presentes e gente que já tinha vários shows nas costas também ajudaram a fazer daquela noite algo inesquecível para muitos sortudos que estiveram ali, sem confusões e brigas e com um astral muito legal.

Após o show de abertura da banda brasileira Questions e dos ajustes de som, o Biohazard subiu ao palco e iniciou o ataque sonoro. Logo de cara, a banda trouxe um de seus principais sucessos, “Shades of Grey”, do clássico álbum “Urban Discipline”, que provocou uma enorme roda de mosh no Carioca Club e catalisou toda a energia presente no local (não deixe de ver o vídeo).

Este jornalista estava entre a segunda e a terceira filas próximas ao palco e, logo na segunda música, “What Makes Us Thick”, viu o início de uma série de stage divings, com a galera dando os tradicionais mergulhos do palco para a platéia. Foi exatamente nesta hora que, ao tentar me proteger de um dos mergulhos que poderiam resultar em sérios danos físicos, acabei escorregando no piso molhado e caindo de costas no chão.

A primeira impressão foi a de que seria pisoteado pela multidão, mas fui puxado imediatamente por brothers presentes que ajudavam uns aos outros em qualquer momento que pudesse gerar algum tipo de confusão ou ferimento. Por sorte, depois do tombo bizarro, fiquei todo o restante do show exatamente na primeira fileira, colado ao palco e curtindo a sensacional e vibrante apresentação do Biohazard.

O show era intenso e a banda tocou a ótima “Wrong Side of the Tracks”, que contou com um dos momentos mais incríveis que já presenciei em quase 25 anos de shows vistos por este País. Na metade da música, o guitarrista Billy Graziadei seguiu para o meio da plateia e foi segurado pelas pernas, ficando suspenso sobre a galera e tocando sua guitarra, numa imagem que só um show de rock poderia proporcionar (veja nas fotos e no vídeo selecionado!).

Vale lembrar que os shows desta turnê do Biohazard são baseados nos 3 primeiros CDs da banda: “Biohazard” (1990), “Urban Discipline” (1992) e “State of the World Adress” (1994), simplesmente os melhores, na opinião deste jornalista. Por isso, era sucesso atrás de sucesso e empolgação espalhada pelo Carioca Club.

A própria banda parecia encantada com o público e Billy, que já havia proporcionado o momento histórico citado, também decidiu conversar com o público. Tentando falar o português, já que é casado com uma brasileira, o guitarrista ganhou de uma vez o público quando falou que tinha dito a argentinos, na passagem pelo país vizinho, que “seu coração era brasileiro”.

Em outro momento da apresentação, ele recebeu uma camisa do Palmeiras de um dos fãs, mostrou para a platéia e ainda bateu o punho cerrado no peito, mostrando que tem bom gosto no futebol. Aliás, este bom gosto já havia sido demonstrado publicamente pelo Faith no More no Maquinaria Festival do ano passado e mostra que Igor e Max Cavalera, palmeirenses fanáticos como este jornalista, souberam ensinar os gringos direitinho.

Depois do discurso de Billy, a banda deu sequencia ao punhado de hits pesados. “Tales From the Hard Side”, “Down for Life”, “Love Denied”, “Urban Discipline”, “Black And White And Red All Over” (a preferida deste jornalista) e “How It Is” foram alguns deles, que tiveram a companhia de covers do Bad Religion e do Cypress Hill, nada menos que “We’re Only Gonna Die (From Our Own Arrogance)” e “I Ain’t Goin Out Like That”, respectivamente, que mantiveram a diversão da plateia. Enquanto a música do Bad Religion foi cantada como um verdadeiro hino pelo público, a música do Cypress Hill contou com uma série de garotas da plateia subindo ao palco, convidadas pela banda.

Após o momento descontraído com as garotas no palco, a “ordem” voltou ao show e o Biohazard trouxe para o público simplesmente seu maior hit: “Punishment”. Nem é preciso dizer que a galera presente foi mais uma vez ao delírio e cantou a música do começo ao fim, em mais um dos pontos altos da apresentação dos nova-iorquinos, que fecharam o set com “Hold My Own”, estourando o tempo combinado com os donos do Carioca Club.

Na despedida do público, mais uma demonstração de simpatia da banda. Primeiro, os integrantes cumprimentaram a maioria das pessoas que estavam próximas ao palco (este jornalista entre elas). Depois, deixaram que muitos subissem ao palco para tirar fotos e até conversassem com a banda. Enfim, uma noite que jamais será esquecida por aqueles que estiveram no show.

O leitor pode perguntar qual o motivo da demora para a elaboração desta resenha. A resposta esta na dificuldade para encontrar o set list do show, já que, depois das três primeiras músicas, com toda a agitação da apresentação e algumas cervejas na cabeça, foi impossível guardar a ordem exata do que foi tocado. Incrivelmente, nenhum site especializado conseguiu o set list e o mais incrível ainda foi o modo como este jornalista encontrou a sequência das músicas: num vídeo do Youtube, em que um super fã da banda simplesmente mostrou o papel com a relação das músicas executadas. Coisas da Internet…

A fotos deste post foram descoladas no orkut, depois de alguns usuários da comunidade Biohazard Brasil liberarem o acesso. Os vídeos, descolados no Youtube, também foram divulgados lá e estão aqui para você curtir.

Primeiro, a abertura espetacular com “Shades of Grey”, que a equipe de filmagem do sempre competente LBVidz captou em nada menos que duas câmeras, de maneira sensacional. Notem a rodinha de mosh sendo formada de maneira “assustadora”. Na sequência, veja o vídeo de “Wrong Side of the Tracks”, com mais uma incrível roda de mosh e o momento (1min46s) em que Billy Graziadey é segurado pela galera. Depois, o vídeo de “We’re Only Gonna Die (From Our Own Arrogance)”. Para fechar, “Punishment”, com direito ao escorregão e tombo (sim, não fui o único!) que Graziadei tomou no final da música.

Set List:

Shades of Grey
What Makes Us Thick
Wrong Side of the Tracks
Urban Discipline
Five Blocks to the Subway
Black And White And Red All Over
Tales from the Hard Side
Love Denied
Down for Life
Business
We’re Only Gonna Die (From Our Own Arrogance)
How It Is
I Ain’t Goin Out Like That
Punishment
Hold My Own