
Por Marcelo Moreira, do blog Combate Rock
O guitarrista inglês Pete Townshend sempre foi um crítico das gravações ao vivo de sua banda, The Who, e de outros artistas porque nunca ficava satisfeito com as condições técnicas de captação de som – para ele, era quase impossível registrar a energia e a intensidade reais de uma apresentação de rock. Nem mesmo o seu primeiro álbum solo ao vivo, “Deep End Live”, o agradou por completo.
Começou a mudar de ideia nos anos 90 após várias conversas com o amigo e fã Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam, que pregava que os artistas tinham de investir mais em discos ao vivo crus, gravados no calor da apresentação.
Não foi à toa que The Who e Pearl Jam foram os pioneiros a lançar gravações de quase todos os shows de uma turnê inteira quase sempre ao final delas, quando não, em algumas ocasiões, a disponibilizar o áudio do show inteiro em CD logo após o final delas.
Mexendo em seus arquivos no começo deste século, Townshend achou gravações excelentes de seus shows e resolveu lançá-las, com destaque para duas apresentações: “Live at Sadler’s Wells 2000” e “Live at Brixton Academy 1985”.
Mais tarde surgiu um CD/DVD com o nome “Lifehouse Chronicles” com uma apresentação magistral no formato banda e orquestra.
Neste mês, o guitarrista surpreende a todos com um megapacote de CDs com praticamente todos os áudios oficiais de shows lançados entre 1985 e 2001.
Com tratamento de luxo e muita informação, “Live in Concert 1985-2001” é composto por nada menos do que 14 álbuns com vasto repertório solo e de sua banda.
Claro que o preço é salgado na versão física, mas trata-se do mais amplo panorama da carreira solo de Townshend, que começa a comemorar o ciclo de seus 80 anos de idade, que serão completados em maio de 2025.
Os concertos aqui reunidos foram remasterizados e remixados pelo ex-cuhado Jon Astley, que toca teclados em alguns dos shows. Eram gravações disponíveis no site oficial do músico. Todos os álbuns estão esgotados há duas décadas.
O conjunto de caixas apresenta embalagem de luxo expandida em um estojo rígido tamanho CD e bandeja com nova arte do colaborador de longa data de Townshend, Richard Evans, incluindo caixinhas de CD atualizadas e um livreto de 28 páginas com notas de capa de Who e do arquivista de Townshend Matt Kent, um novo prefácio exclusivo de Pete Townshend, além de fotos raras e recordações.
Entre os shows ao vivo incluídos estão “Deep End Live”, gravado na Brixton Academy em Londres em 1º e 2 de novembro de 1985 – com direito à participação do guitarrista David Gilmour, do Pink Floyd; uma versão completa ao vivo do álbum “Psychoderelict”, gravado na Brooklyn Academy of Music em Nova York, 7 de agosto de 1993, durante a única turnê solo completa de Pete; um show íntimo do The Fillmore em San Francisco em 30 de abril de 1996, na época de seu primeiro álbum coletâna solo “CoolWalkingSmoothTalkingStraightSmokingFireStoking”.
Há também registros de importância histórica, como retorno de Pete ao bairro onde foi criado pela primeira vez em 30 anos para um show ao vivo no Shepherd’s Bush Empire em 9 de novembro de 1998; há também duas noites no Sadler’s Wells Theatre, em Londres, que geralmente abriga balé e dança moderna, apresentando músicas do projeto abortado de 1971 “Lifehouse”.
Foi a única vez que um show completo da obra inacabada foi tentado e a única vez que algumas dessas músicas foram tocadas.
O pacote também inclui dois shows no La Jolla Playhouse em La Jolla, Califórnia (onde o musical de Tommy foi exibido pela primeira vez) registrados nos dias no 22 e 23 de junho de 2001. Como já foi dito, os shows agora relançados incluídos foram todos disponibilizados online anteriormente pela empresa de Pete, Eel Pie; houve apenas uma tiragem de cada CD e todos rapidamente se tornaram itens de colecionador.
Embora Townshend tenha frequentemente realizado pequenos shows solo para causas de caridade, entre outras, para a Anistia Internacional, para The Prince’s Trust e a instituição de caridade Double O do próprio The Who, que ajuda vítimas de violência doméstica e aqueles que sofrem de dependência química, shows solo completos têm sido poucos, o que aumenta a importância dessa grande caixa de CDs.
Há quem diga que esse é o epitáfio da carreira musical de Townshend, que pretende desacelerar e dedicar mais tempo à literatura.
Tanto ele como o seu parceiro em The Who, o cantor Roger Daltrey, têm emitido sinais de que a banda não deve mais lançar material inédito ou fazer turnês.
Portanto, é hora de aproveitar cada segundo deste grande pacote de shows de um dos artistas mais relevantes da história do rock. Não é apenas um concerto, é um EVENTO. Esses CDs representam o quão bons são esses eventos
Pete Townshend, do The Who, lança caixa com 14 CDs solo ao vivo

