Telão do show de Roger Waters em SP no dia 9 de outubro - Foto: Reprodução TwitterA campanha do candidato à Presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, pediu no dia 26 de outubro ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma investigação para apurar se houve propaganda irregular favorável a seu adversário, Fernando Haddad ( PT ), durante shows realizados por Roger Waters em turnê no Brasil. Na ação ajuizada, os advogados de Bolsonaro pedem a cassação de Haddad e de sua vice na chapa, Manuela D’Ávila ( PCdoB ) por conta de um suposto abuso de poder econômico ligado às apresentações do ex-integrante do Pink Floyd, com a consequente inelegibilidade dos mesmos
pelo prazo de 8 anos.

Durante o mês de outubro, Roger Waters realizou diversos shows no Brasil e expôs, como faz há décadas, sua indignação contra representantes do mundo político e, acima de tudo, contra o fascismo, que vitimou seu pai durante a Segunda Guerra Mundial. No primeiro show da turnê, em São Paulo, no dia 9 de outubro, o ex-integrante do Pink Floyd inseriu Bolsonaro na lista de neo-fascistas do planeta, ao lado de figuras mundiais, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A ação de Waters, que também aderiu à campanha do #EleNão, gerou bastante polêmica, especialmente entre alguns indignados fãs, que não aceitaram a colocação de Bolsonaro na lista de neo-fascistas. Esta parte de fãs chegou a vaiar o músico, que, em contrapartida, recebeu apoio efusivo de outra parte considerável do público presente no Allianz Parque, a Arena do Palmeiras.

Após a polêmica, Rogers alterou sua manifestação em forma de ironia no show seguinte no mesmo local. O nome de Bolsonaro, último da lista, deu lugar a uma tarja vermelha com a inscrição “ponto de vista político censurado”, conforme resenha publicada no dia 11 de outubro pelo Roque Reverso.

Nas apresentações seguintes, em Brasília, Salvador, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, o ex-Pink Floyd seguiu se manifestando contra problemas brasileiros, como a morte brutal da vereadora carioca Marielle Franco (em março de 2018) e de Moa do Katendê, mestre capoeira morto com 12 facadas em uma discussão política após o fim do 1º turno das eleições.

O pedido dos advogados de Bolsonaro (veja o processo aqui) diz que houve abuso de poder econômico em benefício da candidatura de Fernando Haddad. Eles solicitaram também apuração das acusações divulgadas pelo ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão pelo Twitter, de que “Roger Waters recebeu cerca de R$ 90 milhões para fazer campanha eleitoral disfarçada de show ao longo do 2º turno”.

Os advogados ainda chegaram a destacar que a empresa que organizou os shows de Waters é beneficiária da Lei Rouanet, que destina recursos públicos para a cultura. Tal acusação, de que artistas e empresas são beneficiários da lei e que fazem algum tipo de campanha para representantes da esquerda no Brasil, é feita com frequência por representantes da direita nas redes sociais, todas as vezes que algum artista de manifesta contra a opinião desta corrente política.

No caso das apresentações de Waters, os advogados disseram não ter provas de que a lei foi usada para financiá-las. Pediram, contudo, uma investigação.

Na ação, os advogados ainda afirmaram que “trata-se de uso ilícito de poderio empresarial e midiático, através da
manifestação corrompida de um cantor de fama internacional para, desse modo, interferir no psicológico dos fãs e tentar influenciar o voto, tudo com o único intuito e interesse na manutenção no Poder dos candidatos requeridos”.

Não há garantias de que o TSE tomará alguma atitude mais dura contra a candidatura de Haddad. Há preocupação, contudo, com essa onda conservadora que assola o País, já que, se virar moda processar ou pedir inelegibilidade de candidatos após protestos em apresentações musicais, haverá cada vez mais a sensação de que os tempos de censura a pensamentos e manifestações políticas em eventos culturais estão voltando.

Show em Curitiba

Dias depois da ação dos advogados de Bolsonaro, Roger Waters voltou a ser tema de discussão política. Neste sábado, dia 27 de outubro, ele voltou a protestar contra Bolsonaro, mesmo advertido de que poderia ser preso, se ferisse a lei eleitoral que proíbe manifestações político-eleitorais a partir das 22 horas do dia que antecede as eleições de segundo turno no Brasil.

Em mais uma atitude que mostra o quanto não se curva a imposições, Waters usou sabiamente os últimos 30 segundos de que teria direito para se manifestar contra Bolsonaro. Exatamente às 21h58, as luzes do Estádio Couto Pereira se apagaram.

No telão, foi exibida uma mensagem contra o fascismo e a frase “Ele Não!”, contra o candidato do PSL. “Essa é a nossa última chance de resistir ao fascismo antes de domingo”, dizia uma parte da mensagem exibida ao público de Curitiba.

Confira abaixo o vídeo descolado pelo Roque Reverso no YouTube.