A revista norte-americana Glamour fez barulho no início de novembro ao incluir Bono Vox, vocalista da banda irlandesa U2, em sua lista de “mulheres do ano”. Primeiro homem a integrar a lista da Glamour em seus quase 40 anos de existência, Bono foi escolhido, segundo a revista, por “prestar atenção nos direitos das mulheres e meninas em todo mundo”.
Não entremos no mérito de a maior parte das publicações femininas operar como manuais mais ou menos sofisticados de como a mulher deve ser bela, recatada e do lar, sempre disposta a entrar muda, submissa e sorridente na linha de montagem de princesas de araque fomentada pela mídia convencional.
A provável intenção da revista era causar polêmica com a inclusão de um homem e fazer um pouco de barulho para além de seu círculo convencional de leitoras e leitores. Apesar de a escolha poder ser vista como desserviço à luta das mulheres por direitos iguais, como se fossem necessários a tutela ou o aval masculino para legitimá-la, há um aspecto interessante a ser abordado.
A maior parte da humanidade vive atualmente em sociedades subordinadas a sistemas de opressão entrelaçados e profundamente enraizados, em especial sob os jugos do racismo, do machismo e da homofobia. E é raro, muito raro, encontrar por aí um homem branco, heterossexual, rico, famoso e bonitão disposto a se indispor pela igualdade de direitos, termo um pouco fora de moda nos últimos anos.