Adaptação da capa do disco "Master of Puppets", do MetallicaEm mais uma dessas incríveis incoincidências convenientemente calculadas que somente o ser humano é capaz de criar, o mês de agosto termina no Brasil junto com uma ruptura política que põe fim ao mais extenso período de democracia de nossa breve história.

Todo o circo montando em torno do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, julgada mais por seus acertos do que por seus erros, chega agora ao fim com ares de ópera bufa.

O verniz de legalidade incessantemente aplicado pelos “Masters of Puppets” de um Congresso Nacional corrompido e de uma mídia reacionária e cínica desgastou antes do esperado e o golpe já era chamado de golpe antes mesmo de consumado. Não por denuncismo barato, mas pelo descaramento dos agentes envolvidos no conluio farsesco que levou ao impeachment. Não fosse farsa, o resultado seria imprevisível.

A premissa básica é “mudar para que tudo volte a ser como antes”. Antes de 2003, quando o Brasil tinha posição destacada no Mapa da Fome da ONU, quando o Brasil falava grosso com Bolívia e Guiné-Bissau e afinava a voz com Estados Unidos e Europa.

Quando a maioria dos que avalizaram essa farsa se der conta, a idade das aposentadorias já terá subido, nossa já precária cidadania terá sido de vez usurpada e todo o patrimônio público possível já terá sido dado de bandeja para o grande capital internacional. Como pano de fundo, a corrupção grossa some do noticiário e o tom dos “especialistas” da mídia passa a ser de otimismo.

Ser contra o golpe ou a favor dessa excrescência não é questão de ser petista ou tucano, “coxinha” ou “mortadela”. O Brasil não é essa divisão tosca que a mídia quer fazer crer.

Basta lembrar que, nas eleições de 2014, 21,1% dos eleitores registrados preferiram se abster votar. E, entre os que foram efetivamente às urnas, mais de 7 milhões anularam ou votaram em branco.

Numa conta grosseira, um em cada quatro não queria Dilma nem Aécio. E hoje, segundo as pesquisas de opinião, a maioria não quer golpe. A maioria quer voltar às urnas. A maioria é contra um golpe que só privilegia uma minoria cínica, gananciosa e corrupta, golpista, fascista, racista e machista, incapaz de aceitar qualquer processo de escolha que não tenha cartas marcadas.

Ficar em cima do muro neste momento é o mesmo que compactuar por omissão com a canalhice dos seres sub-reptícios que capitanearam um golpe contra os brasileiros. O juiz Sérgio Moro até agora não achou o endereço da Cláudia Cruz e nem quis saber dos milhões depositados por fora em favor de Temer, Serra, Cunha e tantos outros protagonistas do golpe.

Não quis saber antes e não vai querer saber agora. E mesmo que queira saber um dia, o que a maioria duvida, já está avisado que não vai poder procurar.

Democrata até a última nota, o Roque Reverso apresenta-se para a luta e deixa aqui clara sua oposição e seu repúdio ao golpe consumado.

E aos golpistas empedernidos, uma mensagem emprestada de Renato Russo e Flávio Lemos na letra da música “Fátima”, gravada pelo Capital Inicial do anarcoxinha Dinho Ouro Preto: “Pois acontece que tudo tem começo, e se começa um dia acaba, eu tenho pena de vocês.”

Para lamentar o que aconteceu no Brasil no dia 31 de agosto de 2016, o Roque Reverso descolou vídeos no YouTube. Fique inicialmente com o Metallica executando “Master of Puppets” ao vivo em 2012. Depois, veja o Capital Inicial tocando “Fátima” no Rock in Rio. Para terminar, fique com o Cream, ao vivo, em 1968, com a faixa “Politician”.