Ministry em SP - Foto: Divulgação Free Pass EntretenimentoDemorou muito tempo, mas finalmente o Ministry se apresentou no Brasil. A banda liderada pelo insano e talentoso vocalista e multi-instrumentista Al Jourgensen preencheu uma lacuna histórica de mais de 25 anos desde quando estourou entre os amantes da música pesada underground e trouxe uma verdadeira tempestade sonora para o Audio Club, em São Paulo, no dia 6 de março.

A ansiedade para ver o grupo pela primeira vez no País era grande. Houve até quem cogitasse que, por ter feito uma legião de fãs nas, hoje, distantes décadas de 80 e 90, o Ministry não traria um público relevante para a casa paulistana. O que se viu, no entanto, foi uma plateia considerável que quase lotou o Audio Club.

Diferente de outros shows que passaram por São Paulo recentemente, a idade predominante entre os fãs que foram à apresentação do Ministry era de pessoas em torno dos 30 anos ou mais. Com isso, aquela galera adolescente que costuma ir a apresentações de outros grupos mais populares era a minoria.

Não foram poucas as vezes que pessoas que passaram por casas paulistanas históricas, como o Cais, Armagedom, Morcegóvia (ou Madame Satã) e Der Temple, foram encontradas conversando antes do show.

Músicos de bandas brasileiras alternativas ou mais pesadas também foram vistos nos camarotes, assim como jornalistas e críticos musicais conhecidos espalhados pela pista. Entre eles, estavam, por exemplo, André Barcinski, André Forastieri e Régis Tadeu.

O show foi marcado para uma sexta-feira e, para atrapalhar, uma chuva intensa e necessária para amenizar a crise hídrica vivida pelo Estado de São Paulo, provou que São Pedro realmente não é chegado num rock. Muitas das ruas e avenidas da região próxima ao Audio Club ficaram totalmente paradas e caminhos que demoram tradicionalmente 10 ou 15 minutos passaram a levar uma demora duas ou três vezes maior para serem percorridos.

O show

Justamente pelos transtornos causados pela chuva, os organizadores do show do Ministry optaram pelo atraso da apresentação e anunciaram isso ao público do Audio Club. Originalmente marcado para começar às 21h30, o show começou lá pelas 22h30.

O repertório escolhido pela banda veio em linha com o adotado na semana passada em show realizado em Brisbane, na Austrália. Marcado pela concentração de músicas de álbuns específicos em blocos, o grupo trouxe um show de qualidade.

“Hail to His Majesty” foi a primeira. Além dela, “Punch in the Face”, “PermaWar” e “Fairly Unbalanced” foram as escolhidas do mais recente álbum do Ministry, “From Beer to Eternity”, de 2012. As três primeiras do show foram tocadas exatamente na ordem do disco.

Logo de cara, o que chamou a atenção foi o entrosamento da banda para tocar músicas de estúdio que não são exatamente fáceis. Sin Quirin (guitarra), Aaron Rossi (bateria), Monte Pittman, John Bechdel (teclado) e Tony Campos (baixo) davam o suporte perfeito para a voz de Al Jourgensen.

Tony Campos já é um velho conhecido do público brasileiro, pois já veio várias vezes ao País, por exemplo, com o Cavalera Conspiracy. Aaron Rossi impressionou pela velocidade e pelo peso dados à bateria em músicas que foram gravadas em estúdio com o instrumento na versão eletrônica.

Depois das músicas do “From Beer to Eternity”, o Ministry trouxe três de uma vez do disco “Rio Grande Blood”: a faixa-título, “Señor Peligro” e “LiesLiesLies”, esta última com o refrão cantando a plenos pulmões pela plateia.

Além do peso das músicas, a banda fazia o público ficar vidrado com os efeitos visuais de um telão que trazia também trechos de clipes e imagens malucas no estilo Ministry. Com o seu pedestal de microfone em forma de esqueleto, Al Jourgensen era o próprio mestre de cerimônias do caos.

Depois da trinca de “Rio Grande Blood”, foi a vez de uma dobradinha do álbum “Houses of the Molé”, de 2004, e de mais duas, desta vez, do disco “The Last Sucker”, de 2007. A primeira do trabalho de 2004 foi “Waiting” e a segunda foi “Worthless”. “Watch Yourself” e “Life Is Good” foram do álbum de 2007.

Ministry em SP - Foto: DivulgaçãoMinistry em SP - Foto: DivulgaçãoMinistry em SP - Foto: DivulgaçãoMinistry em SP - Foto: Divulgação

A cereja do bolo estava reservada para a parte final do show, justamente com hits que fizeram o Ministry estourar além da cena underground. “N.W.O.” e “Just One Fix”, do grande disco “Psalm 69”, de 1992, levaram o público ao delírio e geraram algumas rodas de mosh em alguns pontos da pista, além de um bate-cabeça obrigatório nas proximidades da grade, onde este jornalista se encontrava.

Na sequência, “Thieves” e “So What”, do álbum “The Mind Is a Terrible Thing to Taste”, de 1989, também causaram mais caos no Audio Club.

“So What” foi bastante comemorada e cantada por grande parte do público, mas “Thieves” merece um destaque à parte. Talvez, a melhor do show, a música foi executada de maneira perfeita pelo Ministry e fez a casa quase ir ao chão, com a plateia agitando sem parar a cada riff e a cada batida à velocidade da luz de Aaron Rossi.

Para muitos fãs das antigas, aquele foi um momento histórico. Ver o Ministry tocando “Thieves” finalmente ao vivo gerou sensação semelhante de ter visto pela primeira vez o Metallica tocando “Master of Puppets” ou “One”; de ver o Slayer tocando “Raining Blood” ou “Seasons in the Abyss”; o Megadeth tocando “Holy Wars”; o Anthrax com “Indians”…

Depois do grande momento, o grupo saiu do palco para um respiro. Na volta, ainda tocaram “Khyber Pass”, do “Rio Grande Blood”, e terminaram a apresentação.

Após o final do show, Al Jourgensen desceu do palco e cumprimentou uma a uma das pessoas que estavam na grade. A cada um, ele agradecia humildemente à presença, numa imagem que poderia ser passada para muitos músicos que nem começaram a carreira e se acham a última bolacha do pacote.

Para muitos dos críticos e até companheiros da cena musical, o Ministry não fez sucesso ainda maior por conta dos excessos de Al Jourgensen com as drogas. Depois de tantos anos, é um privilégio ele estar vivo e em carne e osso para a plateia paulistana. Não é toda hora que os fãs de rock e da música como um todo tem a possibilidade de assistir a um show de um cara tão criativo.

A despeito de não ter conseguido o credenciamento de imprensa, o Roque Reverso assistiu à apresentação do Ministry a convite do Audio Club.

Para relembrar o show histórico do Ministry no Audio Club, o Roque Reverso descolou vídeos no YouTube. Fique inicialmente com a execução de “N.W.O.”. Depois, veja as filmagens de “Just One Fix” e de “Thieves”. Para fechar, fique com o vídeo de “So What” feito por nós.

Set list

Hail to His Majesty
Punch in the Face
PermaWar
Fairly Unbalanced
Rio Grande Blood
Señor Peligro
LiesLiesLies
Waiting
Worthless
Watch Yourself
Life Is Good
N.W.O.
Just One Fix
Thieves
So What

Khyber Pass

Ministry preencheu lacuna histórica com o Brasil e trouxe tempestade sonora a SP