O Zimbábue celebra neste 18 de abril de 2020 quatro décadas de independência do jugo britânico. Com isso, a histórica apresentação de Bob Marley & The Wailers no Estádio Rufaro, em Harare, para celebrar a independência zimbabuana completa também 40 anos.
Durante quase um século, o Reino Unido havia explorado as terras e as riquezas do território que preferiu chamar de Rodésia em meio à criminosa partilha da África pelas potências coloniais europeias.
Depois de uma guerra civil iniciada em 1965 na qual cerca de 20 mil pessoas morreram – rebeldes marxistas negros em sua maioria -, o Zimbábue tornava-se finalmente a última colônia britânica na África a conquistar a independência. Chegava ao fim o governo da minoria branca sobre a maioria negra no Zimbábue.
Engenheiros de som britânicos conseguiram restaurar fitas de apresentações ao vivo de Bob Marley deixadas havia aproximadamente 40 anos nos porões de um hotel de Londres e encontradas inesperadamente durante uma limpeza do local há cerca de um ano. A notícia foi divulgada pela rede pública britânica BBC nesta segunda-feira, 6 de fevereiro, dia no qual o lendário cantor, músico e compositor jamaicano completaria 72 anos se vivo estivesse.
Trata-se de um conjunto de 13 fitas analógicas contendo gravações de apresentações ao vivo de Bob Marley em Londres e Paris entre 1975 e 1978.
Quando as fitas foram encontradas, os engenheiros de som que trabalharam na recuperação não acreditavam ser possível restaurá-las, uma vez que o porão do hotel em questão era um local extremamente úmido e havia sinais claros de que a água havia afetado fisicamente o material.
Era pra ser uma reunião de pauta como outra qualquer. Profissionais de mídia perdem rápido a conta das reuniões de pauta a que precisam ir. O que o pessoal da redação da Charlie Hebdo não contava era com a estupidez humana. Na realidade, até contava, já que a estupidez humana é um excelente tempero para a sátira – e a revista vive exatamente disso. O que eles fizeram foi subestimar a estupidez humana.
Uma pseudoinvestigação terminou na velocidade de um raio. Bastou alguém ouvir os assassinos gritarem “Allahu Akbar” e o veredicto já estava pronto.
A sentença, porém, não recai sobre os autores materiais do crime, e sim sobre grupos sistematicamente criminalizados pela mídia.
Antes que algum apressadinho ou engraçadinho se preste a pensar ou falar bobagem, estamos falando de um injustificável assassinato em massa e o fato de os profissionais da revista terem subestimado a estupidez humana não deve ser usado para responsabilizar as vítimas pela própria desgraça, como muita gente gosta de fazer. Mas não é por se tratar de algo injustificável que seja incompreensível.
A mídia ocidental já acusou, julgou e condenou o Islã e os islâmicos em geral pelo massacre. Fora de contexto, claro. É como se não houvesse ocupação dos territórios palestinos por Israel, é como se os Estados Unidos e a Inglaterra não tivessem invadido o Iraque de olho no petróleo, é como se as potências ocidentais nunca tivessem articulado golpes e guerras para impor a outros povos seus fantoches e seus interesses sob o pretensioso e esfarrapado pretexto da civilização. Haja espaço para citar exemplos.
Não se faz democracia com bombas. Interferências externas costumam deslegitimar movimentos de libertação. Mais ainda: não se faz civilização com barbárie.
Mais do que um ataque à liberdade de expressão, o atentado contra a Charlie Hebdo foi um ato de violência contra o ser humano, assim como os assassinatos de John Lennon e Dimebag Darrel (Pantera), as bombas de Hiroshima e Nagasaki, o extermínio de populações indígenas, os atentados de 11 de Setembro, a ocupação da Palestina, o Holocausto dos judeus, a Islamofobia na Europa, as centenas de milhares de iraquianos, afegãos e cidadãos de outras nacionalidades aniquilados em bombardeios ocidentais aleatórios pelo mundo, ou ainda as vítimas dos crimes passionais, dos crimes de ódio, dos ataques a homossexuais, da violência contra a mulher, dos crimes por motivos fúteis, dos esquadrões da morte da polícia na periferia das grandes cidades brasileiras. E é aqui que o bicho pega.
Nada disso é isolado, por mais que muitos prefiram pensar que seja. Tudo se insere no mórbido culto do ser humano à violência em uma busca absurda e inexplicável por soluções supostamente definitivas.
Ser contra a violência, venha esta de onde vier, é ser contra qualquer tipo e qualquer forma de violência. Enquanto o ser humano continuar condenando a violência contra si e contra os seus ao mesmo tempo em que busca justificativas frágeis para a violência contra os outros, a barbárie vai prevalecer.
O mais incrível é que, ao que tudo indica, a humanidade assim se comporta desde os primórdios da dita civilização. Milênios se passaram e o ser humano insiste em não correr o risco de viver em paz e harmonia, respeitando as diferenças e com elas convivendo, apesar de manifestar da boca pra fora esse ainda utópico desejo.
Todas as velhas fórmulas fracassaram. Ao arriscarmos com sinceridade algo diferente, o pior que pode acontecer é não dar certo de novo e a subestimada estupidez humana continuar a prevalecer, mas haverá pelo menos a chance de dar certo.
Para isso, claro, todos precisariam se engajar, mas a chance de isso funcionar aumenta se a iniciativa partir do mais forte.
O Roque Reverso presta aqui sua homenagem às vítimas nos dois lados com músicas descoladas no YouTube. Fique com “Give Peace a Chance”, de John Lennon, “Society”, de Eddie Vedder, e “Killing an Arab”, do The Cure, e “Natural Mystic”, de Bob Marley.
Bob Marley influenciando John Lennon. Sim, o beatle também foi fisgado pela força irresistível do reggae do jamaicano. E está tudo registrado em sobras de estúdio da gravação do álbum “Double Fantasy”, de 1980, seu último disco antes de ser assassinado.
No áudio, Lennon comenta com os músicos da sua banda sobre a conversa “esperta” e complementar entre guitarra e baixo de “Get Up, Stand Up”, de Marley e Peter Tosh, do “Burning”, de 1973, que ele queria como exemplo para usar na gravação de “Cleanup Time” e “Borrowed Time”, esta última fazendo parte do primeiro disco póstumo do beatle, “Milk and Honey”, de 1984, mas gravada em 1980.
E não só musicalmente Lennon estava ligado naquele momento ao ritmo jamaicano e aquele disco do The Wailers. Na segunda música do “Burning”, em “Hallelujah Time”, do percusionista Bunny Wailer, há um trecho que diz “We gotta keep on living, living on borrowed time: Hallelujah time!”.
Provavelmente, de onde ele buscou inspiração para intitular a canção “Borrowed Time” e dar mote para o desenvolvimento da letra que diz no refrão, em um clima caribenho, “Living on borrowed time/Without a thought for tomorrow”.
Escute abaixo os dois sons. O primeiro tem Lennon e a conversa “esperta”. O segundo tem a versão alternativa da música “Borrowed Time”.
*Marcelo Galli é jornalista da Agência Estado e amante do bom e velho rock n’ roll
Ainda como parte das comemorações do aniversário de 50 anos da Anistia Internacional, a gravadora Universal Music lançará no dia 7 de fevereiro o álbum “Chimes of Freedom”, no qual uma extensa lista de artistas interpreta músicas de Bob Dylan. Elvis Costello, Patti Smith, Pete Townshend, Queens of The Stone Age, Bad Religion, Brian Ferry, Eric Burdon, Joan Baez, Lenny Kravitz, Mark Knopfler e Seal & Jeff Back, entre outros, são só alguns dos nomes importantes do rock que vão participar do disco quádruplo que vai incluir 73 canções (76 na versão digital).
“Chimes of Freedom” faz longo percurso pela música de Dylan, com canções super conhecidas, como “Blowin’ In The Wind”, a cargo de Ziggy Marley (filho de Bob Marley), “Knockin’ on Heaven’s Door”, pelas mãos do produtor RedOne e do músico Nabil Khayat, e “Like a Rolling Stone”, cantada por Seal & Jeff Beck. Neste link do Facebook, você pode ter acesso ao trabalho.
A Anistia Internacional, que em 1977 recebeu o Prêmio Nobel da Paz, trabalha desde 1961 a favor dos princípios expostos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, um compromisso também representado pelo americano Bob Dylan durante toda sua carreira.
Um homem morre, mas suas idéias permanecem, sentencia um ditado que muito me agrada e não sei a quem creditar. Há exatos 30 anos, a humanidade perdia Robert Nesta Marley, mais conhecido como Bob Marley. Depois de quase quatro anos de luta contra um câncer de pele que se espalhou por seu organismo, o cantor, guitarrista e compositor jamaicano responsável pela disseminação e popularização do reggae pelo mundo sucumbiu à doença em 11 de maio de 1981.
Conheço muito roqueiro que torce o nariz para Bob Marley e para o reggae em geral. Eu mesmo, durante muito tempo, tinha minhas reservas quanto ao som, mas deixei a resistência de lado depois de começar a ouvir com mais atenção não só ao gênio musical de Marley, mas às mensagens, em suas letras, de tolerância e contestação explícita ao status quo vigente. Nada mais roquenrow que isso…
O Roque Reverso selecionou três músicas para celebrar Bob Marley, cuja morte precoce, aos 36 anos de idade, alçou-o de gênio musical a mito e ícone pop: “Redemption Song”, “Is This Love?” e “Buffalo Soldier”. De “Redemption Song” há um chamado que deveria ser repetido mentalmente por cada ser humano na face do planeta em busca de emancipação: “Libertem-se da escravidão mental. Ninguém além de nós mesmos é capaz de libertar nossas mentes”.