Cena do clipe dos Garotos Podres – Foto: Reprodução

Então é Natal… E o que você fez? Eu, nada. Mas o roteirista de Brasil deixou um presente de Natal para o Roque Reverso. Embora seja algo insólito, os duendes não aceitam devolução. Sem mais delongas então.

Uma delegada da Polícia Civil de São Paulo aproveitou os preparativos natalinos para acatar denúncia de um autodeclarado “cidadão de bem” e instaurar um inquérito policial para investigar a banda paulista Garotos Podres.

O motivo de tanto zelo pelo bem-estar da população e pelo dinheiro público? A letra da música “Papai Noel Velho Batuta”, clássico do punk brasileiro.

A insólita informação veio à tona por meio de uma publicação nas redes sociais dos Garotos Podres. Os integrantes e o empresário da banda foram chamados para depor.

De acordo com os Garotos Podres, “o denunciante, de inspiração conservadora e fascista, reclama que a música ofende a religião ao desancar a figura sagrada de Papai Noel, que simboliza o bem”.

As aspas entraram apenas para dar o devido crédito.

Os Garotos Podres não deram nome aos bois — no caso o denunciante e a delegada que achou pertinente chamar a banda para depor e abrir o inquérito sobre a letra de uma música lançada há 40 anos.

Embora isso dificulte a busca pelo contraditório, a tentativa de censura fala por si.

Tudo é insólito nessa situação.

Primeiro, a música foi lançada em 1985, no álbum “Mais Podres do que Nunca”. Disso, talvez seja possível concluir que seres de extrema-direita precisam de 40 anos para entender ironia.

Segundo, Papai Noel não é uma figura sagrada e o capitalismo só é considerado uma religião pelos adoradores do “deus mercado”.

Não bastasse isso, o cidadão de bem e a polícia paulista pretendem impor uma censura que nem a ditadura militar, embora em seus estertores, teve a cara-de-pau de impor.

Quando “Papai Noel Velho Batuta” saiu, os discos, os livros e os filmes ainda eram submetidos à censura para aprovação. Espertamente, a banda trocou “filho da puta” por “velho batuta” e, para espanto de ninguém, a música passou e pôde ser lançada.

E olha que duas músicas do mesmo álbum foram censuradas: “Johnny” e “Vou Fazer Cocô”.

A canalhice do denunciante e a atitude da delegada não passam de um sintoma de como a extrema-direita conceitualiza o que chama de liberdade de expressão. Só ela pode se expressar.

No momento, o receio dos integrantes dos Garotos Podres é que o Ministério Público embarque na alucinação da delegada e instaure um processo.

Isso não impediu a banda de ironizar a tentativa de censura com um novo videoclipe para seu clássico.

O ótimo clipe, que contou com animação de Leandro Franco, pode ser conferido abaixo.

A insólita tentativa de censura contra os Garotos Podres em pleno 2025