O Deep Purple fechou o festival Best of Blues and Rock em São Paulo no domingo, 15 de junho, com mais uma de suas tradicionais “aulas musicais”. Para um bom público presente na área externa do Auditório Ibirapuera, a lendária banda britânica chegou a deixar de fora do repertório faixas obrigatórias da carreira, como o clássico “Perfect Strangers”, mas compensou essas ausências com a qualidade e o improviso sempre vistos nas suas vindas até a capital paulista.

Em aproximadamente 1h30 de apresentação, o Purple mesclou hits com faixas de álbuns recentes, como as do disco “=1”, lançado de 2024.

O público presente pode até ter ficado com aquele gosto de “quero mais” pela ausência de clássicos que costumavam ser tocados em vindas anteriores da banda, mas o sentimento final comum foi de que estar presente no Ibirapuera para ver um grupo tão importante como o Deep Purple ainda em alta performance musical, mesmo com integrantes beirando os 80 anos, foi um grande privilégio.

Antes do Purple, o festival Best of Blues and Rock viu no mesmo domingo as apresentações da cantora norte-americana Judith Hill e da banda brasileira Hurricanes. No dia anterior, no sábado, 14 de junho, o astro do rock Alice Cooper já havia sido o headliner com um dos melhores shows do ano em São Paulo, depois das atrações nacionais Marcão Britto & Thiago Castanho (tocando Charlie Brown Jr.), Larissa Liveir e o grupo Black Pantera.

O show

Com exceção da faixa cover “Green Onions”, inserida no bis, a apresentação do Deep Purple no Best of Blues and Rock foi idêntica à vista no show que a banda realizou em 2024 no Espaço Unimed em SãoPaulo.

A ideia cada vez mais clara é que o set list vem sendo moldado especialmente para a voz atual do grande Ian Gillan.

Por mais que aquele que já foi chamado de “silver voice” esteja já há cerca de uma década dando uma demonstração de heroísmo cantando músicas bastante difíceis gravadas quando ele estava na faixa dos 20 anos, há canções que exigem demais da voz de Gillan.

“Perfect Strangers” pode ser uma delas, já que em apresentações recentes com cobertura do Roque Reverso, como as que o Purple fez no Monsters of Rock de 2023 e no Solid Rock de 2017, o vocalista sofria demais para cantar as partes mais agudas da canção.

Se um show sem “Perfect Strangers” pode causar estranheza, uma apresentação do Deep Purple sem “Highway Star” seria quase um sacrilégio musical. E é justamente ela que vem abrindo os shows da banda já há algum tempo, justamente por ser uma faixa ainda mais difícil que a dos Anos 1980 e por ser cantada num momento do show em que a voz de Gillan ainda está mais conservada, se comparada ao que poderia ser vista após 1h30 de apresentação.

E quem gosta de rock e não se emociona quando vê a banda tocando com maestria esta faixa precisa rever conceitos, pois ela traz elementos marcantes de um dos maiores nomes da história do rock mundial.

Só de ver o trio da formação clássica (Gillan, o baterista Ian Paice e o baixista Roger Glover) executando o clássico já vale o ingresso pago.

“A Bit on the Side”, “Hard Lovin’ Man” e “Into the Fire” deram o tom de como o Purple mesclaria as músicas mais recentes e as mais antigas.

Em entrevista coletiva à imprensa especializada antes do show no Best of Blues and Rock, os membros da banda mostraram que estavam bastante satisfeitos com a experiência de incrementar o set list com material novo, saindo da zona de conforto dos hits.






O que se viu na apresentação em São Paulo foi exatamente um lendário grupo de rock com meio século de existência curtindo cada momento do show.

Eles poderiam estar curtindo uma vida de aposentado, mas como boa parte da geração de músicos que brilharam entre o fim dos Anos 1960 e a década de 1970, parecem se negar a deixar o meio musical. O que os fãs agradecem imensamente.

Os solos durante o show também foram uma estratégia do Deep Purple para descansar os membros mais antigos. Com isso, Don Airey nos teclados e Simon McBride na guitarra foram fundamentais para entreter o público enquanto Gillan, Paice e Glover tomavam um ar.

“Lazy”, “When a Blind Man Cries” e “Space Truckin'” são três músicas que dificilmente saem do set list do Purple. E elas estiveram presentes no Ibirapuera, trazendo a versatilidade da banda e todo o improviso marcante do grupo.

“Anya”, que não é exatamente um clássico, mas que foi muito tocada nas rádios nos Anos 1990, também se encaixa como uma luva neste momento da banda.

“Smoke on the Water” fechou novamente, como em outras oportunidades no Brasil, a primeira parte do show e fez a plateia cantar junto o tradicionalíssimo refrão. E se o leitor nunca teve o prazer de ver o Purple tocando a canção ao vivo, a avaliação é de que esse detalhe é um grande buraco no currículo rock and roll deste sujeito.

Depois de uma breve pausa, o bis veio com os clássicos “Hush” e “Black Night”, precedidos pela versão de “Green Onions”, do grupo Booker T. & the M.G.’s.

Ao fim do show, já nas últimas horas do domingo, a sensação geral era de que mais uma aula do Deep Purple havia sido dada em São Paulo. E o desejo, independente do set list, é de um retorno em breve, até quando a banda desses senhores aguentar. O bom e velho rock and roll sempre estará ali representado.

Para relembrar o grande show do Deep Purple no festival Best of Blues and Rock, o Roque Reverso trouxe vídeos do YouTube, a maioria filmada pela equipe deste site.

Fique inicialmente com a abertura e “Highway Star”. Depois veja um vídeo que traz de uma vez só “Hard Lovin’ Man” e “Into the Fire”, além das filmagens da banda tocando “When a Blind Man Cries”, “Anya” e “Space Truckin'”. Para fechar, o clássico “Smoke on the Water”

Set list

Highway Star
A Bit on the Side
Hard Lovin’ Man
Into the Fire
Uncommon Man
Lazy Sod
Lazy
When a Blind Man Cries
Anya
Bleeding Obvious
Space Truckin’
Smoke on the Water

Green Onions
Hush
Black Night

Deep Purple descarta ‘Perfect Strangers’, mas entrega nova aula em show no Best of Blues and Rock em SP