Quem passou perto do Allianz Parque no domingo, 30 de junho, pensou que o Metallica estaria se apresentando por lá. Uma verdadeira legião de fãs da lendária banda norte-americana de thrash metal se dirigiu à Arena do Palmeiras, mas a surpresa era que o objetivo do público era assistir a um concerto da Orquestra Petrobras Sinfônica. A ligação com o Metallica? Uma versão da Orquestra Petrobras Sinfônica para o clássico álbum “Metallica”, popularmente conhecido como “Black Album”.

Sob regência de Felipe Prazeres, o público presente na arena paulistana viu o premiado disco, que completará 30 anos em 2021, ser executado na íntegra.

A capacidade definida pelos produtores para a apresentação foi de 5.757 pessoas no chamado Allianz Parque Hall, versão reduzida da Arena do Palmeiras. Visualmente, cerca de 90% do espaço foi ocupado por fãs ansiosos para ouvir músicas do Metallica de uma maneira pouco tradicional.

Os fãs podem lembrar facilmente do disco/dvd ao vivo “S&M”, que mostrou o Metallica tocando ao vivo com a Orquestra Sinfônica de São Francisco, mas, em São Paulo, o negócio era diferente, já que não haveria os vocais, tampouco a banda.

Era, portanto, uma experiência nova para o público paulistano fã da banda e também arriscada, já que todos sabem o quanto um fã de heavy metal costuma ser exigente. Há, no entanto, muito fã de rock pesado que admira a música erudita e já se falou por aí que o lendário compositor alemão Richard Wagner tinha muito de heavy metal, tanto no comportamento como nas composições diferenciadas.

A apresentação

Logo após subir ao palco, o regente Felipe Prazeres explicou como funcionaria a execução, citando, por exemplo, a importância dos violinos, alguns deles com ou sem o uso de uma distorção especial, dependendo da exigência de cada faixa do Metallica.

Estava ali tudo aquilo que nada tem a ver com um show de heavy metal, quando o assunto é instrumento musical: violinos, violoncelos, flautas, oboés, clarinetes, fagotes, trompas, trompetes, tuba, tímpanos e percussão. De familiar, apenas a bateria e o contrabaixo.

O que tinha ali de diferente de um concerto de uma orquestra sinfônica? O traje totalmente simples dos músicos, muitos deles com jeans e tênis, numa conexão mais do que normal com o rock n’ roll.

O regente Felipe Prazeres, por sinal, mostrou, com entusiasmo e várias vezes ao longo da apresentação, sua camisa do Metallica, caindo facilmente nas graças do público.

Fiéis às tradições da banda, a Orquestra Petrobras Sinfônica trouxe na abertura a composição “Ecstasy of Gold”, criada por Ennio Morricone para a trilha sonora do filme “Três Homens em Conflito”, de Sergio Leone. Já ganhou o público logo de cara, com um arranjo de arrepiar o mais frio dos mortais.

Na sequência, o tradicional arrasa-quarteirão “Enter Sandman” serviu para empolgar o público facilmente, com direito a refrão cantado de “Exit, Light; Enter, Night” a plenos pulmões. No solo, que é originalmente da guitarra de Kirk Hammett, veio a estupenda participação do spalla (primeiro violinista da orquestra e que se senta sempre na primeira cadeira à esquerda do maestro) Ricardo Amado, levando os fãs ao delírio.

Na sequência correta do “Black Album”, vieram “Sad But True” e “Holier Than Thou”, com a densidade tradicional da primeira e a rapidez da segunda. Um detalhe que este jornalista notou foi a diferença de peso da bateria. Enquanto a de Lars Ulrich costuma ter aquele impacto de bater no peito da plateia, a da orquestra veio de uma maneira bem mais modesta, mesmo quando havia um complemento dos tímpanos.

Eis que chega a vez do hit “The Unforgiven” e a emoção é inevitável entre os presentes. Numa performance mais do que belíssima, foi difícil não se arrepiar com o que os músicos fizeram no Allianz Parque, num dos grandes momentos da apresentação, com destaque para o solo de guitarra (violino, no caso) espetacular do músico Carlos Roberto Mendes.

“Wherever I May Roam” e “Don’t Tread On Me” vieram na sequência e completaram o que, na época do lançamento do “Black Album” se chamava de “Lado A” do disco. Importante ressaltar a complexidade e qualidade das músicas do Metallica e o quanto o grupo alcançou de maturidade musical neste disco. As viradas musicais da orquestra simplesmente ressaltaram vários pontos complexos de cada faixa.

Depois dessas duas canções, os músicos anunciaram 20 minutos de pausa para o descanso, fato que é comum numa apresentação de orquestra sinfônica, mas pouco usual num show de heavy metal.

Na volta, foi a vez do chamado “Lado B”. A execução de “Through The Never” foi uma das melhores da noite e daquelas que reforçam para o fã do Metallica o quanto a banda consegue compor canções ricas musicalmente.

Na sequência, “Nothing Else Matters” trouxe toda a melodia do Metallica à prova, com os componentes da orquestra deixando a canção ainda mais bonita. Foi aí que o público também deu seu show à parte, usando as luzes dos celulares para iluminar as arquibancadas.

Após a execução da boa “Of Wolf And Man”, a Orquestra Petrobras Sinfônica tratou de finalizar o disco com as menos badaladas, mas cheia de elementos ricos musicais “The God That Failed”, “My Friend Of Misery” e “The Struggle Within”.

Ao fim, o público aplaudiu de pé toda a orquestra, que sentiu ali que a noite havia sido diferente. Antes do descanso pré-bis, o regente Felipe Prazeres deixou no ar que haveria surpresa, se a plateia pedisse. Houve quem gritasse por “Seek & Destroy”, mas tamanha paulada parecia muito naquele momento.

Na volta pós-descanso, a Orquestra Petrobras Sinfônica trouxe nada menos que “Master of Puppets”, levando o público ao êxtase.

Depois, foi a vez de vários repetecos da noite, com “Enter Sandman”, “Nothing Else Matters”, “Sad But True” e, de novo, “Master of Puppets”.

O saldo final da noite foi de homenagem a uma das maiores bandas da história feita por músicos competentes. Para quem estava na arena do Palmeiras, não há dúvida que houve uma experiência marcante para o público e que, se a Orquestra Petrobras Sinfônica emendar uma turnê pelo País executando o “Black Album”, terá um sucesso estrondoso.

Para relembrar o grande evento no Allianz Parque, o Roque Reverso traz vários vídeos que estão no YouTube, boa parte deles filmada por este veículo de comunicação. Fique inicialmente com a abertura e com “Enter Sandman”. Depois, veja a execução de “The Unforgiven”, “Through The Never”, “Nothing Else Matters”, “The God That Failed”, “My Friend Of Misery” e “The Struggle Within”.

Set list

Enter Sandman
Sad But True
Holier Than Thou
Unforgiven
Wherever I May Roam
Don’t Tread On Me

Through The Never
Nothing Else Matters
Of Wolf And Man
The God That Failed
My Friend Of Misery
The Struggle Within

Master of Puppets
Enter Sandman
Nothing Else Matters
Sad But True
Master of Puppets