Que me desculpem os amantes dos clássicos três acordes do punk rock, mas assistir a um show de músicos virtuosos faz bem a qualquer um que goste de apreciar um som de qualidade. Para quem foi ao Estádio do Morumbi na sexta-feira passada, dia 8 de outubro, a imagem dos fãs boquiabertos e hipnotizados com a performance do Rush vai ficar como mais um registro histórico dos bons espetáculos que passaram pelas terras paulistanas.

A banda canadense, que não vinha ao Brasil desde 2002, chegou a São Paulo para trazer a 38 mil pessoas o show que faz parte da turnê “Time Machine”.

Não bastasse, a sequência de canções marcadas pela técnica apurada do trio, o público foi presenteado com a execução do clássico álbum “Moving Pictures”, de 1981, considerado por muitos o melhor da banda.

A menor quantidade de pessoas, em relação a 2002, quando o Rush tocou pela primeira vez no Brasil, também no Morumbi, pode ser explicada pelo preço salgado do ingresso (que já virou uma rotina nos recentes espetáculos que vêm sendo trazidos para o País), pela ideia de trazer um show grande numa véspera de feriado prolongado e, claro, pela quantidade inacreditável de bandas que devem passar por aqui entre outubro e novembro.

Vale lembrar que, dois dias antes do Rush, no mesmo estádio, o Bon Jovi se apresentou. Nos dias seguintes ao show dos canadenses, houve também o SWU Festival, em Itu, que reuniu algo em torno de 160 mil pessoas na soma dos três dias de evento.

É claro que os públicos são diferentes, mas um apreciador da boa música que não está nadando em dinheiro tende a escolher um ou outro evento, em vez de tentar conhecer um som diferente, caso os intervalos entre os dias de shows fossem maiores. Mas vai entender a cabeça dos organizadores…

O show começou sem atrasos. Na abertura, foi apresentado no telão um esquete onde os três membros da banda interpretavam figuras engraçadas, fazendo uma paródia do clássico “Spirit of Radio” e usando uma espécie de máquina do tempo maluca, que fazia o grupo alterar o estilo da música para algo bizarro e diferente da gravação original. Depois das diversas versões, a máquina do tempo é acertada para o andamento que consagrou a música e o show passou do filme gravado para os músicos ao vivo no palco, levantando a multidão, com a mesma canção.

Na sequência, amparados por telões de altíssima definição, os três músicos trouxeram mais clássicos e hits. “Time Stand Still”, “Presto” e “Stick It Out” mostraram porque a banda é elogiada pela técnica apurada. Geddy Lee destruindo o baixo; Alex Lifeson aliando técnica e peso na guitarra; e Neil Peart provando a todos (como se, por acaso, precisasse) por que é considerado, para muitos, o baterista com maior talento dentro do rock.

Em meio a mais algumas músicas recheadas de passagens difíceis que poucos músicos tendem a executar, a banda tocou a nova “BU2B”, que deve ser lançada com novo álbum aguardado para 2011. Também houve espaço para “Marathon” e nada menos que “Subdivisions”.

Foi quando Geddy Lee informou que a primeira parte do show havia terminado e que seria feito um intervalo para descanso. Segundo ele, a parada era necessária por causa da idade avançada dos músicos.

Depois do intervalo longo e pouco comum para shows de rock, mais um esquete foi apresentado no telão. Era a deixa para a apresentação histórica e na íntegra do álbum “Moving Pictures”, privilégio de poucos e felizardos espectadores na história do rock. O megaclássico “Tom Sawyer”; “Red Barchetta”; a instrumental “YYZ”, com o público fazendo coro poderoso; “Limelight”; “The Camera Eye”; “Witch Hunt”; e “Vital Signs”. Uma atrás da outra, na ordem exata e na mais perfeita aula impressionante do trio canadense.

Com o término da execução do “Moving Pictures”, o Rush trouxe mais uma música de seu futuro trabalho: “Caravan”, que deixou claro que a banda ainda tem muita lenha para queimar.

Depois da nova canção, foi a hora de ver Neil Peart em um solo magistral em sua bateria enorme e cheia de apetrechos. Houve tempo ainda para “Closer to The Heart”, “2112” e “Far Cry” e, no bis, a banda trouxe nada menos que “La Villa Strangiato” e “Working Man”.

Após três horas dentro do Morumbi na companhia do grupo e de mais um esquete cômico com participação da banda, o público pode seguir para casa e guardar aquela apresentação como uma das mais técnicas que já passaram por esta cidade. Resta torcer para que este momento volte acontecer mais rapidamente, sem que a espera chegue aos oito anos que separaram a banda do Brasil desde a sua primeira passagem por aqui.

Para manter a tradição, o Roque Reverso descolou o set list do show, algumas fotos oficiais do ótimo MRossi divulgadas pela produtora Time For Fun e alguns vídeos amadores do show postados no YouTube. Para começar, a abertura do show e a música “The Spirit of Radio”. Na seqüência, um novo vídeo de abertura e a clássica “Tom Sawyer”. Depois, a galera cantando junto a instrumental “YYZ”. Para fechar, “Limelight”.

Set List: 

The Spirit Of Radio
Time Stand Still
Presto
Stick It Out
Workin’ Them Angels
Leave That Thing Alone
Faithless
BU2B
Freewill
Marathon
Subdivisions

Tom Sawyer
Red Barchetta
YYZ
Limelight
The Camera Eye
Witch Hunt
Vital Signs
Caravan
Solo de Neil Peart
Closer To The Heart
2112
Far Cry

La Villa Strangiato
Working Man