Os produtores do Fábrica Festival informaram no dia 14 de novembro que o evento, que aconteceria nos dias 1º e 2 de dezembro, em Sorocaba, foi cancelado. De acordo com os organizadores, a decisão leva em conta mais de um fator impeditivo para realização do festival.
A primeira edição do Fábrica Festival seria realizada no Parque Tecnológico de Sorocaba. O line-up internacional era encabeçado por Soul Asylum, Information Society, Playing for Change e Snake, além do Oingo Boing Formers Members.
O interior de São Paulo tem agendado para o início de dezembro um festival de grande porte que reunirá diversos estilos musicais, mas que terá uma quantidade respeitável de representantes do rock nacional e internacional. A primeira edição do Fábrica Festival chega ao Parque Tecnológico de Sorocaba, nos dias 1º e 2 de dezembro.
O line-up internacional é encabeçado por Soul Asylum, Information Society, Playing for Change e Snake, além do Oingo Boing Formers Members.
Vivemos tempos delicados. Essa frase provavelmente já se aplicou em todas as épocas e todos os lugares do mundo, em cada situação a seu modo. O tempo delicado de nosso lugar e nossa época é a caretização desenfreada de uma sociedade hipócrita, assim como suas consequências.
Quem ridicularizou ou menosprezou os avanços da extrema-direita no Brasil e no mundo ao longo dos últimos poucos anos agora ergue a sobrancelha em sinal de preocupação com os higienistas de plantão.
A eleição presidencial mal tinha terminado e uns gatos pingados já estavam nas ruas para pedir um novo golpe militar e acabar com essa tal de democracia. Talvez se trate de pessoas ansiosas por verem familiares e amigos sendo presos, torturados, mortos ou simplesmente desaparecerem pelas mãos de uma nova Redentora.
Talvez só estejam cansadas de ver a mídia divulgar tantos escândalos e o andamento de tantas investigações sobre suspeitas de corrupção. Afinal, não haveria mais notícias sobre temas tão incômodos, e muito menos investigações. Ou então, como bem lembrou o amigo jornalista Mario Rocha, se trate apenas de gente com saudade não apenas da censura às notícias, mas também aos discos, aos livros, aos shows, aos filmes e às peças de teatro.
As Senhoras de Santana do século 21 não conseguiram insuflar o golpe que tanto almejam (ainda?), mas crimes já são cometidos em seu nome. No fim de setembro, o jovem Hiago Augusto Jatoba de Camargo foi morto a facadas em Curitiba enquanto trabalhava como cabo eleitoral de Gleisi Hoffman (PT), candidata derrotada na campanha para o governo do Paraná.
Agorinha mesmo, no último dia 10 de dezembro, enquanto o Brasil era tardiamente apresentado às conclusões e recomendações da Comissão da Verdade, responsável por esclarecer as responsabilidades pelos abusos cometidos durante a ditadura cívico-militar (1964-1985), o excelentíssimo senhor deputado Jair Bolsonaro (PP) tomou a tribuna do Congresso Nacional para dizer à ex-ministra e também deputada Maria do Rosário (PT) que só não a estupraria porque ela não merece.
Bolsonaro claramente abusa de sua imunidade parlamentar para permanecer impune. Tem gente querendo vender o tema como “polêmica”, mas se trata de crime. Talvez ninguém se espante se o Congresso não cassar o mandato de Bolsonaro para que este possa responder criminalmente pela agressão. Afinal, trata-se de um caso explícito e registrado de ameaça de violência contra a mulher levado a um Congresso dominado por homens em um país machista.
E o que isso tem a ver com rock? O rock, apesar de ter conquistado o mundo por seu caráter libertário e revolucionário, é também um meio dominado por homens e muitas vezes conservador e machista. Dave Mustaine, Yngwie Malsmsteen e Ted Nugent aparecem entre os grandes nomes da vanguarda do atraso roqueiro no plano internacional. No Brasil, Lobão e Roger Moreira disputam palmo a palmo algum prêmio de indigência política que sabe-se lá por que ainda não foi criado.
Quem discorda pode até achar exagero isso, ou achar que existe “mulher pra casar e mulher pra transar”, mas provavelmente recorrerá a outro peso e a outra medida se um dia o alvo dessa violência for sua mãe (salvo os bebês de proveta e os entregues pela cegonha todo mundo tem uma; árbitros de futebol têm duas), sua irmã, sua filha ou qualquer mulher com quem se tenha alguma relação de afeto.
O machismo, assim como o racismo, é um sistema de opressão e violência. Vivemos em uma sociedade machista, é fato. Mas isso é uma criação coletiva. Não tem que ser assim pra sempre. Mudá-la e torná-la mais civilizada cabe a cada um de nós. O combate a sistemas de opressão não é apenas legítimo, mas tarefa obrigatória para quem almeja melhoras em uma sociedade desigual e injusta como a que vivemos. Um dos caminhos é o repúdio a toda e qualquer forma de violência, venha esta de onde vier.
O Roque Reverso força o gancho, mas não se omite. Para inspirar uma trilha sonora de combate à violência contra a mulher, fique com “Rape Me” (Nirvana), “Luka”(Suzanne Vega) e “Camila, Camila” (Nenhum de Nós).