
Iggy Pop, Bruce Dickinson e Green Day foram os destaques do dia que marcou a redenção do rock no The Town 2025 no domingo, dia 7 de setembro. Cada uma com brilhos diferentes, essas foram as atrações que mais chamaram a atenção em um dia no qual outros grandes shows foram vistos no Autódromo de Interlagos, tanto de nomes internacionais como nacionais.
Isolado num único dia em um festival com 5 dias de duração na cidade mais rock and roll do País, o estilo que é razão de existência deste site jornalístico ainda teve nos shows do grupo norte-americano Bad Religion e das atrações brasileiras Inocentes (que dividiu o palco com Supla), Pitty e Capital Inicial outros grandes momentos para gerar orgulho entre os fãs.
Segundo os organizadores, 90 mil pessoas estiveram presentes no domingo, apesar de a sensação em alguns momentos, como no show do Green Day, fosse de muito mais pessoas presentes, dado o aperto na área reservada para a atração principal do dia.
Estrutura e organização
Definida para acontecer nos dias 6, 7, 12, 13 e 14 de setembro de 2025, no Autódromo de Interlagos, a segunda edição do megafestival paulistano The Town ganhou uma área aproveitada ainda maior do que a da primeira edição.
Se, em 2023, o espaço reservado foi de 350 mil m², para 2025, os organizadores informaram uma área área total de 460 mil m², equivalente a 70 campos de futebol e algo que superaria até mesmo o espaço do Rock in Rio, de 385 m², considerado até então o principal festival do País.
Para este Roque Reverso, que já fez coberturas de outros grandes festivais, como Lollapalooza, Monsters of Rock, SWU, Maximus e o próprio Rock in Rio, entre tantos outros dentro ou fora de São Paulo, é inegável que o The Town impressiona em tamanho e área aproveitada para o evento.
Mesmo em relação ao gigantesco e saudoso SWU Festival, realizado em 2011 na cidade paulista de Paulinia numa área total de 1.700.000 m² (dos quais 445 mil m² de arena), a sensação foi a de que o The Town de 2025 é maior.
Reunindo diversas oportunidades de diversão além dos shows, como roda gigante, tirolesa e até uma montanha russa, e também com diversos estandes de empresas patrocinadoras e apoiadoras do evento, a sensação é de que um dia é muito pouco para desfrutar completamente do festival.
Como o foco deste veículo foram os shows, a decisão mais correta foi se programar para conseguir assistir ao maior número possível de apresentações, especialmente nos dois palcos principais, o Skyline, onde o Green Day foi o headliner, e o The One, onde Iggy Pop fez o show principal.
E foi exatamente a diferença entre esses dois palcos um dos poucos pontos de reclamação de quem esteve presente no festival. Enquanto o Palco The One foi disponibilizado numa área na qual ele ficava no ponto mais baixo de um vale, parecendo um gigante anfiteatro, o Skyline era o oposto, ficando “no topo da montanha”.
Se, no The One, o público podia ver os shows de diversos pontos e até ficar sentado nas partes mais altas do espaço reservado, no Skyline, quem ficou na parte de trás sofreu um pouco para conseguir assistir. E também acabou ficando em espaço muito mais apertado e que deu até alguma sensação de perigo, se houvesse algum tipo de tumulto ou correria, o que ainda bem não aconteceu.
Quem esteve na edição de 2023 e na edição de 2025 notou a diferença de distância entre esses dois palcos. Se, em 2023, a reclamação foi de uma existência de um “funil” para se deslocar de um palco para o outro, em 2025, houve uma melhor separação, mas a necessidade de uma caminhada de 15 a 20 minutos, o que obrigava, para quem não queria perder o início de cada show, a perda das duas ou três últimas músicas das apresentações anteriores.
Pontos importantes para um festival, os banheiros e o transporte merecem ser elogiados no The Town 2025. No caso dos banheiros, a grande oferta, estrutura e limpeza (sim, sempre há pessoas sem educação que não conseguem, por exemplo, jogar lixo nas latas e jogam papel dentro da pia) merecem ser destacadas. No caso do transporte, o trem expresso foi uma grande sacada, bem como a estação Cidade Dutra reativada especialmente para o festival.
Green Day faz encerramento apoteótico
Atração principal do dia e com o maior número de fãs presentes, o Green Day mostrou o porquê é considerado um dos maiores nomes do rock da atualidade. Com uma quantidade enorme de hits de sua já longa carreira, a banda norte-americana fez tudo aquilo que se esperava no Palco Skyline.
Aproveitando ainda a turnê que comemora ao mesmo tempo os 30 anos do álbum “Dookie”, de 1994, e os 20 anos do disco “American Idiot”, de 2004, o Green Day desfilou sem maiores dificuldades hits, como “Holiday”, “Know Your Enemy”, “Boulevard of Broken Dreams”, “Longview” e “Welcome to Paradise”.
“American Idiot” abriu a apresentação, que foi encerrada cerca de duas horas depois com “Good Riddance (Time of Your Life)”.
Dentre os vários momentos bons do show, merece destaque a trinca formada por “Minority”, “Basket Case” e “When I Come Around”, que levantou o público.
Visivelmente empolgados e satisfeitos por tocar para o público gigantesco e vibrante no The Town, Billie Joe Armstrong (voz e guitarra), Mike Dirnt (baixo) e Tré Cool (bateria) fecharam de maneira apoteótica e competente o primeiro fim de semana do festival em Interlagos.
Iggy Pop reforça imagem de lenda do rock
O Green Day pode ter sido a atração principal do Dia do Rock no The Town e feito um grande show, mas é inegável que a presença mais marcante do festival foi a de Iggy Pop. Com os seus 78 anos de idade, o astro norte-americano reforçou a imagem de lenda do bom e velho rock and roll com uma apresentação gigantesca e necessária no Palco The One para os amantes do estilo.
Com uma excelente banda de apoio, Iggy Pop trouxe alguns de seus maiores sucessos, tanto da carreira solo como da fase no The Stooges.
Depois de abrir o show com nada menos que “T.V. Eye”, o chamado “padrinho do punk” satisfez em larga escala os privilegiados no The One, trazendo faixas que entraram para a história do rock.
“The Passenger”, “Lust for Life”, “Search and Destroy” foram pontos altos do show, mas nada conseguiu ser comparado ao que foi visto em “I Wanna Be Your Dog”, um momento para se guardar na memória de quem ama a história do bom e velho rock and roll.
Bruce Dickinson atrai legião e faz um dos melhores shows
Considerado quase um “intruso” em um dia marcado por atrações do rock ligadas ao punk, Bruce Dickinson entregou um dos melhores shows do festival. Acompanhado por uma excelente banda, o vocalista do Iron Maiden trouxe um repertório focado na sua carreira solo e amparado por uma técnica elogiável dos músicos presentes.
Quem esteve presente no Autódromo de Interlagos viu o poder do Iron Maiden na presença das camisetas. Era possível, em vários momentos, ver mais camisetas da lendária banda britânica do que qualquer outra, com exceção das do Green Day, que era a atração principal do evento.
Esta devoção ao Iron Maiden fez com que o público presente no show de Bruce Dickinson cantasse todas as músicas da boa carreira solo dele, que subiu ao palco brilhantemente com a ótima execução da pesada “Accident of Birth”.
Outros destaques foram “Road to Hell”, “Chemical Wedding” e “Tears of the Dragon”, que mostraram toda a versatilidade de Bruce e da banda.
O presente especial aos fãs do Iron Maiden ficou para o final do show, com Bruce cantando à capela um trecho do clássico “Revelations” e, logo na sequência, nada menos que “Flash of the Blade” (veja um trecho aqui), tocada pela primeira vez na América do Sul e jamais tocada ao vivo pelo Iron Maiden.
Durante o show, Bruce reclamou do tempo curto de 1 hora de show estipulado pelo festival, mas prometeu um retorno em breve para uma apresentação solo maior.
Bad Religion substitui Sex Pistols com bom show
Banda escolhida para substituir o ausente Sex Pistols, que não veio ao The Town por problemas de saúde de integrantes, o Bad Religion fez um show competente e com vários de seus sucessos.
Se para Bruce Dickinson, o tempo de 1 hora foi pequeno, para uma banda punk, como o Bad Religion, deu de sobra.
Enquanto Bruce Dickinson tocou 11 músicas (contando aí a versão menor e à capela de “Revelations”), o grupo norte-americano trouxe nada menos que 24 canções para o show!!!
Os hits demoraram um pouco a aparecer, mas depois das sempre ótimas e marcantes “We’re Only Gonna Die” e “Generator”, a porteira foi aberta com o desfile de vários hits.
“21st Century (Digital Boy)”, “Infected”, “Sorrow” e “American Jesus” foram outros pontos altos da boa apresentação do Bad Religion.
Inocentes e Supla honram o punk paulistano em grande show
Para quem sempre acompanhou a cena punk paulistana foi difícil não se emocionar no show que os Inocentes fizeram na abertura do Palco The One no Dia do Rock. Numa das ações mais elogiadas do The Town, finalmente o grupo liderado pelo vocalista Clemente teve um palco de grande festival condizente com sua longa carreira no bom e velho rock and roll.
Trazendo clássicos de sua carreira, como “Pátria Amada”, “Pânico em SP”, “Expresso Oriente”, “Cala a boca” e a tradicional cover “São Paulo”, do grupo 365, os Inocentes fizeram um dos melhores shows do The Town, incluindo efeitos do telão de fundo do palco que alta qualidade e que não ficam devendo em relação a bandas maiores e mais badaladas.
Já com vocal de Supla, que também trouxe hits da carreira solo e do grupo Tokyo em show à parte no mesmo palco, os Inocentes ainda tocaram mais dois ultraclássicos do punk: “I Fought the Law”, do The Clash, e “Blitzkrieg Bop”, dos Ramones.
Pitty emociona em show de qualidade
Mais uma representante do rock nacional no Palco The One, a cantora Pitty trouxe show de grande qualidade para uma legião de fãs que cantaram praticamente todas as músicas do início ao fim.
Não ficaram de fora e marcaram o show hits, como “Máscara”, “Admirável chip novo”, Teto de vidro”, “Memórias” e “Me adora”, que fechou a apresentação.
Mas nada foi comparado ao momento no qual “Na sua estante” foi executada por Pitty. Com ela acompanhado apenas com seus acordes de guitarra, a plateia, e somente ela, sem a interpretação de Pitty, cantou a música do início ao fim, num mar de vozes (veja um trecho aqui) que, sem sombra de dúvidas, foi um dos maiores momentos do The Town 2025.
Capital Inicial traz clássicos da carreira
Outra veterana banda brasileira presente no The Town, o Capital Inicial já virou figura carimbada, e de maneira merecida, nos grandes festivais. Com mais um show competente e de qualidade, o grupo brasileiro se apresentou de dia (algo raro em suas participações recentes), abrindo os shows do Palco Skyline.
Também com uma série de hits, como “Psicopata”, “Independência”, “Veraneio Vascaína” e “Fátima”, o Capital Inicial ganhou a plateia desde o início e teve as canções acompanhadas pela plateia do início ao fim da apresentação.
Os maiores destaques foram para três covers de respeito: “Que país é esse”, da Legião Urbana, “Should I Stay or Should I Go”, do The Clash, e “À sua maneira (De música ligera)”, versão brasileira para a música do Soda Stereo, que fechou a apresentação, para variar, com o público cantando a plenos pulmões.
Balanço do Dia do Rock
O balanço do Dia do Rock no The Town foi bastante positivo, mas é claro que, numa cidade como São Paulo, era preciso existir mais do que uma mísera data para o estilo musical que tem o público mais fiel e lota shows com frequência na capital paulista.
Talvez, se Bruce Dickinson comandasse uma outra data, ficando assim um Dia do Punk X Dia do Metal, com tantas bandas disponíveis internacionais e nacionais, o rock teria sido contemplado da maneira mais correta.
Ainda assim, o line-up visto em Interlagos no dia 7 de setembro, superou, em larga escala, quando o assunto é rock, o de vários dias, por exemplo, das edições recentes do Rock in Rio e do Lollapalooza Brasil.
O Roque Reverso não conseguiu credenciamento de imprensa para a cobertura do The Town. Tentou com a assessoria de imprensa, que não respondeu nossos contatos.
Este jornalista foi acompanhar o festival em Interlagos como mero espectador veterano de shows, mas decidiu escrever este texto em respeito aos nobres leitores que acompanham este site há mais de 15 anos.
Não foi possível acompanhar todos os shows, como, por exemplo, o do ótimo Black Pantera, no Palco Quebrada, por conflito de horário com o do Bad Religion.
Talvez, com o credenciamento de imprensa de outros integrantes da Redação ou de nossos colaboradores, fosse possível trazer uma cobertura mais completa, mas o que foi possível acompanhar foi relatado por aqui.
Para relembrar grandes momentos do The Town, o Roque Reverso descolou vídeos do YouTube, muitos deles filmados por nós. Acompanhe abaixo.
Iggy Pop, Bruce Dickinson e Green Day são os destaques do dia da redenção do rock no The Town


Muito bacana o texto, Flávio, com visão abrangente e sem preconceitos, de artistas diversos, passando também por uma visão em perspectiva que só jornalistas como vc, com longa vivência de eventos dessa dimensão, costumam trazer. Belo trabalho que o Roque Reverso tem feito esses anos todos. Rock on!
Puxa, Leal!
Muito obrigado, meu caro!
Vindo de você, um cara muito diferenciado e acima da média do conhecimento, eu fico muito feliz em ler isso.
Grande abraço!