
Por Marcelo Moreira, do blog Combate Rock
Até hoje ninguém sabe ao certo o porquê de nunca ter chegado ao mercado uma coleção de gravações dos primórdios de Jeff Beck, principalmente da primeira fase de seu Jeff Beck Group. Para a revista inglesa Classic Rock Magazine, o cantor Rod Stewart disse certa vez que não existiam gravações de qualidade do período, insinuando que os problemas eram de captação dos show e também de performance da banda.
O guitarrista Ron Wood refutou essa afirmação, dizendo que sabia de arquivos de muita boa qualidade da formação em questão, mas jamais esclareceu onde estariam as tais gravações.
O que antes só existia em gravações piratas ilegais em LP, CD e MP3, com qualidade ruim, afora pode ser saboreada em um álbum recém-lançado na Inglaterra, em CD e streaming, contendo um punhado de faixas registradas em shows pela emissora pública inglesa BBC
“Guitar Virtuoso – Live Broadcasts Collection” reúne material dos arquivos da emissora que cobre o período ente 1967 e 1972, ou seja, as duas fases do Jeff Beck Group, com apresentações realizadas na Inglaterra e na Alemanha.
A primeira parte do trabalho é a mais interessante, embora com menos qualidade de som por conta de problemas de captação. É a primeira formação do Jeff Beck Group em shows de 1967 e 1968. É praticamente um supergrupo: Beck na guitarra, Rod Stewart nos vocais, Ron Wood no baixo, Mick Waller na bateria e Nicky Hopkins no piano.
Voando nos palcos, o grupo fazia um blues pesado com a guitarra de Beck emanando um feeling absurdo. Os solos são dilacerantes, como em “Rock My Plymsoul”, “(I Know I’m) Losing You” e “Beck’s Bolero”.
O quinteto gravou o maravilhoso álbum “Truth”, de 1968, que ainda tinha convidado como Jimmy Page (guitarra, antes de formar o Led Zeppelin), Keith Moon (bateria) e John Entwistle, (baixo), ambos do The Who.
O segundo álbum, “Beck-Ola”, já é mais irregular e contou com muitos outros músicos além da formação oficial – foi lançado em 1969 depois que a banda tinha se desfeito por desentendimentos entre os integrantes e falta de retorno comercial.
Desiludido, Beck encarou um longo hiato como “sabático” antes de criar a segunda encarnação do Jeff Beck Group – tentou até mesmo se lançar como guitarrista e cantor com um fracassado single, “Hi Ho Silver Lining”.
Ressurge para valer em 1971 com músicos excelentes na formação, embora menos conhecidos, como o cantor Benmont Tench e o tecladista Max Middleon.
O blues deu lugar ao jazz e à soul music, quase numa tentativa de competir com a Mahavishnu Orchestra, do amigo John McLaughlin, com a banda de Miles Davis e com Sly and Family Stone. O resultado foram dois álbuns ótimos.
A qualidade de som melhora sensivelmente e a banda brilha em temas mirabolantes como “Situation”, “Got The Feeling”, uma versão funkeada de “Let Me Love You Baby” e um clássico fundamental de carreira do guitarrista, a monstruosa “Definitely Maybe”.
Jeff Beck não dependia de distorção excessiva ou efeitos chamativos — seu timbre vinha dos dedos e do uso sutil da alavanca de ressonância. Sua precisão nos controles de volume e timbre lhe permitiu criar sons assombrosos e sobrenaturais que pareciam quase sobrenaturais.
O período captura também a enorme influência exercida pelo gênio Stevie Wonder sobre Beck – a amizade entre os dois mudou totalmente a vida do guitarrista, que teria mais tarde, como o maior sucesso de sua careira solo, uma canção do astro americano, “’Cause We’ve Ended As Lovers”.
O álbum é importante porque finalmente documenta ao vivo as performances de Jeff Beck no começo de sua empreitada como líder de banda. Também registra o fim definitivo do Jeff Beck Group
A partir de 1973, Beck forma um trio de hard rock com o baixista e vocalista Tim Bogert e com baterista Carmine Appice, que tinham, tocado no Vanilla Fudge, Beck, Bogert & Appice durou apenas um ano e um álbum de estúdio, pois o guitarrista decidiu dar uma guinada na carreira para cair de cabeça de jazz a partir de 1974.
Músicas ao vivo dos primórdios de Jeff Beck Group finalmente são lançadas

