A festa do hard rock e do heavy metal aconteceu em São Paulo no sábado, 19 de abril, quando o tradicionalíssimo festival Monsters of Rock comemorou o aniversário de 30 anos da primeira edição em solo brasileiro, realizada em agosto de 1994 na capital paulista. Em um dia com as mais diversas variações climáticas, o público que compareceu ao Allianz Parque conferiu sete bandas veteranas de vertentes diversas do rock pesado, mas que entregaram bons shows, em um evento marcado pela confraternização de um grande número de fãs.

Scorpions, Judas Priest, Europe, Savatage, Queensryche, Opeth e Stratovarius levaram públicos das mais diversas idades para a Arena do Palmeiras. Os cinco primeiros fizeram shows mais marcantes e com maior quantidade de público, que viu um Scorpions sexagenário, um Judas Priest imponente, um Europe feliz, o Savatage em retorno triunfal e o Queensrÿche altamente técnico. Stratovarius e Opeth estiveram muito longe de apresentações fracas e fizeram também bons shows, mas foram prejudicados pelo horário escolhido.

Foi possível verificar a presença massiva de pessoas que acompanham o Monsters of Rock desde a década de 1990, mas também jovens e até crianças, muitas delas filhas da parcela majoritária dos presentes, estreantes num evento desta magnitude dentro do rock pesado.

O Allianz Parque, cuja capacidade oficial máxima em shows é de 55 mil pessoas, não ficou totalmente lotado como na edição do Monsters of Rock de 2023, festival com enorme repercussão positiva e no qual o retorno dos shows da pandemia da covid-19, desde 2022, ainda gerava uma verdadeira corrida desenfreada para eventos musicais.

O que se viu, no entanto, foi a Arena do Palmeiras muito perto da lotação, com poucos espaços vazios localizados mais na parte que ficou atrás da torre de som, mais precisamente nas Cadeiras Inferiores do Allianz Parque. Pista Vip, Pista Comum e Cadeiras Superiores tiveram nos shows que fecharam o festival e que tinham maior apelo – do Scorpions e do Judas Priest – praticamente uma quantidade máxima de pessoas da capacidade oficial.

No evento realizado naquele que é considerado pela maioria do público o melhor espaço para grandes shows na cidade de São Paulo, chamou a atenção a organização e a qualidade sonora durante os shows, especialmente para o público que estava sobre o gramado protegido do Allianz Parque.

As tempestades previstas pelos institutos de meteorologia para boa parte do sábado demoraram (ainda bem) para aparecer na zona oeste paulistana onde fica a arena. E, mesmo assim, chegaram com uma intensidade menor do que a esperada, ainda que quantidade de chuva fosse maior e constante justamente nos shows do Judas Priest e do Scorpions, as atrações mais badaladas da noite.

Scorpions traz turnê de 60 anos com escorpião gigante

Headliner do Monsters of Rock 2025, o Scorpions voltou ao Allianz Parque dois anos depois da edição de 2023, agora com a responsabilidade de encerrar uma edição que há dois anos foi finalizada em grande estilo pelo KISS.

A veterana banda alemã trouxe a São Paulo sua turnê de 60 anos e manteve sua qualidade impecável que faz os amantes da música se questionarem a cada vinda do grupo ao País se existe algum show ruim do Scorpions.

Clássicos obrigatórios, como “The Zoo”, “Coast to Coast”, “Bad Boys Running Wild”, “Wind of Change”, “Tease Me Please”, “Big City Nights”, “Still Loving You”, “Blackout” e “Rock You Like a Hurricane”, vieram intactos ao Monsters de 2025, assim como no Monsters de 2023. A primeira da noite “Coming Home” foi uma novidade aliada aos efeitos de telão e de palco que, a cada vinda do Scorpions ao Brasil, ficam melhores.

A grande novidade da apresentação de 2025 foi um escorpião mecânico gigante que veio ao palco nas músicas “Blackout” e “Rock You Like a Hurricane”, que fizeram parte do bis. No maior estilo “Iron Maiden”, que sempre inova com seu mascote Eddie, o Scorpions acertou em cheio com essa novidade, encantando o público presente justamente no momento no qual a chuva mais apertava no Allianz Parque.

Uma questão que deixou alguns fãs preocupados foi a situação do vocalista Klaus Maine. Com seus incríveis 76 anos de idade, esse verdadeiro herói do rock pareceu claramente ser o que mais está sentindo as mais de 6 décadas com a banda.

Com a voz mais fraca que a de costume e com uma clara dificuldade para caminhar no palco, ele mostrou ser um verdadeiro guerreiro, ao tentar cantar dignamente para uma multidão.

Os guitarristas Rudolf Schenker e Matthias Jabs, mais uma vez, foram os destaques. E o baterista Mikkey Dee, desde que entrou na banda após o término do Motörhead, trouxe um peso que o fã do Scorpions se acostumou e já não vê a banda sem este impacto.

A apresentação de 2025 ficou pouco atrás da verificada no mesmo festival de 2023, mas trouxe o Scorpions ainda num alto nível, capaz de encantar tanto aqueles que já viram o grupo inúmeras vezes como as pessoas que foram ver a banda pela primeira vez.

Judas Priest imponente

Falar que o Judas Priest é uma das maiores bandas da história do heavy metal e que tem os maiores shows do estilo já é “chover no molhado”. Mas, quando as pessoas lembram que o grupo britânico é pouco mais novo que o Scorpions e traz uma apresentação ainda mais pesada, tudo fica mais impressionante.

É claro que os lendários guitarristas fundadores da banda foram substituídos por membros mais jovens, mas o baixista Ian Hill com seus 74 anos e o gigantesco vocalista Rob Halford com 73 anos estão aí para provar que pessoas que poderiam estar descansando em casa como aposentados se recusam a abandonar o heavy metal e continuam entregando o peso na música.

Imponente, o Judas Priest trouxe ao Allianz Parque mais um grande show na apresentação que marcou sua segunda participação na história do Monsters of Rock no Brasil.

No repertório, a banda que fez o penúltimo show da noite trouxe clássicos e boas canções do seu mais recente álbum “Invincible Shield”.

“You’ve Got Another Thing Comin’”, “Breaking the Law”, “Victim of Changes” e “Painkiller” foram os grandes destaques da primeira parte da apresentação.

E o bis veio com nada menos que “Eletric Eye”, “Hell Bent for Leather” e “Living After Midnight”, todas elas com algum ingrediente de impacto, como, por exemplo, a moto Harley-Davidson imponente usada por Rob Halford na penúltima música, num dos momentos mais clássicos da história dos shows de heavy metal sempre presente nas vindas do Judas Priest ao Brasil.

No balanço final do show, mais uma aula de metal de uma das bandas que é símbolo maior da vertente mais pesada do bom e velho rock and roll.

Europe traz claro estado de felicidade

Se há uma banda que ficou marcada por baladas e músicas que viraram hits pegajosos dos Anos 1980, mas que tem muito mais a oferecer que isso, essa banda é o Europe. O grupo sueco voltou ao Allianz Parque depois de ter tocado em 2019 no mesmo local no festival Rockfest e trouxe um show ainda melhor que o visto naquela ocasião.

Com efeitos de palco de primeira linha e com músicas que vão muito além do que as marcantes “Carrie” e “The Final Countdown”, o Europe veio com uma apresentação de alta qualidade e, acima de tudo, estava claramente feliz por estar tocando no Monsters of Rock.

Quando uma banda está feliz com o que faz, dificilmente um show é ruim. E foi o que o Europe mostrou na Arena do Palmeiras.

Capitaneada pelo simpático vocalista Joey Tempest, o Europe encantou até os fãs mais exigentes. “Rock the Night”, “Cherokee” e a ótima “Last Look at Eden”, que veio com efeitos especiais maravilhosos e impactantes, foram as melhores da noite e credenciaram a banda para novas vindas ao Brasil.

Savatage e o retorno triunfal

Se havia uma expectativa por algo fora da mesmice no Monsters of Rock e capaz de provocar grande curiosidade, o Savatage era a grande aposta do festival.

Sem se apresentar desde 2015 ao vivo, a banda norte-americana veio a São Paulo, onde não tocava desde 2001. E ainda voltava a um festival no qual se apresentou em 1998, na quarta edição.

Sem o vocalista fundador Jon Oliva por problemas de saúde, mas com Zak Stevens nos vocais e guitarras impactantes de Al Pitrelli e Chris Caffery, o Savatage emocionou fãs e até mesmo quem não conhecia profundamente o trabalho do grupo.

Com efeitos hipnóticos no telão central e canções que não eram tocadas há muito tempo ao vivo, como “The Ocean” e “Welcome”, o grupo não decepcionou quem esperava um show marcante.

Os maiores destaques ficaram com os sucessos “Edge of Thorns” e “Hall of The Mountain King”, num show que já entrou para a história do Monsters of Rock.

A aula de técnica do Queensrÿche

Não há dúvidas que, na briga histórica que fez que Geoff Tate sair do Queensrÿche em 2012, quem mais saiu perdendo foi a música. A união da voz de Tate com a técnica dos demais integrantes sempre foi algo que impressionou demais os privilegiados que puderam presenciar uma apresentação ao vivo da formação clássica do grupo norte-americano.

Sem Tate, a parte técnica instrumental permaneceu intacta atualmente, já que Michael Wilton e Mike Stone continuam com guitarras incríveis, que já foram ainda mais incríveis quando Chris DeGarmo fez parte da formação clássica do grupo.

Nos vocais, o Queensrÿche teve a sorte de encontrar desde 2012 o competente Todd La Torre, que, ao vivo e nas canções mais clássicas, não compromete e mostra também seu talento.

Completam atualmente a banda o eterno baixista Eddie Jackson e a grata novidade Casey Grillo (ex-Kamelot), que também deixou uma ótima impressão em São Paulo. Com seus cabelos esvoaçantes movidos por dois ventiladores ao lado da bateria e com uma técnica impactante, ele chamou a atenção em meio às guitarras marcantes do Queensrÿche.

No repertório, alguns dos sucessos históricos da banda, como “Operation: Mindcrime”, “Walk in the Shadows”, “I Don’t Believe in Love”, “Empire” e “Eyes of a Stranger”, emocionaram os amantes da banda e fizeram valer demais a escalação do grupo no Monsters of Rock.

Opeth e Stratovarius mereciam um horário melhor

Há dificuldades para realizar um festival com sete bandas numa arena que tem horário para término de shows às 23 horas para não incomodar os moradores da região. Com isso, não há outra alternativa a não ser escalar uma parte dos grupos para tocar a partir do fim da manhã.

O horário das 11h30 para o Stratovarius abrir o Monsters of Rock foi ingrato para a banda e para o público. No meio da apresentação do grupo finlandês, o Allianz Parque ainda estava com o público muito abaixo do merecido para a banda, com muita gente nas filas em volta da arena palmeirense.

A despeito deste detalhe importante, o Stratovarius entregou um show de qualidade no qual alguns dos seus principais sucessos foram contemplados. A primeira do dia “Forever Free” e a última da apresentação “Hunting High and Low” são faixas que marcaram o heavy metal e, em qualquer show, já elevam a nota. Sorte de quem conseguiu ver!

Quanto ao Opeth, a apresentação do grupo sueco aumentou em responsabilidade não somente pelo horário ingrato, mas também pelo show bem feito do Stratovarius.

Com um tipo de som mais arrastado do que o da banda anterior, o Opeth foi uma boa surpresa para muitos fãs que não conheciam ainda o som da banda.

Para alguns, o grupo deveria ter tocado antes do Stratovarius para preparar melhor o terreno do Monsters.

Ainda assim, foi uma experiência válida ver a banda tocando “§1” e “Deliverance”.

Para relembrar bons momentos do Monsters of Rock de 2025, o Roque Reverso descolou vídeos no YouTube, alguns deles filmados pelo próprio veículo de imprensa. Confira o set list de todas as apresentações neste link e veja abaixo vídeos selecionados.




















Monsters of Rock comemora 30 anos com Scorpions sexagenário, Judas Priest imponente, Europe feliz, Savatage triunfal e Queenrÿche técnico