O guitarrista Filipe Cirilo praticamente não conhecia nada de Velhas Virgens antes de mandar o vídeo que lhe assegurou um teste e permitiu sua entrada na banda paulistana. Vindo da zona leste de São Paulo, o músico de 25 anos toca ainda em grupos de classic rock e desenvolve um trabalho próprio com o irmão, mas não vivia de música.
Então o emprego de técnico de ar-condicionado que lhe garantiu o sustento nos últimos quatro anos virou fumaça em 2014. Até que, diante da complicada situação financeira, um amigo cantou a bola que a banda estava procurando um guitarrista e ele resolveu arriscar, mesmo sem conhecer bem o repertório.
Talvez, Filipe não pudesse ser considerado o candidato mais provável quando os testes começaram, mas a química rolou na prática e o fato é que, no dia 31, Filipe Cirilo fará seu show de estreia com as Velhas, ocupando o lugar de Roy Carlini, que deixou a banda no fim do ano passado.
Atendendo a um pedido do Roque Reverso, Filipe gentilmente respondeu a uma entrevista por e-mail.
Na troca de mensagens, o guitarrista declarou-se torcedor-padrão do tricolor do Jardim Leonor: “Torço para o São Paulo, mas não sou muito fanático por futebol. Meu esporte de coração é o…”.
Não, não é golfe nem tênis. Filipe é aficionado por skate. Começou a tocar guitarra ainda criança – “acho que desde os nove anos” -, depois de ver Kerry King (Slayer) em um clipe na MTV e declarou inspirar-se em um caldeirão de influências ecléticas, de David Gilmour a Dimebag Darrell, passando por Jimi Hendrix, Johnny Marr e Eddie Van Halen.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
Roque Reverso – Filipe, você já conhecia o pessoal da banda antes?
Filipe Cirilo – Não conhecia os caras pessoalmente. Fui num show deles uma vez na Virada Cultural. Não lembro o ano, mas foi na época que eles estavam fazendo a turnê acústica. Não foi uma experiência muito boa pra mim, pois eu estava num lugar ruim pra assistir, carregando o isopor das brejas. Nem sabia que eles iam tocar e não prestei muita atenção.
RЯ << – Você já tocava em alguma banda no circuito?
Cirilo – Desde os 15 anos vinha tentando tocar nas noites de São Paulo. De uns tempos pra cá comecei a ter espaço. Toco em bandas de classic rock e numa banda com meu irmão de composição própria.
RЯ << – Quem cantou a bola sobre o concurso na internet?
Cirilo – Este fim de ano pra mim foi roça porque me mandaram embora do trampo. Trabalhava como técnico de ar-condicionado fazia quatro anos, mas aí não sabia o que iria fazer. Estava tentando dar aulas de guitarra, mas pra arrumar algo no fim de ano tava difícil. Foi quando um camarada me mandou o link das Velhas procurando um novo guitarrista. Ele falou: “Manda, cara, você está desempregado. Quem sabe?”
RЯ << – Você esperava ser chamado pro teste?
Cirilo – Entrar na banda das Velhas nunca esteve nos planos. Nunca imaginei isso. Mandei o vídeo, mas nem esperava ser chamando. Tem tanto músico bom que eu mandei e desencanei. Até que depois de uma semana chegou um e-mail deles me chamando pra uma audição. O coração disparou. Pensa, é domingo depois do jogo da 17 horas na TV e você recebe uma notícia dessas? Aí foi foda. Fiquei sem dormir até o dia do teste.
RЯ << – Como foi o clima no teste?
Cirilo – Cheguei lá em danger, trocando os nomes dos caras, mas eu estava confiante. Quando acabou meu teste (eu fui o primeiro) saí do estúdio e pensei: ”esse trampo é meu”! No mesmo dia até sonhei com o (Fernando) Banas me ligando. Fiquei sem dormir por mais um dia só olhando o celular e nada de ninguém ligar, mas estava confiante ainda! Até que umas 11 horas da manhã, um dia após o teste, recebo um e-mail do Paulão me chamando pra banda e já ir viajar com eles dois dias depois pra conhecer o esquema. Cara, quase sofri um AVC, uma emoção muito grande.
RЯ << – Qual a expectativa para a estreia no palco?
Cirilo – Na real, ainda não caiu a ficha que hoje vou tocar com os caras, que é uma banda conceituada no Brasil e no cenário do rock, pois acho que todo cara que gosta de tocar de verdade sonha em viver de música. Sofremos altos perrengues gastando grana com equipamento, às vezes pagando pra tocar numas casas e muita gente acaba desistindo. Sabia que uma hora meu dia iria chegar e alguém fosse me dar pelo menos uma oportunidade de mostrar meu trabalho como músico. Só tenho a dizer: tô feliz pra porra, vou trampar com o que eu mais amo e vou tomar muita cerveja!