
Por Marcelo Moreira, do blog Combate Rock
Jogada de marketing ou tardia disputa pelo poder em uma banda veteraníssima do rock? A surpreendente demissão do baterista Zak Starkey de The Who e a mais surpreendente ainda “recontratação” se transformaram em uma das confusões mais estranhas dos últimos tempos no show business e colocou em dúida a própria continuidade das atividades da banda inglesa, que está há 63 anos nos palcos.
O guitarrista Pete Townshend demorou demais a se manifestar e, quando o fez, tratou de tentar esclarecer as coisas: não houve demissão, não houve desentendimento, apenas um problema de comunicação – ou melhor, de falta de comunicação.
Zak Starkey, filho do ex-beatle Ringo Starr, continuava como baterista do Who, posto que ocupa desde 1996.
“Não entendo como as coisas ganharam tamanha proporção por conta de uma questão simples e pequena”, escreveu o guitarrista em uma rede social.
Portanto, diz ele, nada muda na banda de apoio do Who, oficialmente integrado por Townshend e Roger Daltrey, o vocalista. Os dois são os fundadores e remanescentes da formação clássica.
A situação ridícula teve origem na apresentação do Who neste ano, em março, no Royal Albert Hall, em Londres , durante o evento anual da Teenage Cancer Trust, entidade beneficente da qual Daltrey é patrono.
Durante o show, Daltrey reclamou publicamente do som da bateria e disse que não conseguiria cantar uma música por “não ouvir a tonalidade da música”.
Após o show, teria havido mais discussões a respeito nos bastidores, deixando um clima insustentável para a permanência do baterista.
Curiosamente, o anúncio oficial da demissão só veio quase um mês depois do show, e foi feito por um funcionário da organização que gerencia o Who, com direito a nota oficial “agradecendo pelos 29 anos de parceria, mas que agora as duas partes seguiriam caminhos separados”. Até então Townshend não tinha se manifestado.
A reversão da demissão revela que há um impasse sobre a própria continuidade do Who.
Os dois líderes divergem em relação a manter a atividade nos palcos – são octogenários – e também em relação à banda de apoio que toca com eles.
Daltrey, notório rabugento, conseguiu, ao longo do tempo, trocar integrantes e colocar músicos de sua confiança, de suas bandas solo.
Foi assim lá em 2010, quando forçou a saída do tecladista John “Rabbit” Bundrick, amigo de Townshend, que aceitou sem contestar.
E foi assim também em 2016, quando o baixista Pino Palladino deu lugar ao jovem Jon Button.
Seja como for, não faz o menor sentido dois velhos rabugentos brigarem por poder em uma banda clássica e mágica, mas que está à beira da aposentadoria.

