Por Marcelo Moreira, do blog Combate Rock

Quando a ópera-rock “Tommy” virou musical e peça teatral em Londres, em 1972, Elton John, então o cantor mais influente daqueles tempos, vaticinou que aquilo era ápice dos exageros” do rock e do entretenimento. Mal sabia ele que, três anos depois, ele seria um dos astros que integraria o file baseado na maravilhosa obra do grupo The Who.

A megalomania era a tônica dos anos 70 no rock dois lados do Oceano Atlântico, com produções cada vez mais caras e shows cada vez maiores, mais tecnológicos e mais caros.

Era, então, natural que o Who, uma das quatro bandas que mais vendiam ingressos no mundo em 1975, aceitasse o desafio de transformar sua obra mais famosa em um longa-metragem musical.

“Tommy”, o filme, dirigido pelo não menos megalomaníaco Ken Russell, está fazendo 50 anos de seu lançamento em 2025.

Não ganhou prêmios expressivos, mas virou u marco nos musicais de rock no cinema e referência estética e de texto para as muitas produções do gênero que vieram em seguida.

Além disso, deu o pontapé inicial para a carreira nas telas do cantor Roger Daltrey, a voz estupenda de The Who.

Considerada a primeira ópera-rock – apesar da polêmica com “S. F. Sorrow”, dos Pretty Things, e de “Arthur”, dos Kinks -, “Tommy” nasceu da megalomania do guitarrista e vocalista inglês Pete Townshend, que experimentara o formato opereta em1955 e 1967, com as canções “A Quick One, While He’s Away” e “Rael”.

Pressionado a compor um grande sucesso comercial para a amenizar as dívidas e os riscos de falência da banda, Townshend, o principal compositor do Who, radicalizou e elaborou o projeto arriscado da ópera-rock por excelência em meados de 1968.

Mesmo com o ceticismo dos companheiros de banda e dos empresários, o guitarrista foi em frente para escrever a saga do menino cego, surdo e mudo qu se torna campeão mundial d fliperama por conta de sua sensibilidade e, depois de curado, graças a “uma iluminação mística”, se torna o líder de uma seita religiosa mundial.

No começo, ninguém entendeu a história, mas Ki Lambert e Chris Stamp, os empresários abraçaram a ideia depois de conversarem com muita gente do meio artístico, perceberam que o projeto estapafúrdio gerara curiosidade e expectativa.

O álbum duplo em vinil se tornou um sucesso mundial logo em seu lançamento, em meados de 1969, e cativou as plateias no mundo todo.

Parte do disco foi tocado ao vivo no festival de Woodstock, em agosto daquele ano, e estacionou por muito temo no topo das paradas, tornando-se o maior sucesso comercial da banda.

Em 1972, um musical foi encenado em Londres, sendo que a versão gravada em LP simples contou com a participação de Rod Stewart como o personagem “Pinball Wizard”, que cantou a canção homônima. Como sucesso dessa versão teatral, pensar em um filme foi o passo seguinte.

A produção demorou e ficou cara, mesmo com m orçamento generoso.

Depois de vários testes com atores diversos, o vocalista do Who, Roger Daltrey, bateu o pé e exigiu ser o ator principal. Foi uma das poucas derrotas de Ken Russell, que considerava o cantor amador, inexperiente e baixinho.

No entanto, impôs o casal central da trama, os pais de Tommy, o encrenqueiro inglês Oliver Reed, que não sabia cantar, e a diva sueca Ann Mrgret, ótima atriz e boa cantora.

Também convenceu Jack Nicholson a fazer uma ponta.

Entre os músicos, Tina Turner brilhou como Acid Queen, cantando a música de mesmo nome e interpretando a prostituta que tenta curar Tommy.

Eric Clapton interpreta o pastor cantando “Eyesight to the Blind” – na sua única cena, entra na igreja acompanhado pelos outros três músicos do Who.

O baterista da banda, Keith Moon, aparece como Uncle Ernie, o tio que abusa fisicamente e espanca Tommy.

As gravações foram tensas, com várias brigas entre Pete Townshend e Ken Russell, que exigiu pelo menos mais duas músicas adicionais para “melhorar o roteiro”. O guitarrista compôs a contragosto.

Mas o que pegou mesmo foi uma mudança em relação texto original.

No álbum, Tommy fica cego, surdo e mudo ao presenciar o pai matar o amante da mãe ao voltar da guerra – até então tinha sido dado como morto.

No filme, Russell convenceu a todos a inverter a questão – o amante mata o pai de Tommy assim que ele volta da guerra.

No final, Daltrey foi elogiado por seu desempenho e o filme teve bom desempenho de bilheteria.

O LP duplo com a trilha sonora também vendeu bastante, provando que “Tommy” era uma mina de dinheiro, tanto que gerou mais uma série de musicais na Broadway, em Nova York e em Londres, além de álbuns ao vivo gravados pelo próprio Who no futuro.

‘Tommy’, marco dos filmes musicais de rock, completa 50 anos