A banda Lucifer voltou a São Paulo para show realizado no Fabrique Club no domingo, 6 de outubro. Com a casa abarrotada de fãs dedicados, o grupo liderado pela vocalista alemã Johanna Sadonis e pelo baterista sueco Nicke Andersson (vocalista do The Hellacopters) trouxe uma apresentação coesa, marcante e candidata a melhor show de rock do ano na capital paulista.

Cada vez mais cultuado na cena do rock pesado a cada novo álbum lançado, o Lucifer retornou ao Brasil pela turnê de divulgação do disco “Lucifer V” que chegou aos fãs em janeiro de 2024.

A parte latino-americana da Satanic Panic Tour passou no dia anterior no Rio de Janeiro e também contou com data marcada em Belo Horizonte no dia 8 de outubro. Além dos 3 shows no Brasil, o grupo passou antes por Buenos Aires (Argentina) e Santiago (Chile) e tem apresentações na sequência confirmadas para Bogotá (Colômbia), Monterrey e Cidade do México (México), além de San José, na Costa Rica.

Show do Destruction na mesma data

Os amantes da boa música pesada tiveram que passar por uma difícil escolha no domingo em São Paulo. Tudo porque, além da apresentação do Lucifer no Fabrique Club, havia uma outra opção excelente na mesma cidade e a poucos quilômetros da Barra Funda.

No bairro de Pinheiros, nada menos que o veterano grupo Destruction tocou na mesma noite no Carioca Club. Além do show fazer parte da turnê comemorativa de 40 anos da banda alemã de thrash metal, haveria a gravação de um videoclipe com os fãs brasileiros.

No fim, prevaleceu por parte da reportagem do Roque Reverso a opção de assistir ao show do grupo mais novo, o Lucifer, que vem sendo apontado como “sensação” do underground, mas com um potencial para atrair fãs de outras correntes musicais, algo importante para o rock numa época na qual o estilo está longe de ser popular entre as gerações mais novas.

O grande show do Lucifer

A apresentação do Lucifer começou, como estava previsto, por volta das 20h30 do domingo. De maneira pesada e impactante, a banda tocou de início a música “Crucifix (I Burn for You)”, do álbum “Lucifer IV”, de 2021.

Logo de cara, o entrosamento da banda e o peso ao vivo chamaram a atenção de maneira altamente positiva.

Influências musicais geralmente citadas por integrantes do grupo, como Black Sabbath, Deep Purple, Blue Öyster Cult e Heart, são facilmente perceptíveis e condensadas num som encorpado e moderno, apesar das claras referências setentistas.

Do álbum “Lucifer III”, o grupo toca logo em seguida as faixas “Ghosts” e “Midnight Phantom”, para encanto da plateia, totalmente vidrada na performance dos músicos.

Além de Johanna Sadonis e Nicke Andersson, os demais membros da banda mostram entrosamento e técnica musical que justificam o sucesso de crítica e público dentro do rock pesado.

Os suecos Martin Nordin (guitarra), Linus Björklund (guitarra) e Harald Göthblad (baixo) trazem o peso necessário para que o som do grupo, uma mistura de hard rock, doom metal e occult rock, caia de maneira satisfatória nos ouvidos dos fãs.

Na sequência, a banda trouxe a música “Dreamer” do disco “Lucifer II”.

Johanna Sadonis é a figura central e fundamental da banda. Com uma presença impactante no palco, ela olha diretamente para pessoas da plateia como se tentasse hipnotizar o público, já envolvido pelo som do grupo.

Com o olhar penetrante e a categoria vocal de Johanna, é impossível não lembrar de outros vocais femininos históricos do rock, como o das bandas Heart e The Runaways. Desfilando uma classe que impressiona, ela consegue cativar o público do início ao fim do show.

“A Coffin Has No Silver Lining” é a primeira da noite do álbum “Lucifer V” e mostra o quanto a banda evoluiu numa tendência crescente de bons discos.

O show continua com “Wild Hearses”, do disco “Lucifer IV”. E as “guitarras sabbatianas” fazem brilhar os olhos dos fãs da banda do mago da guitarra Tony Iommi, que ficaria orgulhoso de ver sua influência ser passada para frente com qualidade musical.

A quadra matadora com as faixas “Fallen Angel”, “At the Mortuary”, “The Dead Don’t Speak” e “Slow Dance in a Crypt”, todas do mais recente álbum, é um dos melhores momentos do grande show do Lucifer, com destaque maior para a segunda música, que já é uma das melhores da carreira da banda.

“Bring Me His Head”, do disco “Lucifer IV” fechou a primeira parte da apresentação, com a plateia já quase de joelhos, agradecendo estar presenciando um dos grandes momentos da música em São Paulo em 2024.

De volta ao palco para o bis, eis que a banda, sem a vocalista, emenda nada menos que a introdução de “I Want You (She’s So Heavy)”, dos Beatles, numa versão pesada e que só músicos corajosos e competentes ousam fazer de uma faixa da maior banda da história da música.

Já com Johanna Sadonis de volta ao palco, o Lucifer emendou “Maculate Heart”, que é uma das melhores do mais recente disco da banda. Não por acaso, foi uma das faixas mais cantadas pelo público durante a apresentação.

“California Son” e “Reaper on Your Heels”, do álbum “Lucifer II”, fecharam o grande show da banda no Fabrique.

A apresentação até poderia ser um pouco mais longa, mas, talvez, a estratégia de deixar a plateia com gosto de “quero mais” seja aceitável, se o grupo não demorar demais para retornar ao País.

Com o fim do show, a sensação foi a de que um grupo com grande potencial de trazer um bom número de novos fãs para o rock está aí pronto para que rádios, produtores de festivais e veículos da imprensa especializada ajudem a difundir sua música.

É muito de se estranhar a ausência do Lucifer na programação normal das rádios de rock brasileiras e nos grandes festivais do País. O rock precisa de grupos como este para retomar seu protagonismo na juventude, hoje mais voltada a estilos musicais de qualidade duvidosa.

Enquanto a banda não é difundida como merece, os sortudos que presenciaram os shows no Brasil permanecem, por enquanto, como seres privilegiados.

Para relembrar o show do Lucifer em São Paulo, o Roque Reverso trouxe vídeos do YouTube, a maiora filmada pelo próprio site.







Set list

Crucifix (I Burn for You)
Ghosts
Midnight Phantom
Dreamer
A Coffin Has No Silver Lining
Wild Hearses
Fallen Angel
At the Mortuary
The Dead Don’t Speak
Slow Dance in a Crypt
Bring Me His Head

I Want You (She’s So Heavy)
Maculate Heart
California Son
Reaper on Your Heels

Banda Lucifer faz show candidato a melhor do ano em São Paulo

Flavio Leonel/Roque Reverso