KISS em SP - FL3

Por Marcelo Moreira, do blog Combate Rock

O mercado de shows e entretenimento terá um “repique” de efeitos da pandemia de covidi-19 três anos depois. Essa é uma das leituras que estão sendo feitas por conta dos surpreendentes cancelamentos de turnês nacionais das cantoras Ivete Sangalo Ludmilla, a cargo da empresa 30e, que surgiu com força no mercado.

No jargão econômico, seria o “estouro” da bolha, algo parecido com o que ocorreu nos Estados Unidos, e o mundo, em 2008, quando uma grave financeira surgiu por conta dos valores inflados de imóveis, os chamados investimentos em subprime.

Depois do pânico social e econômico que veio com a pandemia do vírus mortal, o setor de entretenimento parecia se recuperar lentamente, especialmente na área de shows grandes.

A partir de 2022, uma demanda represada e ansiosa por espetáculos grandiosos parecia indicar o fim da crise, com o público voltando a consumir e esgotar ingressos caros e eventos enormes, como Lollapalooza, The Town, Rock in Rio, Summer Breeze e turnês e artistas que lotam estádios, como Iron Maiden, Paul McCartney e Roger Waters.

O auge, quem diria, também seria o início da derrocada. Foi a megaturnê “Titãs Encontro”, com os ex-integrantes se juntando ao trio remanescente para encher estádios pelo Brasil – na esteira vieram alguns astros sertanejos, a despedida do Skank e a ressurreição das bandas emo de rock dos anos 2000.

No centro da bolha está a empresa 30e, que surgiu em 2021, o ano da pandemia, como uma potência no mercado e agendando turnês imensas com os melhores artistas. Isso era possível graças ao aporte de dinheiro de investidores.

Depois de um ano frenético, parece que o ânimo arrefeceu e as venda de ingressos a partir deste segundo trimestre de 2024 decepcionaram em todos os sentidos, talvez exceto no caso do Rock in Rio. Não são poucos os empresários e artistas de grande e médio portes surpresos com vendas abaixo do esperado.

As vendas antecipadas baixíssimas de ingressos para as extensas turnês de Ludmilla e Ivete são o principal sintoma da doença: a bolha estourou porque, finalmente, o público em geral parece exaurido, com a carteira vazia para sustentar tantos eventos de grande porte.

Com a “quebra” das duas turnês, ficou evidente que o ambiente estava superestimado graças ao estrondoso sucesso dos Titãs reunidos. E aí as coisas começaram a desmoronar.

As notas oficiais das duas artistas não tocam no essencial – a falta de planejamento e a falta de percepção de um mercado em baixa. Preferiram culpar “problemas de estrutura e infraestrutura dos promotores da turnê”.

Todo mundo errou, e isso terá consequências.

Ainda é cedo para saber quais as mudanças que esse fato triste trará para o mercado nacional como um todo. Há quem aposte em mudanças profundas nos próximos três anos. Serão importantes, mas não podemos cravar quais serão e sua extensão. É importante, neste momento, estudar a fundo o caso 30e e entender quais foram os erros de planejamento e de perspectivas.

Para quem se interessa pelo assunto, o jornalista Sergio Martins publicou no site da Billboard Brasil interessante relato com informações de bastidores sobre a crise que envolveu as cantoras Ivete Sangalo e Ludmilla.

Mercado de shows: o estouro de uma bolha que demoliu grandes sonhos